10 Dezembro 2014
Klaus Schwab, fundador do Fórum de Davos, não hesita um instante quando indagado sobre o que considera o mais preocupante hoje na economia mundial.
A reportagem é de Assis Moreira, publicada pelo jornal Valor, 09-12-2014.
"Sem dúvida, são as tensões sociais que vão resultar do baixo crescimento econômico no mundo no curto e médio prazo", disse ele em entrevista ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, na sede do Fórum Econômico Mundial, em Genebra, numa manhã cinzenta e fria.
Schwab aponta pelo menos três problemas que afetam as perspectivas econômicas: primeiro, ainda não foi feita a desalavancagem (desendividamento) nos países industrializados, principalmente na Europa. As dívidas pública, privada e dos consumidores juntas chegam a 250% do PIB, e isso continuará a "pesar nas nossas costas".
Além disso, aponta "uma crise de meia-idade" nas economias emergentes, o que significa entrar numa fase de menor crescimento. Dá o Brasil como "exemplo óbvio" e sobretudo a China, pelo seu peso. E, terceiro, a revolução de novas tecnologias. Diz que o mundo está só no começo do impacto da revolução da internet, da desintermediação de serviços e de mais robotização e sistemas automáticos que dispensam recursos humanos e vão destruir empregos e renda.
O presidente do Fórum projeta uma taxa de crescimento global por volta de 3% por ano, comparada a 5% antes da crise, e diz que essa diferença tem grande implicação. "Se temos crescimento de 5%, dobramos o PIB a cada 15 anos", exemplifica. "Mas, se o crescimento é de 3%, como agora, o PIB dobra a cada 24 anos. Isso tem um tremendo impacto na criação de emprego e inclusão social. Mais desigualdade global é o maior risco."
Schwab antevê uma concorrência mais forte nos negócios. "Se o bolo não cresce, as empresas vão lutar mais pelas fatias existentes", diz. Prevê que as companhias vão atuar num ambiente de mais volatilidade. Alerta que não é mais suficiente ter o conhecimento, que está hoje mais ou menos disseminado. O importante será saber interpretar esse conhecimento, para calcular e se adaptar para o futuro.
Ele tem insistido em que o mundo tornou-se mais fragmentado, mais egoísta, bem mais populista e nacionalista, e portanto mais difícil de operar. "O que temos é um crescente egoísmo. Quando se está sob pressão, a reação é proteger o que se tem. E vemos [isso] não apenas nos negócios. Talvez os empresários se tornam mais duros, mas tem a ver também com os governos. Basta ver essa falta de comunidade internacional para resolver certos desafios globais. Todo mundo está mais egoísta."
A seu ver, a desaceleração nos emergentes vai persistir por algum tempo, exigindo reações. Nota que até agora, para passar de baixa renda para média renda, a receita era subsidiar as classes pobres para integrar o mercado de consumo. Isso foi possível porque havia maior crescimento na economia global, mas não funciona mais. A nova receita é "adotar as reformas para fazer a economia a mais eficiente possível, e, segundo, atrair o máximo de Investimento Estrangeiro Direito [IED]". Para Schwab, Brasil, Índia e China ainda têm grande vantagem, pelo tamanho de seu mercado e pelo potencial para aumentar mais o consumo.
A agenda de Davos para 2015 inclui desde os temas da atualidade - perspectivas da economia, impacto da normalização da política monetária, política de câmbio, Ucrânia, Oriente Médio, indagações sobre a China como motor para a economia global - a discussões sobre impacto de nova revolução da tecnologia sobre a competitividade, a governança da internet, o novo tipo de guerra - como a praticada pelo Estado Islâmico -, clima e inclusão social.
Diante da observação de que alguns dos participantes de Davos, que vêm debater ou buscar soluções para problemas econômicos e sociais, são os mesmos que contribuem para esses problemas, Schwab retruca: "Concordo com você. Mas o Fórum de Davos não é uma assembleia de ovelhas negras. É uma assembleia de ovelhas negras e brancas, e o que tentamos fazer é transformar as ovelhas negras em ovelhas brancas".
Aos 76 anos, ele se prepara para seu 44º Fórum de Davos e, apesar de sua avaliação geral, declara-se otimista. Diz que mesmo os empresários compreendem que é necessário ter responsabilidade social, que as desigualdades têm diminuído, há melhor qualidade e esperança de vida. Mas que sobretudo dá para seguir melhorando.
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Tensões sociais devem ser tema central em Davos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU