08 Agosto 2024
"Assistimos outras ginastas, que, apesar de boas apresentações, não chegavam aos pés da nossa rainha Rebeca. Queríamos ver a Simone, era quem precisava ser ‘batida’. Ao terminar, comentou, sorrindo: ‘Acho que Rebeca levou essa’. E ela tinha razão! O ouro era nosso! Mais uma vez, chegamos ao lugar mais alto do pódio com uma mulher negra", escreve Carolina Wanderley, produtora de conteúdo da Alter Comunicação, em artigo publicado por Alter Conteúdo, 06-08-2024.
Ontem (5/8) acompanhamos atentamente a final individual da ginástica olímpica. De um lado, a melhor de todos os tempos, a americana Simone Biles; do outro, a nossa melhor de todos os tempos, Rebeca Andrade. Disputaram o ouro em dois aparelhos: trave e solo. As duas, além do brilhantismo no esporte e do carisma, têm outro ponto em comum: são mulheres negras.
As coincidências não param aí. Elas guardam, ainda, semelhanças nas dificuldades vividas desde muito cedo. Aos três anos, Biles foi enviada para um orfanato após a mãe, dependente química, perder sua guarda. Enquanto isso, aqui no Brasil, Dona Rosa Santos, mãe de Rebeca, se desdobrava para, sozinha, dar conta da criação de seus sete filhos e do treinamento da ginasta com um salário de empregada doméstica.
Essas poderiam ser as histórias de diversas Rebecas e Simones, mas o foco de hoje não é esse. Quero falar sobre mulheres pretas no topo, como deve ser.
Voltando para a final olímpica, em mais similaridade, Simone, que caiu do aparelho, e Rebeca, que recebeu uma nota mais baixa do que o esperado, ficaram fora do pódio da trave. A cobrança por excelência com pouco (ou nenhum) espaço para o erro logo se fez presente. Mulheres pretas são assim: sempre se exigindo entregar o máximo, sem admitir falhas (eu mesma trabalho esse tema incansavelmente na terapia).
No solo precisava ser diferente, não havia outra opção. Rebeca foi a segunda a se apresentar e brilhou com sua coreografia embalada por uma trilha sonora com Beyoncé (mulheres pretas no topo, como deve ser), que recebeu 14,166. Assistimos outras ginastas, que, apesar de boas apresentações, não chegavam aos pés da nossa rainha Rebeca. Queríamos ver a Simone, era quem precisava ser ‘batida’. Ao terminar, comentou, sorrindo: ‘Acho que Rebeca levou essa’. E ela tinha razão! O ouro era nosso! Mais uma vez, chegamos ao lugar mais alto do pódio com uma mulher negra.
O mais bonito disso tudo, se é que posso dizer isso, é que, apesar da competitividade inerente ao esporte, as duas se apoiaram do início ao fim. Contrariando todas as expectativas, elas dançaram juntas, sorriram, se abraçaram, se incentivaram. Não, mundo, dessa vez você não vai ganhar, o ouro é preto. Deixemos a rivalidade tóxica para você e sua pequenez.
5 de agosto de 2024 vai ficar para sempre na minha memória como o dia em que a maior competição esportiva do mundo reverenciou três mulheres pretas no topo, como deve ser!
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Mulheres negras no topo, como deve ser - Instituto Humanitas Unisinos - IHU