11 Novembro 2023
Lucio Caracciolo acaba de enviar às bancas o último número da revista Limes, “Grande Guerra na Terra Santa”, e inaugura nessa sexta-feira, 10, o tradicional Festival da Revista, em Gênova, que se intitula “O fator italiano no mundo em guerra”.
A reportagem é de Stefano Cannavò, publicada em Il Fatto Quotidiano, 10-11-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Vocês dedicam muito espaço ao Hamas: você acha que ele pagará um preço por essa guerra?
A coisa mais importante sobre o Hamas, que exploramos nesta edição, é que não está claro o que há dentro dele. O grau de controle da cabeça política parece limitado (e a Limes entrevista o chefe político, Haniyya). Além disso, uma vez tudo terminado, as contas serão feitas no campo palestino, e alguém poderá perguntar ao Hamas por que provocou em Israel uma reação bastante provável. É preciso dizer também que a operação do dia 7 de outubro não foi levada a cabo apenas pelas Brigadas al-Qassam. Além da jihad Islâmica, também houve dissidentes e provavelmente simples criminosos que se aproveitaram da situação. A operação não ocorreu exatamente conforme o planejado, e se eu fosse um civil palestino faria algumas perguntas.
O que você acha da acusação de que o Hamas é uma organização terrorista?
O terrorismo é uma modalidade de guerra particularmente vil, mas não é um sujeito político. Tanto que o mais conhecido terrorista palestino recebeu o Prêmio Nobel da Paz (Arafat). Não há uma definição incontestável. No dia 7 de outubro, o Hamas certamente utilizou um método terrorista, mas, ao defini-lo simplesmente como terrorista, tal como a al-Qaeda, perdemos de vista o fato de que se trata de um movimento de massas, que ganhou as eleições, que foi apoiado primeiro por Rabin em função anti-Arafat e também por Netanyahu, que favorecia a transferência de dinheiro do Catar para o Hamas.
E Netanyahu? Ele pagará um preço?
Se não pagar agora, não pagará mais. A minha previsão é que seu futuro oscilará entre uma aposentadoria dourada e a prisão. É verdade que ele nos acostumou a ter sete vidas, mas gastou todas elas. Um governo futuro não poderá tê-lo como líder, a menos que a guerra seja eterna.
Nos debates na TV, Paolo Mieli pergunta provocativamente: “O que você teria feito no lugar de Netanyahu?”
Pode-se responder tranquilamente: Israel fez o que quase todos esperavam. Mas não acho que, com a cabeça fria, isso possa ser considerado útil ao Estado de Israel. A vingança desproporcional, que sempre caracterizou Israel, não o favoreceu. No espaço de poucos dias, os bombardeios, na percepção internacional, levaram a perder de vista o massacre de 7 de outubro e a ficar do lado dos palestinos. O elemento da propaganda é decisivo em tal contexto e, portanto, foi um erro. Israel está travando a guerra que o Hamas queria, assimétrica, em que os terroristas só têm de se perpetuar.
O que você faria, pergunta Mieli? Respondo com um paradoxo: nada. O problema não é se vingar, mas sim proteger o próprio povo e, no caso de Israel, também o da diáspora que enfrenta ondas de antissemitismo ou de simpatia pelos palestinos. Se Israel, após uma pausa de alguns dias, tivesse decidido não entrar em Gaza, de onde tinha escapado, mas sim fechar todas as saídas de forma séria, começando a atacar seletivamente os chefes do Hamas, incluindo no Irã, se necessário, teria vencido a guerra de propaganda de forma esmagadora e salvado muitas vidas entre os reféns ou entre seus próprios soldados. E poderia ter se apresentado para uma futura mesa de negociações em uma posição de força política e moral.
É verdade que há uma nova temporada de iniciativas dos Estados árabes?
Acho que não. O Catar sempre joga em todas as mesas. Sendo uma jazida com um Estado em cima dela, está de bem com todo o mundo. Fala com os Estados Unidos, a Rússia, os israelenses e os palestinos, tentando comprar a tranquilidade. Doha parece um centro de conferências de negócios em nível mundial, um hub de mediação, mas não uma potência política. A potência clássica da região é o Egito, mas está em sérias dificuldades e teme o influxo de milhares de palestinos, incluindo muitos Irmãos Muçulmanos, inimigos de Al Sisi. Depois de se encontrar com Netanyahu e de ter estabelecido relações ocultas com Israel, a Turquia tornou-se patrocinadora dos “terroristas” libertadores do Hamas, tentando se apresentar como o líder islâmico que abrange todo o espectro do mundo muçulmano. Por um lado, o Irã patrocinou o Hamas, mas não quer chegar ao conflito com os Estados Unidos, porque sofreria graves perdas. Não se entrevê nenhum ator, e a guerra durará o suficiente com um reposicionamento de todos e sem nenhuma esperança imediata de um acordo entre israelenses e palestinos.
O New York Times perguntou se os Estados Unidos podem se concentrar na China enquanto devem gerir duas guerras ao mesmo tempo. O que você responde?
Não, eles não vão conseguir. Na edição da Limes, explicamos que existem contatos notáveis entre os Estados Unidos e a Rússia e também com a China, para estabelecer regras de envolvimento que evitem que os conflitos em curso desemboquem em uma guerra mais ampla, que os Estados Unidos, com a perda de identidade, não podem gerir.
E a Itália?
Não pode fazer muito. O fato de estar empenhada no front humanitário é importante, não é só um ato simbólico. Não esqueçamos que temos milhares de soldados ao longo da fronteira com o Líbano.
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“O Hamas não é apenas terrorismo, e Israel errou na resposta.” Entrevista com Lucio Caracciolo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU