21 Março 2014
Na Philosophisch-Theologische Hochschule dos palotinos de Vallendar (PTHV), na Alemanha, existe desde 2005 o Instituto Cardeal Walter Kasper. Lá, Kasper proferiu a conferência de abertura de um simpósio de três dias sobre o tema da escatologia.
A reportagem é de Winfried Scholz, publicada no jornal Rhein Zeitung, 19-03-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Na sua opinião, o que podemos esperar do novo papa, com relação a inovações concretas ou reformas?
Eu conheci o cardeal Jorge Mario Bergoglio por ocasião das minhas inúmeras visitas a Buenos Aires. Fiquei muito impressionado com a autenticidade da sua pessoa. Ele põe em ação um estilo baseado na franqueza. Ao mesmo tempo, ele volta com grande radicalidade ao centro do Evangelho. Ele não quer mudar a doutrina da Igreja, quer mudar a vida dos fiéis a partir do Evangelho.
Eu tenho a impressão de que muitas pessoas entendem, aprovam e estão entusiasmadas com isso. O papa já introduziu muitas reformas na Cúria, por exemplo, no sistema econômico e financeiro. Muito mais importante, porém, é a renovação espiritual. O papa quer uma Igreja missionária, não centrada em si mesma, mas que saia e vá ao encontro das necessidades das pessoas de hoje.
Um ponto central da sua atividade teológica, por exemplo como presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, tem a ver com o ecumenismo. O que podemos esperar do novo papa sobre esse tema?
Em Buenos Aires, o papa já tinha ótimas relações tanto com os luteranos quanto com os cristãos ortodoxos. Ele quer uma Igreja que expresse uma diversidade reconciliada. Nisso, ele parte do coração do Evangelho e da fé em Jesus Cristo. Acolhe afirmações fundamentais de Lutero, sem renunciar nada da fé católica.
Sobre o tema da atitude para com os divorciados em segunda união, o senhor disse recentemente em uma entrevista que a Igreja Católica deve estar próxima dos casais que fracassaram. As pessoas que se afastaram da Igreja Católica por causa da sua posição sobre esses problemas podem alimentar esperanças em uma mudança de linha?
O mais importante é que começou uma discussão séria sobre o problema dos divorciados em segunda união. Espero que, no fim, se esclareçam as aberturas. Com isso, não se quer fazer uma adaptação à situação atual, mas sim afirmar que Deus é misericordioso para com o homem em todas as situações e torna possível uma nova chance.
As feridas do escândalo dos abusos ainda não estavam curadas e, enquanto isso, os acontecimentos relacionados com a reconstrução da residência episcopal de Limburg, especialmente os custos muito elevados, agravaram ainda mais a imagem da Igreja Católica junto à opinião pública. Outras pessoas deixaram a Igreja. As pessoas que lá trabalham como voluntárias também sofreram com isso. Qual é a sua posição sobre essa questão?
Aqui, os problemas são dois. De um lado, é preciso reconhecer uma maior justiça com relação ao bispo de Limburg, que muitas vezes foi tratado injustamente na opinião pública. Igualmente importante é a questão de como as coisas podem seguir em frente concretamente na diocese de Limburg. Eu não posso antecipar o julgamento do papa, mas acho que é necessário começar de forma diferente e espero que haja uma decisão nesse sentido ainda antes da Páscoa.
Talvez se estaria pensando em dissolver a diocese de Limburg, constituída em 1827?
São rumores sem fundamento.
A Igreja Católica alemã sofre de uma forte carência de padres. Espera-se que os padres trabalhem muitas vezes até o limite das suas capacidades. Em algumas paróquias, há padres estrangeiros que asseguram a pastoral. O que a Igreja Católica – na Alemanha ou em Roma – pode fazer contra a falta de padres?
Onde há boas comunidades e paróquias, também surgem vocações ao presbiterado. É preciso enfrentar o problema na raiz. Onde se difunde a alegria da fé e da Igreja, encontram-se também jovens que querem assumir o serviço presbiteral. Não é a primeira vez que se vive na Igreja o problema da crise do presbiterado e do celibato. Tais crises só puderam ser superadas com uma renovação abrangente da fé.
Que expectativas o senhor tem com relação ao presidente da Conferência Episcopal Alemã recém-eleito, o cardeal Reinhard Marx?
O cardeal Marx é considerado um conservador, mas é um conservador aberto ao diálogo. Tenho confiança de que ele será capaz de reunificar mais a Igreja na Alemanha e que, principalmente, poderá representar muito bem a Igreja diante da opinião pública. E que deixará claro tudo o que há de positivo na Igreja na Alemanha.
Muitas vezes o senhor é convidado aqui a Vallendar, o que muitos observam com alegria e orgulho. Há cerca de um ano, o senhor festejou aqui o seu 80º aniversário. Em 2005, foi fundado o Instituto Cardeal Walter Kasper. Como o senhor estreitou laços tão íntimos com a Hochschule dos palotinos de Vallendar?
O meu último doutorando foi um palotino de Vallendar, que fundou esse instituto com muito entusiasmo. Trata-se do atual diretor do Instituto, o Prof. Dr. George Augustin. Enquanto isso, o instituto teve uma notável participação. Eu mesmo descobri como o fundador Vicente Pallotti é importante para hoje. Ele foi um dos primeiros a descobrir a importância dos leigos, e viveu e difundiu ideias ecumênicas em Roma, ainda antes de que se falasse de ecumenismo. Foi um dos padres fundadores do ecumenismo, e isso em Roma, ainda no fim do século XIX.
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''Francisco põe em ação um estilo baseado na franqueza.'' Entrevista com Walter Kasper - Instituto Humanitas Unisinos - IHU