03 Outubro 2023
Ser jornalista e informar sobre atividades que destroem o meio ambiente no Sul Global significa se tornar um alvo. As ameaças, as intimidações e até mesmo as tentativas de homicídio se tornaram a tônica dominante para aqueles que ousam dizer a verdade.
A reportagem é de Alejandro Tena, publicada por Público, 30-09-2023. A tradução é do Cepat.
De acordo com os últimos dados de Repórteres Sem Fronteiras (RsF), entre junho de 2022 e junho de 2023, só na Amazônia brasileira foram registrados 66 ataques à liberdade de imprensa. A maioria contra jornalistas que buscavam informar sobre danos ambientais provocados pela indústria agropecuária, a exploração mineira e as violações dos direitos humanos contra os povos indígenas.
Para a RsF, a Amazônia virou a zona zero da violência contra jornalistas. Os contínuos problemas socioambientais desta região atraíram a atenção de inúmeros repórteres e as instituições e governos não fornecem segurança. As empresas que atuam no território, extraindo recursos sem restrições e deslocando comunidades locais, têm uma espécie de carta branca para exercer a violência contra quem tenta lançar luz sobre as sombras do desmatamento e da mineração.
“A situação de insegurança na região, combinada com pressões políticas e econômicas, cria condições que levam os jornalistas à autocensura”, aponta o recente relatório de RsF: Amazônia: jornalismo em chamas. Os profissionais de comunicação que tentam informar do lugar costumam ser, além disso, repórteres locais, uma vez que os meios de comunicação internacionais ou distantes da região têm obstáculos no acesso às regiões afetadas.
“Para entender o que está acontecendo na linha de frente de um dos conflitos mais importantes de nosso tempo, precisamos de informações confiáveis vindas diretamente dos territórios. Em outras palavras, a defesa do jornalismo livre, plural, independente e local na Amazônia deve ser parte integrante das medidas para abordar a emergência climática”, avaliou Artur Romeu, diretor do escritório de RsF na América Latina.
A perseguição aos jornalistas ambientais não se limita à Amazônia. Nos últimos cinco anos, em todo o mundo, foram registrados ao menos dez assassinatos de repórteres que tentavam informar sobre assuntos relacionados à degradação da natureza. Se olharmos ainda mais para trás, para a última década, foram registrados ao menos 20 homicídios.
Em alguns casos, a violência é exercida diretamente por instituições e governos, que protegem as empresas que operam em florestas e ambientes naturais com total impunidade. Brandon Lee, jornalista do meio de comunicação filipino Nordis, é um exemplo disso. Em 2019, o Exército do país tentou matá-lo junto com outros repórteres acusados de serem extremistas e comunistas que cobriam os impactos socioambientais acobertados pelo Governo. “Eles me seguiam, vigiavam, ameaçavam de morte e denunciavam nas redes sociais”, relatou após sobreviver ao ataque.
Entre os profissionais que foram assassinados, nove levaram disparos a sangue frio e todos trabalhavam em países do Sul Global afetados pelo extrativismo: Colômbia, México, Filipinas, Mianmar e Índia. O caso mais marcante e midiático foi o de Shubham Mani Tripathi, correspondente do jornal indiano Kampu Mail, que levou seis tiros à queima-roupa, três deles na cabeça, em 2020.
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O risco de informar sobre a destruição do planeta: 20 jornalistas assassinados na última década - Instituto Humanitas Unisinos - IHU