13 Outubro 2022
Não há paz para a Igreja Católica no caso dos abusos, bem como continua indefensável a prática da imprensa italiana de não cobrir esse tipo de notícia. O Vaticano não só não divulga os acordos com cláusula de confidencialidade propostos às vítimas pelos padres pedófilos (como escrevemos ontem na investigação promovida pelos leitores sobre a violência na igreja), mas também tem o cuidado de não dar visibilidade aos protestos internos, mesmo quando são os mais jovens e os mais expostos a pedir justiça.
A reportagem é de Federica Tourn, publicada por Domani, 11-10-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na última segunda-feira, 3 de outubro, durante a missa solene na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, presidida pelo Arcebispo de Colônia, Dom Rainer Maria Woelki, duzentos coroinhas de sua diocese se levantaram e lhe viraram as costas em sinal de protesto.
A missa fez parte do programa da peregrinação dos ministrantes da diocese a Roma, guiada pelo próprio cardeal Woelki, da qual participaram dois mil garotos, garotas e jovens entre 14 e 30 anos.
Assim que o sermão começou, em pequenos grupos os coroinhas começaram a se levantar e se virar ostensivamente, enquanto outros saíram efetivamente da igreja. O pedido "Woelki deve sair!" foi repetido por várias vozes entre os corredores da basílica.
"Ele deve renunciar: não o queremos como cardeal de Colônia e nem queríamos que ele celebrasse a missa", declara Yannik Gran, um dos coroinhas que participou do protesto.
Woelki, arcebispo de Colônia desde 2014, está de fato envolvido nas acusações de ocultação de casos de violência contra menores em sua diocese. O cardeal alegando pretextos legais, não tornou público o relatório sobre os abusos que ele havia encomendado em 2019 ao escritório de advocacia de Munique Westpfahl Spilker Wastl, mas um relatório posterior de 2021 revelou que de 1975 a 2018 houve na Igreja da Colônia 314 vítimas e 202 abusadores, dois terços dos quais sacerdotes.
O relatório exonera Woelki da acusação de ter encoberto os responsáveis, mas os fiéis reagiram muito mal à maneira como o cardeal administrou toda a questão dentro da diocese e não acreditaram em seu não envolvimento no encobrimento de casos.
Após a publicação do segundo relatório, o papa decidiu enviar uma visita apostólica à diocese de Colônia e concedeu ao cardeal uma licença de seis meses. Woelki, reintegrado ao cargo na primavera europeia passada, apresentou sua renúncia ao Papa Francisco em março.
O pontífice, no entanto, até agora não tomou uma decisão sobre o assunto e é por isso que foi o controverso cardeal acabou acompanhando "seus" coroinhas durante a habitual peregrinação anual.
Na última segunda-feira, na Basílica de São Paulo, Woelki reagiu com irritação à indignação dos coroinhas, dizendo que a função, por ser uma "celebração de unidade e de paz", não era o lugar e o momento adequado para uma manifestação.
Durante o sermão, ele não perdeu a oportunidade de estigmatizar o protesto, assumindo o papel da vítima enquanto ressaltava do púlpito que "Jesus nunca deu as costas a ninguém".
“Na realidade, foi ele quem virou as costas para nós, nos evitando e se recusando por anos a responder às nossas perguntas sobre o escândalo dos abusos, e é isso que queríamos dizer com nosso gesto simbólico”, explica Gran.
"Não queremos mais apoiar um cardeal que cobriu centenas de episódios de violência na diocese de Colônia" acrescenta, "perdemos a fé nele e na Igreja que ele representa, e como nós muitos outros fiéis, que na Alemanha estão deixando a igreja neste momento".
Os coroinhas durante o protesto também mostraram bandeiras do arco-íris, em solidariedade à onda de renovação que atravessa a Igreja Católica alemã, às voltas com um importante e sofrido caminho sinodal, no qual se questiona, entre outras coisas, abolir o celibato, acolher os casais homossexuais e tornar o sacerdócio possível também para as mulheres.
“Queremos uma igreja aberta a todos, que não discrimine com base em gênero ou escolhas sexuais”, explica Gran. Inútil dizer que o Cardeal Woelki, decididamente conservador, sempre se mostrou contrário a qualquer abertura.
A missa terminou rapidamente e no final do serviço o cardeal não atravessou a basílica para a saída solene em meio aos coroinhas, como previsto, mas saiu apressado pela porta dos fundos.
A notícia do protesto foi amplamente divulgada pela mídia alemã, enquanto na Itália não saiu uma linha, como se nada tivesse acontecido. Apenas o Vatican News informa sobre a corajosa manifestação dos coroinhas em São Paulo, mas sem mencionar minimamente o acontecido: para o órgão do Vaticano, não havia evidentemente nada a sinalizar.
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O protesto dos coroinhas contra o arcebispo dos silêncios sobre os abusos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU