17 Outubro 2022
A investigação histórica nos aproxima do homem Jesus. Nada mais. A partir daí, se cremos que Jesus é a revelação de Deus, então algo de Deus nos é revelado nessa humanidade de Jesus.
A opinião é do teólogo espanhol Jesús Martínez Gordo, presbítero da Diocese de Bilbao, na Espanha, e professor da Faculdade de Teologia de Victoria-Gasteiz e do Instituto Diocesano de Teologia e Pastoral de Bilbao. O artigo foi publicado em Settimana News, 13-10-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No dia 23 de junho passado, foi apresentado em Madri o livro-entrevista, assinado pelo sobrinho Juan Ignacio Pagola, que narra algumas passagens da vida do teólogo de San Sebastián, na Espanha, mais lido das últimas décadas: “José Antonio Pagola. Un creyente apasionado por Jesús”.
Foto: Divulgação
Quem o ler encontrará uma longa entrevista realizada e escrita com a empatia que, ainda hoje, é negada em muitos setores da Igreja e da sociedade civil.
Entendo, ao contrário deles, que essa atitude é exigida de quem tenta compreender qualquer contribuição, seja a do teólogo nascido no distrito de San Sebastián de Añorga, seja o de outros autores. E, em particular, de quem pretende criticar a contribuição que fundamenta e explica a vida a que se refere o texto que o leitor tem em suas mãos.
Adentrando-me em sua leitura, encontro-me, após a apresentação de Juan Ignacio, diante de um relato sóbrio e contido de uma grande quantidade de encontros e de incompreensões. Acima de tudo, há cinco passagens que chamam a minha atenção.
A primeira é a experiência de aproximação da pessoa do Nazareno que ele viveu junto ao lago da Galileia, entre os dias 15 de maio e 15 de junho de 1966: “Nada – confessa ele a seu sobrinho – teria sido o mesmo sem aquela experiência de Jesus. O que eu vivi naquele lugar marcou a minha vida para sempre. Mas esse encontro foi possível graças ao fato de eu ter tido uma magnífica iniciadora na fé: minha mãe... Tive a sorte de conhecer o Evangelho na cozinha de minha casa... Sua avó, sem nunca ter lido o Evangelho diretamente, me ensinou a viver com espírito evangélico”.
E eis o segundo encontro. Durante o período de formação em Roma, Pagola assistiu à celebração do Concílio Vaticano II (1962-1965). Foi então que se identificou com sua paixão de evangelizador, dando-se conta da necessidade de renovar a Igreja, tarefa à qual dedicaria uma parte muito importante de sua vida: se, um dia, a instituição eclesial não levasse a Jesus – confessa ele em diversas ocasiões – “seria uma Igreja morta. Essa profunda paixão por Jesus e pela renovação da Igreja guiou a minha vida como professor de teologia, como reitor do Seminário Maior de San Sebastián e como vigário geral da diocese”.
E explica que não se preocupou “tanto em conservar as tradições quanto em abrir a estrada para tudo o que pudesse contribuir para a sua renovação”. “Fui convidado a embarcar nessa aventura – cheia de muitos encontros e de muitas incompreensões, tanto eclesiais quanto sociais – pelo padre José María Setién, uma pessoa que, apesar de sua aparente frieza, eu nunca senti distante e de quem admirava a honestidade, a fé, a humildade, o senso de responsabilidade e sua total dedicação. Com ele, partilhei também sua paixão pela pacificação do País Basco, denunciando tanto a violência terrorista da ETA quanto a violência exercida pelo Estado, sem ignorar, por isso, as legítimas reivindicações dos direitos que eram exigidos”.
A publicação de “Jesus. Aproximação histórica” é o quarto capítulo dos encontros e das incompreensões. Quando o leitor adentra nessa passagem de sua vida, descobre algumas páginas interessantes, narradas sem amargura, com um enorme amor pela Igreja e também com uma compreensão incomum em relação a seus acusadores e detratores.
Quem quiser conhecer a complexidade desse doloroso “caso”, que durou quase cinco anos, tem aqui um magnífico fio condutor que, obviamente, deverá ser completado consultando as fontes originais e os textos a que o autor constantemente se refere.
Entre outras, merecem ser lembradas as linhas escritas sobre o tema por José Ignacio González Faus, nas quais o teólogo de Valência define como “a complexidade da questão” aquilo que a publicação e a leitura desse texto continuam suscitando ainda hoje.
Os críticos de Pagola – escreve Faus –, “sem se darem conta, projetam em Jesus a ideia pré-fabricada que já têm de Deus... O modo de proceder deveria ser o contrário: Jesus é assim; Jesus é Deus, portanto Deus é e age assim. Assim procedeu Pagola”. A investigação histórica nos aproxima do homem Jesus. Nada mais. A partir daí, se cremos que Jesus é a revelação de Deus, então algo de Deus nos é revelado nessa humanidade de Jesus.
Os “Grupos de Jesus”, os sete volumes de “Recuperar Jesus como Mestre interior” e os milhares de grupos que existem no mundo são – segundo José Antonio Pagola – o ápice de sua aproximação histórica ao Nazareno e de sua obra teológico-pastoral. “Se, com os primeiros textos e com a promoção de muitos grupos, tento favorecer a conversão individual e grupal a Jesus, com a segunda série de publicações pretendo relançar sua espiritualidade revolucionária”.
Enfim, um livro-entrevista que tem como protagonista alguém apaixonado por Jesus, assim como pela renovação de sua comunidade de discípulos, a Igreja e pela pacificação do País Basco.
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José Antonio Pagola, um fiel apaixonado por Jesus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU