28 Outubro 2024
O resultado final das eleições municipais de 2024 reforça o perfil do eleitorado nas cidades: conservador e mais à direita. Porém, mesmo com avanço geral do PL, o resultado desse domingo (27) significou derrotas importantes para o bolsonarismo. Mas há o receio de que acusações infundadas inundem as próximas eleições, explicou à RFI o analista Melillo Diniz, do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e do portal Inteligência Política.
A informação é Raquel Miura publicada por RFI, 28-10-2024.
Se o primeiro turno havia colocado a esquerda no divã pelo fraquíssimo desempenho nas urnas, o resultado do segundo turno das eleições municipais de 2024 jogou no colo do bolsonarismo um certo gosto de derrota. E, por outro lado, confirmou a centro-direita como grande vitoriosa, com o PSD administrando 887 municípios, seguido por MDB com 856, PP com 747 e União Brasil, com 584 municípios.
O PL vai comandar 516 cidades e foi o partido que mais venceu em localidades com mais de duzentos mil eleitores. Porém, nomes do bolsonarismo que figuravam como favoritos perderam de virada em capitais como Belo Horizonte, Fortaleza e Palmas. Outro destaque negativo para o PL foi Goiânia, onde o ex-presidente Jair Bolsonaro se empenhou pessoalmente na campanha e acompanhou de lá a apuração, num embate direto com o governador e seu ex-apoiador Ronaldo Caiado (União Brasil), que levou a melhor com Sandro Mabel.
Até mesmo em São Paulo a derrota de Guilherme Boulos (PSOL) expôs um desafio grande para o bolsonarismo, a sentir pelo discurso do reeleito Ricardo Nunes (MDB), que citou como seu grande mentor o governador do estado e não o ex-presidente. “Eu agradeço ao líder maior, sem o qual nós não teríamos esta vitória. O meu amigo, que me deu a mão na hora mais difícil, governador Tarsício de Freitas!”, frisou o prefeito.
Ricardo Nunes disse que o extremismo perdeu a eleição. Porém declaração dada por seu principal cabo eleitoral mostrou que o modus operandi dos que se apresentam como mais moderados também levanta preocupação.
Em entrevista aos jornalistas ao lado de Nunes na manhã de domingo, enquanto acontecia a votação, o governador Tarcísio de Freitas tentou ligar o candidato adversário ao PCC, citando, sem apresentar provas, que integrantes da facção criminosa estariam orientando familiares e apoiadores a votarem em Guilherme Boulos. O candidato do PSOL chamou de criminosa a declaração e anunciou ação na Justiça contra o prefeito e o governador.
O analista Melillo Diniz, do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e do portal Inteligência Política, citou esse ato e também acusações infundadas de Pablo Marçal no primeiro turno como sinal de alerta para o que pode vir para os próximos pleitos.
“Isso enfraquece a democracia, piora a qualidade das eleições e o Judiciário especialmente não pode assistir a esse tipo de situação sem uma reação mais dura”, afirmou Diniz. “De todo modo, fiquemos atentos, porque isso vai se repetir cada vez mais, não apenas em São Paulo, mas em todo o país, diante do fato de que essas irresponsabilidades não são devidamente punidas e pelo fato de que o eleitor, que tem votado mais por rejeição, acaba por apostar nesse tipo de desinformação.”
O PT teve uma leve melhora no desempenho em relação a 2020 e vai administrar 252 municípios. Porém, isso nem de longe pode ser visto como vitória, até porque apenas seis dessas vitórias estão em cidades maiores. Outro termômetro de que a esquerda perdeu as pontes com o eleitorado é que a direita e o centro levaram sete das nove capitais do Nordeste.
Um dos respiros para o partido de Lula veio de Fortaleza, onde Evandro Leitão venceu uma acirrada disputa contra um nome do PL. “A vitória da democracia, a vitória do respeito às mulheres, daqueles que acreditam que através de uma construção coletiva a gente possa fazer uma sociedade melhor, mais inclusiva”, destacou Leitão.
O cientista político Leon Victor Queiroz, da Universidade Federal de Pernambuco, diz que está claro que Lula e o PT vão reforçar acordos políticos com o centro, inclusive atuais adversários municipais.
“A partir desses resultados, Lula deve buscar consolidar regiões onde o PT e aliados conseguiram bons resultados, mas também deve buscar alianças com o campo democrático, mesmo que ele tenha disputado com esses partidos, porque existe uma ideia do PT e de Lula, obviamente, de liderar uma grande coligação contra a extrema direita e a favor do campo democrático para tentar a sua reeleição.”
Mas o especialista ressalta que não dá para traçar maiores consequências do que as urnas disseram hoje com o que vai acontecer em 2026. “São eleições bem diferentes, muita coisa acontece entre elas. O que se pode ver das eleições municipais é a força dos partidos nas cidades. A força na Câmara dos Vereadores, a quantidade de prefeitos que cada partido fez, isso daí deve implicar em alianças mais robustas para governo de Estado e para a eleição da Câmara de Deputados. Mas muita coisa acontece daqui para lá. Não dá para cravar nenhuma resposta, nenhuma análise.
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Resultados das eleições municipais trazem avanço do centrão, revés do bolsonarismo e respiro do PT - Instituto Humanitas Unisinos - IHU