24 Janeiro 2025
"A nova operação israelense é chamada de “Muro de Ferro”. Nas mesmas horas, um dia após o cancelamento das sanções estadunidenses, colonos armados atacaram vários vilarejos rurais, ameaçando a população palestina. Não se trata de um cerco, mas não promete bonança", escreve Nello Scavo repórter internacional, em artigo publicado por Avvenire, 23-01-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Netanyahu lança a operação “Muro de ferro”: dez mortos em Jenin. O Hamas convoca os palestinos dos Territórios para uma revolta armada. Halevi deixa a chefia do exército israelense: “Em 7 de outubro eu falhei. Mas o grupo terrorista foi duramente atingido, 20.000 agentes foram mortos”.
E no terceiro dia, a guerra voltou a ditar a sua marcha. Trégua em Gaza, ataques na Cisjordânia.
A nova operação israelense é chamada de “Muro de Ferro”. Nas mesmas horas, um dia após o cancelamento das sanções estadunidenses, colonos armados atacaram vários vilarejos rurais, ameaçando a população palestina. Não se trata de um cerco, mas não promete bonança. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu garante que isso é apenas o começo. E, embora o chefe do estado-maior Herzi Halevi tenha indicado março para sua renúncia há muito anunciada, os ataques na Palestina não vão parar. O massacre de 7 de outubro foi o pior investimento do Hamas em Gaza. A Faixa de Gaza, vista ontem por drones da Associated Press, parece ainda pior do que havia sido descrito por aqueles que sobrevivem lá.
Mas o Hamas não conseguiu atingir a “fase 2” na Cisjordânia: o consenso para um levante anti-Israel em toda a Palestina, obrigando Tel Aviv a enfrentar uma vasta frente interna, apoiada por ataques externos orquestrados pelo Irã. Na noite de domingo, quando os 90 detidos palestinos que foram trocados por três reféns israelenses foram libertados em Ramallah, as bandeiras do Hamas foram vistas às centenas. E é aí que o incêndio pode agora se alastrar. Agora que os escombros não escondem mais os moribundos de Gaza escondidos em algum subsolo, na esperança de se esquivar do fogo cruzado e das bombas da aviação. E basta um nada para que aqueles que confundem justiça com vingança possam decidir por própria conta. A Autoridade Nacional Palestina tem relações ruins com o grupo armado na Faixa. O enfraquecimento do Hamas na Cisjordânia nunca foi motivo para tirar o sono dos fiéis de Abu Mazen. Mas o risco de uma reação incontrolável das multidões de jovens não é mais apenas uma probabilidade. O “Muro de Ferro” reacendeu os tons dos extremistas de ambos os lados e também as consequências do cessar-fogo em Gaza são imprevisíveis. Se o Hamas considerasse os ataques israelenses na Palestina como um ataque a seus afiliados, teria um pretexto fácil para pôr em risco o cessar-fogo, quando apenas uma fração mínima dos reféns voltou à liberdade. As estradas de acesso a Jenin são interrompidas por postos de bloqueio israelenses. Por bem ou por mal, os soldados não deixam passar. A mobilização de meios e homens é maciça. A chegada das lagartas blindadas confirma que as operações se estenderão por horas, em meio a tiroteios, incursões e destruição. As forças de segurança israelenses “lançaram hoje uma grande e significativa operação militar para erradicar o terrorismo em Jenin”, anunciou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Dez pessoas já morreram na ofensiva.
E uma fonte militar confirmou ao Times of Israel que a incursão a Jenin deveria durar vários dias. Imediatamente, as forças de segurança palestinas se retiraram do campo de refugiados. A operação militar começou com vários ataques de drones em infraestruturas que se acredita sejam utilizadas pelos milicianos. Na retaguarda israelense, a polícia prendeu cerca de 20 palestinos em outras cidades da Cisjordânia - Hebron, Qalqilya, Ramallah e Nablus - incluindo a jornalista de Hebron Farah Abu Ayyash. O porta-voz oficial de Abu Mazen, Nabil Abu Rudeineh, atacou “os crimes das forças de ocupação”. A tensão é palpável, não apenas nos Territórios. Isso foi confirmado por um atentado ocorrido ontem no centro de Tel Aviv, quando um jovem esfaqueou quatro transeuntes, ferindo-os, antes de ser morto. Abdelaziz Kaddi, 20 anos, nascido no Marrocos e residente nos EUA, havia chegado a Israel três dias antes. Do dia de confrontos permanecerão as palavras do chefe do Estado-Maior israelense, Herzi Halevi. A partir de 6 de março, não será mais ele quem dará ordens às Forças de Defesa (IDF). “Estamos prestes a realizar um dos objetivos mais importantes da guerra, o retorno dos sequestrados. Sabemos pelo que estamos lutando: o desmantelamento do Hamas, do qual eliminamos 20.000 milicianos, a libertação dos reféns e o retorno dos cidadãos às fronteiras com Gaza”. Mas isso é hoje. O que pesa é o passado, para o qual a busca pela verdade não encontra o favor de quem governa. “A principal missão da IDF é proteger o país. Nós falhamos nisso”, disse o general, anunciando sua dispensa e pedindo um inquérito público sobre o massacre. “Eu carrego isso e vou carregá-lo comigo pelo resto da minha vida”.