30 Setembro 2022
"Que o seu 'César' assuma a responsabilidade dos disparates que cometeu em seu governo, que nada tem de solidário, de humanidade. O governo do seu marido, dona Michelle, está mais para diabólico, que provoca divisões, do que para a harmonia. Jesus, com certeza, está fora dessa sua empreitada. Seu reino não é deste mundo. Lembre-se: Tomar o nome de Deus em vão é blasfêmia!", escreve Edelberto Behs, jornalista.
Eis o artigo.
A primeira-dama Michelle Bolsonaro, tida como tímida e retraída, entrou solando na campanha para a reeleição do marido, falando para a grei evangélica na busca de votos dessa vertente religiosa. Em nenhum outro período da história da República brasileira Deus, Jesus, anjos, demônios e capetas foram “chamados” para uma campanha eleitoral à presidência da República.
Em campanha na capital do Amazonas, ao lado do marido, Michelle chegou a afirmar que “quem governa o nosso Brasil é o Senhor Jesus Cristo. O presidente Jair Messias Bolsonaro é apenas um instrumento de Deus”. Logo em Manaus a primeira-dama envolveu Jesus na governança, capital onde faltou oxigênio para pessoas acometidas de covid!
Deixe disso, dona Michelle, deixe Jesus fora das suas evocações. Jesus nunca foi administrador e, se fosse, jamais deixaria mais de 400 mil brasileiros e brasileiras morrerem por falta de vacinas para combater a covid. Jamais facilitaria para a população civil a aquisição de armas e munições. Jamais permitiria que “seus” pastores trocassem recursos da Educação por favores a peso de ouro.
A não ser, Michelle, que nesses anos todos Jesus tenha se afastado do governo e deu no que deu. Talvez tenha tirado férias quando o Brasil registrou o maior número de óbitos pela pandemia, ou tenha ido tomar um cafezinho na esquina quando seu marido assinou os tantos decretos dando acesso a armas a quem tem grana para comprá-las.
Talvez Jesus estivesse em viagem oficial no exterior quando aqueles “seus representantes” estiveram no ministério da Educação negociando favores; ou quando seriam adquiridas vacinas a preços superfaturados. Será que Jesus aprovou a compra de 51 apartamentos de seus familiares com dinheiro vivo?
Não, dona Michelle, não use e abuse do nome do Senhor. Ele já sofreu bastante humilhação de sua grei quando, na campanha de 2018, transformaram a cruz numa arma; sofre quando vê gente morando embaixo de viadutos e correligionários seus oferecendo comida em troca de voto; sofreu quando seu marido fez “lives” imitando pessoas com falta de ar, morrendo de covid.
Jesus sofre quando o seu marido, macho alfa, ataca mulheres, lança mentiras nas redes sociais e impõe silêncio de 100 anos sobre gastos no cartão corporativo. O “evangelho” que a senhora difunde não corresponde com a mensagem de Jesus, de amor, de solidariedade, de paz, de amizade, de justiça social, de perdão, de partilha e de inclusão.
Foi Ele que disse: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.” Deixe a Deus o que é d'Ele, deixe-O fora da sua moeda enganadora. Que o seu “César” assuma a responsabilidade dos disparates que cometeu em seu governo, que nada tem de solidário, de humanidade. O governo do seu marido, dona Michelle, está mais para diabólico, que provoca divisões, do que para a harmonia. Jesus, com certeza, está fora dessa sua empreitada. Seu reino não é deste mundo. Lembre-se: Tomar o nome de Deus em vão é blasfêmia!
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Primeira-dama esquece que reino de Jesus não é deste mundo. Artigo de Edelberto Behs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU