14 Novembro 2024
As tensões aumentaram em Moçambique à medida que os protestos contra o partido no poder, Frelimo, se intensificam. Tendo governado por mais de cinco décadas, o partido está pronto para estender seu governo depois que seu candidato, Daniel Chapo, foi declarado vencedor da eleição presidencial de 9 de outubro.
A reportagem é de Ngala Killian Chimtom, publicada por Crux, 12-11-2024.
A oposição e vários observadores contestaram os resultados, com muitos acreditando que o candidato independente Venancio Mondlane foi o verdadeiro vencedor. Em resposta, Mondlane convocou protestos em todo o país. A polícia reagiu com gás lacrimogêneo e balas, resultando em relatos de pelo menos 30 fatalidades.
Johan Viljoen, diretor do Denis Hurley Peace Institute (DHPI), entidade da Conferência dos Bispos Católicos da África Austral (SACBC), disse que Moçambique mergulhou no caos.
“O governo disse que não negociaria com o líder da oposição, Venancio Mondlane, que segundo as primeiras contagens das seções eleitorais teve 58% dos votos e realmente venceu a eleição”, disse Viljoen.
“Vimos muitas pessoas sendo mortas a tiros pela polícia. Já é um caos. Então está piorando, as pessoas estão ficando recalcitrantes. Vimos destruição de propriedade em larga escala e violência”, ele explicou.
Em 7 de novembro, milhares de manifestantes saíram às ruas da capital Maputo gritando: “A Frelimo deve cair”.
Em um comunicado de 6 de novembro, o Denis Hurley Peace Institute disse que o que começou como uma demanda por justiça eleitoral evoluiu para algo muito mais profundo.
“Este movimento é um clamor contra a erosão da dignidade básica da vida, a praga da corrupção e o crescimento das redes criminosas que transformaram Moçambique numa encruzilhada do tráfico de droga, enriquecendo uma elite ligada ao partido no poder, a Frelimo”, afirma o comunicado.
“Esses manifestantes — jovens, determinados e destemidos — estão pedindo o direito de construir uma vida com oportunidade, de encontrar trabalho, de imaginar um futuro. Eles estão se posicionando contra a exploração da riqueza natural de Moçambique, que beneficia um pequeno círculo privilegiado, enquanto deixa a maioria na pobreza”, continua.
A declaração criticou a resposta do governo, dizendo que as autoridades “silenciaram” as vozes dos manifestantes ao desligar a internet.
“O encerramento é mais do que apenas uma barreira à comunicação; é uma forma de apartheid digital, afetando desproporcionalmente comunidades empobrecidas e marginalizadas, onde a resistência ao regime da Frelimo é mais forte”, diz a declaração.
“No chão, a cena é de repressão implacável. As forças de segurança responderam aos protestos com um nível de violência que revela a intenção não de proteger, mas de intimidar. Manifestantes desarmados — muitos deles jovens, alguns até crianças — enfrentam balas de borracha, gás lacrimogêneo e, em casos extremos, munição real”, acrescenta a nota.
Durante sua oração do Angelus no domingo, 10 de novembro, o Papa Francisco pediu o diálogo como uma saída para o impasse. “As notícias de Moçambique são preocupantes. Convido todos ao diálogo, à tolerância e à busca incansável por soluções justas”, disse o pontífice.
“Rezemos por toda a população moçambicana, para que a situação atual não os faça perder a fé no caminho da democracia, da justiça e da paz”, acrescentou.
Enquanto isso, bispos católicos na África do Sul, Botsuana e Eswatini pediram às autoridades eleitorais na nação da África Austral que abordassem as “causas do descontentamento”.
“Juntamo-nos a vocês [bispos de Moçambique] no apelo às autoridades para que abordem as causas do descontentamento sobre estas eleições e respeitem a vontade do povo moçambicano”, disseram os bispos numa carta assinada pelo presidente da Conferência Episcopal Católica da África Austral (SACBC), Dom Sithembele Anton Sipuka, e dirigida aos bispos católicos moçambicanos.
Os bispos, em carta de 8 de novembro, disseram que lamentam a decisão do governo sul-africano “de endossar as eleições, apesar de tais reclamações generalizadas”.
Os protestos de quinta-feira foram os maiores que a Frelimo viu desde 1975. Os bispos católicos em Moçambique rejeitaram os resultados das eleições, chamando-os de “uma mentira”.
Mesmo antes dos protestos em massa de quinta-feira, os bispos já haviam pedido a “todos os diretamente envolvidos no processo eleitoral e no conflito resultante que reconhecessem a culpa, oferecessem perdão e abraçassem a coragem da verdade”.
“Este é o caminho que devolverá a normalização de um país que se quer vivo e ativo e não silenciado pelo medo da violência”, afirmaram os bispos moçambicanos na declaração de 22 de outubro. Membros da Conferência Episcopal da África Austral expressaram o desejo de fazer uma visita solidária aos seus pares moçambicanos.
Como saída para a crise, sugeriram a criação de “espaços de colaboração na governação e ponderação de um possível governo de unidade nacional; envolver instituições competentes e sérias do país na gestão dos processos eleitorais, presentes e futuros; e dar a Moçambique um futuro de esperança”.
“Moçambique merece verdade, paz, tranquilidade e tolerância”, afirmaram.
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Líder católico diz que Moçambique está "inexoravelmente mergulhado no caos" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU