29 Novembro 2022
O primeiro aniversário da Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe deu origem a seis reuniões virtuais organizadas pelo Conselho Episcopal da América Latina e do Caribe (Celam). A quarta delas, realizada em 28 de novembro, refletiu sobre a dimensão sinodal e participativa, com o objetivo de aprofundar as reflexões e propostas pastorais contidas em "Para uma Igreja em saída para as periferias", o texto resultante da Assembleia, recentemente redigido e apresentado ao Papa Francisco em 31 de outubro.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
É uma oportunidade de realizar uma leitura analítica, que permite conhecê-la e assim aplicá-la no âmbito da pastoral e da evangelização. É uma questão de "refletir juntos sobre o que estamos trabalhando juntos há pouco mais de um ano", nas palavras de Dom Jorge Lozano. O Secretário Geral do Celam lembrou o caminho da Assembleia desde a fase de escuta e como, após o discernimento, "surgiram preocupações e desafios, dando origem ao Documento que, ao longo destes dias, estamos nos dividindo em cada uma das seis áreas em que a ação pastoral nos move".
Dar vida aos elementos presentes na Assembleia em cada comunidade, tornando realidade um Laboratório Prático de Sinodalidade, foi o ponto de partida para Ariel Alejandro Rojas, que refletiu sobre a participação na Assembleia Eclesial e o método. Em relação a uma Igreja Povo de Deus com novos ministérios, uma das doze propostas da Assembleia, ele enfatizou que as linhas de ação propõem a formação em todas as áreas, sem ter medo de criar novas estruturas com este selo de sinodalidade, sempre à luz da Palavra, do Evangelho, e como isto nos ajuda a discernir o que é necessário, o que é apropriado para cada uma das Igrejas.
O jovem chileno também destacou como uma linha de ação uma Igreja samaritana e acolhedora, para ser a casa de todos, um hospital de campo. Juntamente com isto, uma cultura marcadamente laica, mas sem passar do clericalismo ao laicismo, procurando trabalhar em conjunto, sobretudo na tomada de decisões. Neste sentido, o membro do Corpo Consultivo Internacional de Jovens do Dicastério dos Leigos, da Família e da Vida, destacou o protagonismo das mulheres, dos jovens e dos povos originários e como favorecer isto nos processos de conversão eclesial, a reforma das estruturas, pensando sempre na conversão que Jesus nos pede.
Foto: enviada por Luis Miguel Modino
A partir de uma rede de comunidades da Igreja, ele enfatizou a promoção da "formação contínua de líderes e facilitadores de novas narrativas", destacando "comunidades eclesiais básicas como espaços de crescimento na fé e no compromisso social". Sobre a conversão das estruturas eclesiais, ele apelou para o abandono de estruturas ultrapassadas, inclusive em espaços locais, buscando novos métodos de evangelização, que emergem das faces que estavam modelando a Assembleia Eclesial, "aonde Deus vem para nos mostrar que a Igreja continua com sua vitalidade e força", uma Igreja que não tem medo de embarcar em novos caminhos.
Nesta dimensão sinodal e participativa, Rafael Luciani analisou nove núcleos temáticos que podem nos guiar em nossa reflexão. A forma como a Assembleia, que fez da sinodalidade um de seus principais desafios na ação evangelizadora da América Latina e do Caribe, foi realizada, tanto em seu processo de preparação como no evento final, demonstra que "a Igreja sinodal do primeiro milênio não é uma utopia irrealizável", segundo o teólogo leigo venezuelano. A Assembleia destacou os leigos como sujeito eclesial, expressão do exercício do princípio da Igreja do primeiro milênio: "tudo que diz respeito a todos deve ser discernido e decidido por todos".
Em relação a uma Igreja Povo de Deus, surge o desafio de criar novos ministérios, dependendo das necessidades de cada região, e renovar os existentes, porque "uma Igreja sinodal é uma Igreja que é toda ministerial". Uma Igreja que é uma comunidade de comunidades, um conceito nascido em Medellín, uma Igreja que parte da base para construir todo o tecido eclesial, o que permitirá o fortalecimento dos leigos na vida pastoral e na missão da Igreja, respondendo a necessidades específicas.
Uma Igreja samaritana e acolhedora, com estruturas para receber a todos e poder compartilhar a vida em abundância, passando da lógica da rejeição para a lógica da alteridade, do relacionamento, do encontro. Para isso é necessário assumir a diversidade, com o pluralismo como pressuposto, entendendo que "a Igreja não tem destinatários em sua missão atual e apenas interlocutores", vendo a diversidade como um critério de discernimento.
Uma cultura eclesial marcadamente laical, passando de uma cultura clerical para uma cultura laical, "porque todo sujeito eclesial pelo Batismo tem esta dignidade fundamental como leigo e como leiga", com o mesmo dever e direito, o que leva a compartilhar o espaço de responsabilidade e decisão. A partir daí Luciani lembrou o que Aparecida diz: "a sinodalidade é a forma de ser e agir na Igreja onde os leigos são 'uma parte ativa e criativa na execução de projetos pastorais em favor da comunidade'". Para isso, é necessário renovar o ministério ordenado desde sua formação.
Um clamor na Assembleia Eclesial e no atual processo sinodal é o protagonismo da mulher na Igreja e na sociedade, reconhecendo sua exclusão na tomada de decisões, ainda mais dado o fato de que algumas autoridades eclesiásticas "não aceitam plenamente o acesso da mulher a cargos de liderança ou de administração em uma Igreja governada por homens", insistiu ele. Para isso, ele pediu a institucionalização dos ministérios femininos, algo que pode se tornar realidade em uma Igreja rede de comunidades, um eixo que deve estruturar a vida eclesial a partir das comunidades eclesiais de base, superando estruturas paroquiais ultrapassadas.
A conversão das estruturas eclesiais faz parte do caminho de uma Igreja que procura ser sinodal, com uma tensão entre conversão e reforma, considerando a Assembleia Eclesial como um exemplo de "uma nova estrutura que dá lugar a uma nova mentalidade". Finalmente, destacou a necessidade de fortalecer o diálogo ecumênico e inter-religioso, tanto nas áreas de formação como na vida de todos os católicos.
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Dimensão sinodal e participativa: “A Igreja sinodal do primeiro milênio não é uma utopia irrealista” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU