07 Novembro 2022
O dia 5 de novembro de 2015 ficou marcado na história do Brasil como um dos maiores crimes ambientais. Foi nesse dia que o rompimento da Barragem da Samarco, no município de Mariana (MG), ceifou 19 vidas, desalojou centenas de famílias e incontáveis danos econômicos, sociais e ambientais na Bacia do Rio Doce.
7 anos depois, Dom Vicente Ferreira, denunciando os sete anos sem reparação, faz um chamado a resistir, pois “enquanto há vida, há luta!”. Em texto publicado no site da Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário, da Arquidiocese de Belo Horizonte, afirma que “mais de cem pessoas atingidas morreram nesses anos pós-crime, sem nenhuma reparação. Também não houve avanço na questão dos reassentamentos”.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
O Bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte denuncia que “somente em outubro de 2022 a Justiça reconheceu o direito das comunidades atingidas pelo rompimento da barragem do Fundão de serem auxiliadas pelas assessorias técnicas independentes (ATI). Elas estavam escolhidas desde 2018, mas as mineradoras não aceitaram, por motivos gananciosos. Um novo acordo tem sido construído com mediação do Conselho Nacional de Justiça. O que faz sobrar nos atingidos muitas incertezas. E as reclamações de não informação e participação. Assusta, ainda mais, saber que Estado e Instituições de Justiça são reféns dos interesses econômicos das mineradoras”.
Segundo Dom Vicente, que é membro da Comissão de Ecologia Integral e Mineração da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), “até 2050, os cientistas estimam que 1,2 bilhões de pessoas serão refugiadas por causa das mudanças climáticas. E não temos dúvidas de que nossa equivocada relação com o meio ambiente é a causa maior dessa tragédia socioambiental”. Ele lembra das palavras do Papa Francisco que “tem insistido na necessidade de uma conversão ecológica”. Para isso, afirma o bispo, “é preciso reconhecer que nosso tecido cultural global é pecaminoso. Porque substituiu Deus pelo dinheiro; a vida pelo lucro”.
“Não são situações isoladas. São resultados de uma violência sistêmica. Desse neoliberalismo colonizador. Que abastece o bolso dos ricos; deixa com os pobres a dor”, denuncia Dom Vicente Ferreira, lembrando que “depois do crime em Mariana, veio o que aconteceu em Brumadinho”.
Diante disso, “na contramão da continuidade do crime, ecoa um grito coletivo: ‘Enquanto há vida, há luta!’”, segundo o Bispo auxiliar de Belo Horizonte. Um grito que “se reforça nas redes de resistências”, citando aqueles que continuam na luta para que esse crime não seja esquecido: “a Caritas, a Comissão do Meio Ambiente da Província Eclesiástica de Mariana, movimentos sociais e tantos outros grupos atentos aos clamores dos pobres e da terra”.
Eles são vistos por Dom Vicente como “semeadores de outros modelos de sobrevivência. Os que emergem dos povos originários, dos quilombolas, da agroecologia etc. Coisas tão antigas e tão necessárias. Nosso futuro será ancestral. Ou continuaremos imersos em tanta lama do mal”.
O Bispo auxiliar de Belo Horizonte manifesta seu apoio “a todos e todas que perseveram na peleja por justiça, reparação e memória”, lhes dando as mãos desde Brumadinho, insistindo em que “desistir não é opção”. Segundo ele, “muitas são as dificuldades, mas nenhuma delas é maior do que o amor que nos colocou na condição de defensores dos direitos humanos e da terra”, insistindo em que “estamos do lado certo da história. E isso é nossa maior glória. Ainda que passemos por noites escuras. Mais vale a bravura”.
Lembrando as palavras de Conceição Evaristo: “eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer”, o bispo pede “que sejamos uma sirene capaz de despertar um novo céu e uma nova terra. Para isso, citando Laudato Si', Dom Vicente faz um chamado: “Caminhemos cantando; que as nossas lutas e a nossa preocupação por este planeta não nos tirem a alegria da esperança”.
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Dom Vicente Ferreira: 7 anos do crime de Mariana, “resultado de uma violência sistêmica” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU