09 Junho 2023
"Uma voz chinesa na [Pontifícia Academia de Ciências Sociais] representa um gesto de coragem e uma riqueza para o diálogo", escreve Lorenzo Prezzi, teólogo italiano e padre dehoniano, em artigo publicado por Settimana News, 07-06-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em 5 de junho, o boletim da Sala de Imprensa do Vaticano anunciou a nomeação de três novos membros da Pontifícia Academia de Ciências Sociais. Entre eles, Tongdong Bai, professor de filosofia na Universidade de Fudan (República Popular da China).
Este é o seu curriculum vitae: “Nasceu a 4 de junho de 1970 em Pequim (República Popular da China). Recebeu seu doutorado em filosofia pela Universidade de Boston (Estados Unidos da América) em 2004. Foi professor da Universidade Xavier (Estados Unidos da América). Atualmente é professor da Universidade de Fudan, da Faculdade de Direito da Universidade New York e da Universidade New York de Xangai. Ele é autor de numerosas publicações sobre filosofia chinesa e filosofia política”.
O professor Tongdong Bai pertence à corrente político-filosófica do neoconfucionismo. Embora não seja o expoente mais proeminente, ele compartilha a importante função de estimular a cultura e o Partido Comunista Chinês.
Em torno do conceito confucionista de “virtude perfeita” existe uma explicitação tanto pessoal quanto familiar, mas sobretudo político-estatal. Somente com o exercício da virtude pode-se governar poupando a sociedade dos males da divisão, corrupção e desintegração. Um estímulo importante para evitar as derivas do enriquecimento pessoal dos funcionários num momento de grande desenvolvimento econômico e para implementar o sentimento de pertença não ao clã, mas ao Estado.
No entanto, também joga a favor de algumas diretrizes centrais do atual partido como a “guerra” à corrupção, a centralidade da política sobre a economia, a expectativa de uma sociedade harmoniosa. A ênfase hierárquica e a forma extremamente limitada da democracia do pensamento confucionista são facilmente "digeríveis" pelo partido. No geral, o efeito de confirmação é maior do que o estímulo à renovação e tudo fica dentro do “mundo chinês”.
A nomeação poderia até representar uma desmentida ao Acordo sobre os bispos entre a Santa Sé e a China. Tem uma função eclesial imediata, mas, referindo-se à autoridade papal na escolha final dos bispos, representa uma pequena e inicial abertura com relação ao monismo autossuficiente do poder.
Teria sido outra coisa uma nomeação de perfil mais autônomo, como, por exemplo, Ge Zhaoguang, que leva a sério o papel de Matteo Ricci como elemento de estímulo e “reinvenção” da China. Mesmo pertencendo à tradição nacional, representa uma maior abertura ao Ocidente, aos seus valores de referência e às suas práxis civis.
É preciso dizer, porém, que a Academia vive na diversidade das orientações, privilegiando a dialética sobre o pertencimento. A sua finalidade é "promover o estudo e o progresso das ciências sociais, em primeiro lugar a economia, a sociologia, o direito e as ciências políticas, oferecendo assim à Igreja os elementos que ela pode utilizar no desenvolvimento da sua doutrina social e refletindo sobre a aplicação dessa doutrina na sociedade contemporânea".
Uma voz chinesa representa um gesto de coragem e uma riqueza para o diálogo.
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Pontifícia Academia: a nomeação e as perguntas. Artigo de Lorenzo Prezzi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU