18 Setembro 2024
Francisco não se pronuncia entre os dois candidatos à Casa Branca em novembro próximo, Donald Trump e Kamala Harris; perguntado no voo de volta de sua longa viagem à Ásia sobre a escolha entre aquele que projetava deportar milhões de migrantes e aquela que apoia o aborto, o papa afirmava que ambas as escolhas são profundamente erradas, “contra a vida” e, em todo caso, explicava, “não sou estadunidense, não irei votar lá”, mas “é preciso votar”. E é preciso escolher “o mal menor”. “Cada um em consciência pense e faça isso”.
A reportagem é de Francesco Peloso, publicada por Domani, 17-09-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Pela enésima vez durante seu pontificado, com suas palavras, Francisco chama os fiéis a fazerem escolhas conscientes seguindo sua consciência, encerrando mais uma vez a temporada do bispo-piloto, ou seja, da igreja que ordena aos leigos o que fazer em cada âmbito da vida civil; ainda mais porque entram nesse caso dois aspectos da doutrina social particularmente debatidos nos Estados Unidos e relevantes no magistério de Bergoglio.
Os republicanos, de fato, sempre apoiaram o movimento antiaborto pró-vida (fortemente ligado ao episcopado estadunidense), fortalecido nos últimos dois anos por uma decisão da Suprema Corte que cancelava o direito ao aborto em nível federal, embora em muitos casos referendos estaduais realizados após a decisão reafirmaram o direito à interrupção da gravidez.
Os democratas, por outro lado, são o partido pró-escolha, ou seja, o partido a favor de leis que permitam às mulheres escolher se querem ou não fazer um aborto. Com relação às migrações, a situação entre os dois partidos e candidatos que disputam a presidência é mais complexa, mas Trump certamente é o único que está fazendo campanha sobre repatriação. “Mandar os migrantes embora, não dar aos migrantes possibilidade de trabalhar”, disse o papa em resposta à pergunta, ”não dar acolhimento aos migrantes é um pecado, é grave. No Antigo Testamento, há um refrão: o órfão, a viúva e o estrangeiro, ou seja, o migrante (...) Quem não cuida do migrante, está em falta, é um pecado, um pecado também contra a vida dessas pessoas”.
Sobre o aborto, também acrescentou: “A ciência diz que um mês após a concepção existem todos os órgãos de um ser humano, todos. Fazer um aborto é matar um ser humano. Goste você ou não da palavra, mas é matar”. “A igreja”, disse ele ainda, ”não é fechada porque não permite o aborto: a igreja não permite o aborto porque é matar, é um assassinato, é um assassinato.” Então reiterou os dois conceitos.
Todos ficaram perplexos. A conferência episcopal, que não esperava uma resposta desse tipo que colocasse em crise uma linha histórica pró-vida em vista do voto, e depois - na frente oposta - aqueles que esperavam, talvez um pouco ingenuamente, um papa totalmente contra Trump.
De acordo com o periódico católico on-line Crux, “particularmente para os católicos estadunidenses, os comentários de Francisco a bordo do voo de volta de Cingapura para Roma também captaram uma dura verdade, muitas vezes esquecida na agitação da temporada eleitoral: ou seja, qualquer estadunidense que leve a sério toda a gama do ensinamento social católico não pode se sentir confortável em nenhum dos nossos principais partidos políticos”. Na prática, explica-se, “os católicos EUA estão destinados a ser politicamente sem residência fixa”.
Por outro lado, não se deve esquecer que uma cúpula sobre migração, apoiada pelo Vaticano, foi realizada no Panamá no final de agosto, com a participação dos bispos da América do Norte e do Sul, com o objetivo de criar uma pastoral de migração que possa unir países e igrejas dos países de partida e de acolhimento; na verdade, um documento conjunto sobre o tema dos vários episcopados americanos será publicado em breve.
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Católicos EUA perplexos com as palavras do papa, que não escolhe entre Trump e Harris - Instituto Humanitas Unisinos - IHU