02 Dezembro 2015
Falando para uma investigação sobre abusos sexuais infantis, Denis Hart condenou a passividade ou inatividade de seus antecessores, excetuando George Pell da crítica.
A reportagem foi publicada por The Guardian, 30-11-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
A Igreja Católica falhou em agir nesta “história de horror” dos pedófilos, contou à Comissão Real o arcebispo australiano Denis Hart.
“O que a mim fica claro agora é que havia conhecimento dos fatos e que muitas as pessoas que estavam lá falharam em agir”, disse ele.
“Ao ler as declarações das vítimas antes de vir diante xesta Comissão, fiquei chocado com a depravação dos infratores, com o sofrimento e a ruína que causaram às vidas dos sobreviventes”.
Hart afirmou que houve uma falha terrível por parte da Igreja, uma falha resultante da passividade ou inatividade de seus antecessores.
Ele excluiu, porém, o Cardeal George Pell das críticas. Pell foi arcebispo de Melbourne entre os anos de 1996 e 2001.
“Como arcebispo, ele instituiu a chamada ‘Melbourne Response’ e introduziu mudanças importantes”, declarou.
O arcebispo criticou Frank Little, arcebispo de Melbourne entre 1974 e 1996, por sua maneira de lidar com as queixas de abusos sexuais. Hart falou que houve uma falha completa no processo adotado pela arquidiocese em lidar com as queixas na Paróquia Doveton, para onde uma sucessão de sacerdotes pedófilos forma enviados. Falou que isto era responsabilidade de Little e do vigário geral da época.
“É simplesmente uma história de horror. Estas coisas aconteciam repetidas vezes, e nada era feito”.
Gail Furness, assessor que estava auxiliando a Comissão, perguntou se Hart não incluiria Pell em sua crítica, já que este era bispo auxiliar da arquidiocese entre 1987 e 1996.
“Eu esperaria que ele tivesse assumido este assunto junto do arcebispo também”, disse Hart sobre Pell. “Esperaria que ele tivesse um grau adequado de conhecimento; se Pell tinha conhecimento de todas estas coisas horríveis, que me fazem sentir envergonhado, não tenho certeza”.
Furness questionou se Pell fazia parte do fracasso completo de antes.
“Ora, ele teria de explicar o que sabia e o que não sabia, o certo é que houve uma falha na forma de lidar com os casos. Eu desconheço o que ele sabia (e o que ele não sabia). Então, eu diria que ele [Pell] teria de ser testado”.
Pell irá falar diante da Comissão Real no dia 16 de dezembro.
Estas declarações de Hart omitiram uma referência feita por um grupo de professores a Pell sobre um sacerdote pedófilo, Peter Searson, enquanto ele ainda era bispo auxiliar em 1989. Segundo ele, foi uma omissão involuntária.
“Eu não tenho desejo algum em minimizar o mal desta situação. Estas coisas continuaram por muito tempo, e pessoas foram postas em perigo”, completou.
Furness afirmou que o mal da situação se estendia para além do que Searson fez e da resposta dada pela arquidiocese.
Hart declarou: “Sim, concordamos com isso”.
A Comissão ouviu que Pell teria dito, após se reunir com o citado grupo de professores, que tudo o que poderia fazer era passar a informação adiante para o vigário geral.
Hart afirmou que ele, pessoalmente, teria agido de imediato, exigindo que Searson fosse removido por Little.
O religioso também disse que a cena de Searson mostrando um cadáver num caixão a um grupo de crianças foi “simplesmente algo maluco, psicótico”.
Hart, quem revisou os arquivos da Igreja quando se tornou vigário geral sob o comando de Pell em 1996, pôs a culpa pelas falhas na Arquidiocese de Melbourne em Little e nos vigários gerais Gerald Cudmore, Hilton Deakin e Peter Connors.
Perguntado que isto representava um indiciamento contra a arquidiocese, respondeu: “Ora, não vejo como se pode chegar a uma outra conclusão. É uma história terrível, terrível e eu fico muito sentido”.
As informações coletadas pela Comissão mostram que a Igreja recebeu, desde 1980, queixas de pedofilia de 335 pessoas contra 84 padres, superando o período de 1950 a 1989.
Hart afirmou que uma paralisia no departamento do arcebispo é, em parte, culpada por esta situação.
“Havia um certo respeito em que apenas o arcebispo poderia agir, e isso introduziu uma espécie de paralização”.
O religioso disse que não foram adequadamente investigados pela Comissão Real casos de vários sacerdotes pedófilos.
“Nas queixas envolvendo o nome de Searson, a resposta foi inadequada por parte de Little. O arcebispo não agiu e isto colocou as crianças em perigo”.
Hart afirmou ainda que ele e Pell deram o seu melhor para resolver a questão dos abusos e a ajudar as vítimas, muito embora os seus esforços possam ser considerados como imperfeitos.
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Arcebispo de Melbourne: a Igreja falhou em agir contra padres pedófilos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU