Por: André | 21 Setembro 2015
A saudação que Francisco enviou a Fidel Castro, pedindo em seu primeiro discurso público que seu irmão Raúl lhe transmitisse “sentimentos de especial consideração e respeito”, terá sido um pouco indigesta para muitos dissidentes cubanos. Nas próximas horas também está previsto um encontro pessoal, assim como aconteceu durante a viagem de Bento XVI. Mas, há três anos, foi o líder máximo que se dirigiu à Nunciatura onde estava alojado o Pontífice; desta vez será o papa que se dirige à casa-clínica na qual Fidel vive, que, em relação a 2012, encontra-se com limitações maiores em sua locomoção.
A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada por Vatican Insider, 19-09-2015. A tradução é de André Langer.
Como se sabe, não estão previstos encontros de Francisco com os dissidentes, como aconteceu durante as visita de João Paulo II e do Papa Ratzinger. Mas os cubanos não perderam a esperança de que uma saudação informal possa acontecer à margem de um dos eventos públicos previstos para nestes dias: não como um ato político, mas como um sinal de proximidade com todos os cubanos, que não pode acontecer sem o consenso, inclusive tácito, do governo de Castro, que, na verdade, sairia reforçado com tal gesto. Ou seja, considera-se como uma eventualidade difícil, mas não inteiramente impossível, em linha com a mudança de normalização das relações com os Estados Unidos. Francisco recebeu, no Vaticano, a viúva de Osvaldo Payá, que morreu em um acidente de carro, em julho de 2012, cercado de suspeitas.
Os encontros com dissidentes em países governados por partidos únicos ou por regimes são particularmente difíceis durante as visitas papais. Um episódio que ficou famoso ocorreu na viagem de João Paulo II ao Paraguai, que ainda estava sob o regime do ditador Stroessner. Era 1988 e Karol Wojtyla, segundo uma agenda negociada previamente com o governo, devia encontrar-se em um pequeno estádio com os “construtores da sociedade”. Enquanto o Papa já havia começado a viagem (o Paraguai era a última etapa de uma viagem que o levaria ao Uruguai, Bolívia e Peru) veio a notícia de que Stroessner tinha cancelado o encontro da agenda preestabelecida, alegando problemas de “segurança” do Pontífice. Após ter recebido a notícia, o então diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, Joaquín Navarro Valls, foi autorizado a anunciar que, caso o encontro, já programado, não saísse, o avião do Papa não aterrissaria no Paraguai: de Lima, retomaria o voo para Roma. O ditador paraguaio aceitou que o encontro fosse realizado.
Assim como aconteceu depois das visitas papais de 1998 e de 2012, desta vez a Igreja católica também espera do governo da ilha caribenha sinais positivos e passos concretos, seguindo o “degelo” com Washington propiciado pela diplomacia vaticana e que contou com Francisco como fiador. A viagem de João Paulo II fez com que o Natal voltasse a ser novamente uma festa civil; a de Bento XVI levou ao reconhecimento público da Sexta-Feira Santa. Desta vez, os bispos do país esperam maior disponibilidade de espaços, de meios de transporte e também de acesso aos meios de comunicação.
Um grande tema no centro do debate político cubano, assim como o das negociações com os Estados Unidos, está relacionado ao embargo ainda vigente. O governo de Havana atribui a estas restrições as dificuldades econômicas e muitos dos problemas vividos pela população no país. Como se sabe, a Santa Sé pede sua remoção há dois anos. Francisco e seus colaboradores renovarão este pedido durante os encontros que terão nos Estados Unidos. O fim das sanções econômicas melhoraria as condições de vida da população da ilha, e, finalmente, o governo poderia deixar de atribuir qualquer problema do país ao embargo “yankee”.
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A saudação de Francisco a Fidel e as esperanças da Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU