17 Junho 2015
Com a encíclica papal sobre o meio ambiente pronta para ser lançada nesta próxima semana, organizações católicas estão trabalhando em alta velocidade a fim de ajudar a levar a mensagem do pontífice para além dos bancos das igrejas.
A reportagem é de Michael O’Loughlin, publicada por Crux, 11-06-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Aqui em Chicago, uma coalizão de acadêmicos católicos, funcionários arquidiocesanos, advogados ambientalistas e líderes paroquiais vem se reunindo há vários meses com um objetivo apenas: ter certeza que os católicos assumam o gosto do Papa Francisco para com o ambientalismo.
Assim que a encíclica for publicada do dia 18, o grupo planeja enviar materiais para cada pastor da Arquidiocese de Chicago, juntamente com um convite para pregar sobre a encíclica em um domingo específico do mês de julho.
As paróquias serão convidadas a enviar alguns fiéis para cursos de formação nos próximos meses, com o objetivo de formar “equipes ecológicas” que possam educar os católicos sobre a eficiência energética e, talvez, até mesmo lançar hortas comunitárias.
Então, depois de alguns meses digerindo as palavras do papa, os líderes religiosos locais se reunirão para um dia de reflexão e definição de estratégias no Chicago Theological Union, em outubro.
Além deste entusiasmo todo, a encíclica está provocando polêmica no mundo católico, mesmo antes de seu lançamento. No mês passado, o Vaticano organizou uma conferência sobre as mudanças climáticas com a presença do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Em resposta, um grupo de céticos das alterações climáticas com sede em Chicago realizou um evento de protesto em Roma.
Jude Huntz, que coordena o Escritório para a Paz e Justiça da arquidiocese, disse que a coalizão espera evitar esse tipo de polêmica sobre a encíclica “fundamentando-a na tradição”.
“Nós não estamos esperando que Francisco diga algo diferente do que o Papa João Paulo II disse ou do que o Papa Bento XVI disse”, falou Huntz ao sítio Crux. “Temos certeza de que este documento está pondo em prática o que tem sido o Magistério a este respeito”.
Além de organizar oficinas sobre o tema, a arquidiocese está dando continuidade aos esforços em adaptar um pouco a sua pegada ecológica, modernizando o seu sistema de encanamento a fim de economizar água, adotando lâmpadas novas e mais eficientes, e até mesmo implementando painéis solares para a geração de energia.
O projeto de modernização dos 2700 edifícios arquidiocesanos começou alguns anos depois que a administração da cidade de Chicago passou a cobrar de organizações sem fins lucrativos a água. A cidade finalmente cedeu, mas apenas se organizações sem fins lucrativos concordassem em modernizar os seus edifícios. A arquidiocese aceitou de imediato, porém o sucesso em grande escala requer conquistar pastores e paroquianos, algo que os líderes aqui esperam que a encíclica ajude a realizar.
“Acredito que a encíclica vai nos dar ainda mais credibilidade do que tínhamos antes. Estou ansioso por este momento, pois poderemos usá-la [a encíclica] como uma ferramenta adicional”, contou Alejandro Castillo, porta-voz da arquidiocese.
Em nível nacional, as organizações católicas pretendem promover o ensinamento do papa nas próximas semanas e meses:
O grupo Catholic Climate Covenant está realizando um trabalho social em todas as paróquias dos Estados Unidos, cerca de 19 mil no total, com dicas homilia e outros materiais de apoio sobre a encíclica. Ele está planejando uma viagem pelo país para trabalhar com os bispos locais e as pessoas afetadas pelas mudanças climáticas, no intuito de levar a mensagem do papa ao nível local. O grupo planeja visitar meia dúzia de cidades, com Des Moines e Miami já confirmadas.
Dan Misleh, que lidera o grupo, disse que a encíclica vai destacar duas das principais preocupações do catolicismo.
“O papa está falando como pastor da Igreja universal, oferecendo uma mensagem moral sobre a necessidade de cuidar da criação e dos pobres”, disse ele. “É aí onde a Igreja Católica precisa estar”.
No encontro deste ano da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos em St. Louis, Dom Joseph Kurtz disse que os bispos esperam “elevar o diálogo acima das diferenças ideológicas ou partidárias”.
Para isso, um grupo de bispos se reuniu no início desta semana com Dom Thomas Wenski, da Arquidiocese de Miami, presidente da Comissão Nacional de Justiça e Desenvolvimento Humano, para discutir algumas formas de promover a encíclica.
Sem dúvida, as mídias sociais desempenharão um importante papel na divulgação da encíclica.
A Ignatian Solidarity Network estará promovendo um dia de oração nesta quinta-feira para coincidir com o lançamento da encíclica. A Rede está lançando uma campanha no Twitter – # Hope4Pope – fornecendo materiais a famílias, paróquias e dioceses sobre como “reduzir a sua própria pegada de carbono e a de sua comunidade”.
“O dia de oração é para demonstrar que a Igreja dos EUA e, especificamente, os fiéis relacionados com os jesuítas e os ministérios inacianos, apoiam o que diz o Papa Francisco sobre esta importante questão que a nossa família global enfrenta”, disse ao Crux Chris Kerr, diretor executivo da Ignatian Solidarity Network.
Outros católicos não estão muito confiantes de que esta encíclica será uma benção para o movimento ambiental.
Pe. Robert A. Sirico, que lidera o Acton Institute, com sede em Michigan, disse no mês passado esperar que a encíclica destaque a “ecologia moral”, base para muitos dos ensinamentos morais tradicionais.
Observando que as encíclicas papais não são ensinamentos infalíveis, Sirico discordou daqueles que disseram que o debate sobre as mudanças climáticas está terminado. “A ciência nunca se acomoda. A natureza da ciência é investigar livremente”, disse ele. Os católicos, acrescentou, devem buscar equilibrar os modelos econômicos “para retirar as pessoas da pobreza” cuidando, ao mesmo tempo, da criação.
Nas paróquias, alguns pastores planejam pregar sobre o conteúdo da encíclica.
O Pe. Robert Sanson, vigário paroquial mais antigo Paróquia St. Peter, em Ridgeville do Norte, Ohio, espera usar a encíclica como uma maneira de compartilhar o ensinamento da Igreja com os paroquianos que podem não estar familiarizados com ele.
“Espero ser capaz de articular cuidadosamente a diferença entre a posição moral da Igreja e postura política que cria tanta divisão”, disse ele. “Temos de levantar as problemáticas do faturamento hidráulico, da pena capital, dos investimentos éticos, e esperarmos que elas estabeleçam um diálogo, tal como o Papa Francisco tem nos pedido”.
A Irmã Jean Verber, membro das irmãs dominicanas em Racine, Wisconsin, disse que será importante as paróquias envolverem os seus membros para que eles possam melhor compreender por que e como o Papa Francisco está chamando, cada um de nós, a cuidar melhor do mundo.
“O papa tem um papel muito importante a desempenhar aqui”, disse ela. “É muito importante que as pessoas saibam disso. O importante mesmo é envolvê-las no trabalho”.
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A Igreja Católica americana está pronta para se “ecologizar” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU