20 Dezembro 2013
A reforma da Cúria é um trabalho longo que requer muito tempo, dissera o Papa Francisco no domingo na longa entrevista concedida à imprensa. Enquanto isso, pode-se pôr as mãos na organização dos vários dicastérios. Foi o que aconteceu na segunda-feira com a poderosa Congregação para os Bispos, aquela que supervisiona a escolha dos pastores a serem enviados para guiar as dioceses.
A reportagem é de Matteo Matzuzzi, publicada no jornal Il Foglio, 18-12-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"A mais importante de todas", disse ao New York Times o jesuíta Thomas Reese, ex-editor da revista liberal da Companhia de Jesus, America. Exclusões e ingressos que indicam claramente qual é a missão que Francisco pretende dar para a Congregação.
Para fora, o cardeal Mauro Piacenza, conservador formado na escola genovesa de Giuseppe Siri. Para ele, depois da transferência de setembro passado da Congregação para o Clero para o papel de Penitenciário-Mor (uma diminuição evidente, já que eram geralmente designados a esse cargo prelados já próximos da aposentadoria), trata-se de mais uma redução.
Também foi substituído Angelo Bagnasco, presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI). Em seu lugar, entra Gualtiero Bassetti, arcebispo de Perugia, que é vice-presidente da CEI.
Para dentro, o arcebispo emérito de Ferrara-Comacchio, Paolo Rabitti, próximo da Ação Católica e de orientação oposta à de Bagnasco e Piacenza.
Mas a remoção que faz mais barulho é a do cardeal norte-americano Raymond Leo Burke, prefeito da Signatura Apostólica. Dos EUA, vem o cardeal Donald Wuerl, arcebispo de Washington, bem distante das posições conservadoras e próximas aos tradicionalistas de Burke. Há muito tempo, Burke, eminente canonista, está em rota de colisão com a linha levada adiante por Francisco.
O ponto de ruptura é o convite papal a não fazer dos chamados princípios inegociáveis o eixo da agenda pastoral. Temas como o aborto, a eutanásia, o casamento homossexual devem ser abordados apenas dentro de um determinado contexto, não é preciso repetir todos os dias qual é a posição da Igreja, dizia Bergoglio.
É indispensável, acrescentava o pontífice nas suas entrevistas, não ficar obcecado com referências à batalha em defesa da vida humana. Ainda no meio do verão europeu, conversando com uma revista católica de Minneapolis, Burke explicava como era necessária "uma atenção muito mais radical à catequese" para evitar a "destruição da família e do indivíduo", levada adiante por aqueles que se mancham com "ações imorais". O purpurado norte-americano contestava aquele "falso senso de diálogo que se infiltrou na Igreja" e que "reconhece publicamente aqueles que apoiam violações abertas à lei moral".
Há alguns dias, além disso, falando à rede norte-americana EWTN, Burke dobrava a dose. Questionado sobre a exortação Evangelii gaudium, o cardeal dizia que esse documento "não pode ser considerado ensino oficial da Igreja". Ouvindo o papa, ele acrescentava, "tem-se a impressão de que ele pensa que estamos falando muito sobre o aborto, a integridade do matrimônio entre homem e mulher. Mas nós nunca poderemos falar o suficiente disso. Estamos literalmente na presença de um massacre dos nascituros".
Muito próximo de Bento XVI, Raymond Burke era muito escutado por Ratzinger, especialmente com relação às nomeações dos prelados norte-americanos: de Charles Chaput, para Filadélfia, até William Lori, em Baltimore, a sua mão era mais do que evidente. O vaticanista John Thavis, por muito tempo editor-chefe do escritório romano do Catholic News Service, definiu como "incomum" a escolha de substituir Burke, até porque o alto prelado tem apenas 65 anos e tinha entrado há pouco tempo na Congregação para os Bispos.
John Allen, vaticanista do National Catholic Reporter, explica que a remoção do prefeito da Signatura e a simultânea promoção de Wuerl é um claro sinal de que tipo de bispo Francisco espera para a Igreja norte-americana: mais moderado e flexível, e menos propenso a batalhas públicas nos púlpitos das catedrais.
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Papa remove conservadores do dicastério para os bispos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU