17 Março 2023
Embora o sistema bancário no Brasil seja considerado sólido, possível crise global reforça necessidade de um novo e convincente arcabouço fiscal por parte do governo Lula. Economistas ouvidos pela RFI esperam redução da Selic ainda no primeiro semestre deste ano.
A reportagem é de Raquel Miura, publicada por RFI, 16-03-2023.
A ansiedade que tomou conta dos mercados mundo afora após o fechamento de dois bancos americanos e a queda vertiginosa das ações do Credit Suisse pode antecipar a redução de juros no Brasil. O tema, que já expôs divergências entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem fatores internos determinantes, como a inflação e o ritmo da atividade econômica, mas o cenário incerto global reforça a pressão sobre as autoridades monetárias de vários países.
“É um temor maior de desaceleração acentuada da atividade ou mesmo recessão e, considerando esse quadro, há necessidade de corte de juros, de um início antecipado de afrouxamento monetário. Interromper a alta de juros ou mesmo queda no curto prazo. Essa discussão se vê nos Estados Unidos, na Europa e também aqui no Brasil. Há agentes de mercado prevendo corte de juros no país ainda no primeiro semestre ou começo do segundo semestre”, explica Rodolfo Margato, economista da XP.
Para Gilberto Braga, do Ibmec, a queda da Selic não deve acontecer já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para semana que vem, mas pode vir no meio do ano.
“O início do processo de um ciclo de baixa da taxa de juros deve ser antecipado pelo Copom. Isso não significa que já na próxima reunião da semana que vem poderemos ter uma diminuição. Seria uma surpresa. Mas há pressão para que seus membros façam pelo menos uma ata com sinalização de que esse ciclo de baixa não vai ficar para o final do ano, mas será a partir de meados do meio do ano”, avalia Braga.
A queda na bolsa de valores de São Paulo deixou claro que uma possível crise bancária nos Estados Unidos e na Europa, agravada pelas dúvidas acerca dos juros americanos, afeta economias de vários países.
“O que existe é o impacto nas commodities brasileiras negociadas no mercado internacional, as ações das empresas internacionais listadas na bolsa brasileira, que mais estão sofrendo. O risco de uma recessão faz com que o preço do petróleo caia e as ações ligadas a esse ramo e segmentos complementares também sofram perdas num primeiro momento. Então não chega a ser uma grande histeria, mas é um momento de indefinição”, afirmou o economista do Ibmec.
Braga ressalta que além dos bancos americanos que financiavam start-ups e faliram, o sinal amarelo no Credit Suisse, tradicional banco europeu, elevou a preocupação no mercado. Ainda assim, o analista diz que o sistema bancário brasileiro é considerado robusto e dispõe hoje de certa blindagem às intempéries externas.
“O sistema brasileiro hoje é considerado muito maduro e descolado do resto do mundo. Então, uma crise bancária internacional, se ela efetivamente ocorrer, isso não deve contaminar os bancos brasileiros que já têm mecanismos de proteção”.
Ele cita como exemplo o fundo garantidor de crédito que assegura determinado valor para quem tem recursos aplicados aqui. “São 250 mil reais por CPF, ou seja, por investidor, ou CNPJ. Isso garante que os investimentos da classe média, de grande parte da população em geral, estariam com uma espécie de seguro contra qualquer turbulência. Entretanto, isso não blinda 100% a economia Brasil quanto a efeitos de uma desaceleração global ou até mesmo de uma recessão no mercado internacional”, considera.
Analistas não acreditam que o quadro que se apresenta agora seja tão agudo quanto a crise de 2008, que também começou com quebradeira de bancos americanos, mas ninguém arrisca até onde chega a atual instabilidade monetária.
No Brasil, a principal cobrança em cima do governo para melhorar o ambiente interno é a apresentação do prometido novo arcabouço fiscal, com medidas que assegurem uma dívida pública administrável.
“Temos muitos receios acerca da sustentabilidade da dívida pública a médio e longo prazos. Então o mercado aguarda ansiosamente a apresentação do novo marco fiscal. Uma proposta com boa qualidade, que permita perspectivas mais favoráveis para as contas públicas, equacionamento fiscal, trajetória de dívida sustentável, isso traria certo alívio”, defendeu o economista da XP.
“A nova âncora fiscal poderia inclusive abrir espaço para uma melhoria importante de ativos financeiros, ou no mínimo pode ter um efeito amortecedor diante das turbulências globais”, disse Rodolfo Margato.
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Crise internacional nos bancos e risco de recessão devem antecipar queda de juros no Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU