21 Outubro 2014
"A questão da pastoral às pessoas divorciadas e em segunda união e o aprofundamento sobre a possibilidade de admiti-los aos sacramentos" permanece "aberta", porque foi citada no texto final submetido à votação do Sínodo que foi tornado público.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no jornal La Stampa, 20-10-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A afirmação, nesta conversa com La Stampa, é do cardeal Luis Antonio Tagle, 57 anos, arcebispo de Manila, um dos presidentes delegados da Assembleia sobre a família que terminou no último sábado.
O purpurado filipino, uma das figuras mais significativas da Igreja asiática, também negou que o fato de não se ter alcançado o quórum de dois terços sobre alguns pontos possa ser lido como uma "derrota" do Papa Francisco.
Eis a entrevista.
Alguns jornais, em particular do mundo anglo-saxão, depois da votação de sábado sobre o documento final do Sínodo, falaram de uma Igreja dividida e de um papa "derrotado". É isso?
Não é verdade. A meu ver, de fato, não foi uma derrota. Não acredito que se possa definir assim o que aconteceu com a votação sobre a Relatio Synodi. Em um processo sinodal, os elementos mais importantes são a escuta e a liberdade de expressar as diversas opiniões sobre as situações que se apresentam. O Sínodo não é uma batalha nem o fruto de uma estratégia. Talvez, para alguns, talvez, também pode ter sido isso, mas essa não é a perspectiva do Sínodo.
Questões como a possível admissão dos divorciados em segunda união aos sacramentos, que obtiveram a maioria absoluta, mas não o quórum de dois terços, permanecem abertas, na sua opinião?
Sim, é claro que permanecem abertas. Esse Sínodo extraordinário era apenas uma etapa do caminho. A questão da pastoral em relação às pessoas divorciadas em segunda união e o aprofundamento sobre a possibilidade de admiti-los aos sacramentos, em certos casos, em certas situações e em determinadas condições, foi relatada claramente no texto final. Foi tornado público o número dos votos que esse parágrafo obteve, a maioria absoluta. E, como disse o papa, fará parte do texto que será enviado às Conferências Episcopais.
Qual foi o objetivo dessas duas semanas de trabalho?
Serviram para trazer à tona o estado das coisas e os problemas existentes. Eu, que era um presidente delegado da assembleia, já no segundo dia de trabalhos, me transformei em um aluno! Ouvimos os desafios pastorais que afetam os outros países e os outros continentes, por exemplo a África, e humildemente devo admitir: não entendo tudo, devo ouvir e aprender...
O papa, no seu discurso final de sábado, muito aplaudido na Aula, falou de várias "tentações", do "enrijecimento hostil" daqueles que querem se fechar dentro da lei, ao "bonismo destrutivo". O que prevaleceu?
A meu ver, na Aula, prevaleceu uma sensibilidade e uma atenção comuns às feridas das famílias. Não havia nem um único padre sinodal que não tentou responder. Mas é preciso considerar o mistério da fé, a palavra do Senhor, a riqueza da tradição... É uma realidade complexa, como um diamante com muitas facetas: alguns veem uma face, outros, outra. Mas há uma verdade profunda que une a todos nós: todos tentamos seguir o nosso pastor supremo, que é Jesus Cristo.
De acordo com o senhor, alguns tentaram envolver o Papa Emérito Bento XVI na revolta contra Francisco?
Eu não senti isso. E, se houve, eu não faço parte.
Quais são os desafios para a família que a Ásia trouxe ao Sínodo?
Eu falo das minhas Filipinas. Já durante a fase preparatória, eu falei muitas vezes de uma pobreza e do fenômeno da emigração: duas realidades que não pertencem apenas ao contexto das famílias, que entraram no coração da vida das famílias. No nosso país, não há a lei sobre o divórcio. Mas há divórcios por amor. Pais e mães que, por amor aos filhos, se separam, e um cônjuge vai ao outro lado do mundo para trabalhar. São separações causadas pelo amor. Como Igreja nas Filipinas e nos países onde os imigrantes chegam, devemos acompanhar essas pessoas, ajudá-las a serem fiéis à sua esposa ou ao seu marido.
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''Sacramentos aos divorciados? Uma questão ainda em aberto.'' Entrevista com Luis Antonio Tagle - Instituto Humanitas Unisinos - IHU