No Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação iniciou-se Tempo da Criação 2022, que se estenderá até o dia 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis, padroeiro da ecologia. O Tempo da Criação é um período ecumênico, no qual os cristãos ao redor do mundo se unem em torno a um mesmo propósito: através da oração e ações concretas responder conjuntamente ao grito da Criação proteger nossa casa comum.
Em sintonia com esta proposta e no compromisso de contribuir no enfrentamento da emergência climática na qual o mundo de hoje está imerso, o Instituto Humanitas Unisinos se propõe oferecer semanalmente algumas sugestões para a oração pela Criação, tendo como fio condutor o tema-convite "Escute a voz da Criação!"
Em sua mensagem para o Tempo da Criação neste ano de 2022, o Papa Francisco escreve que “se se aprende a escutá-la, notamos uma espécie de dissonância na voz da criação. Por um lado, é um canto doce que louva o nosso amado Criador; por outro, é um grito amargo que se lamenta dos nossos maus-tratos humanos. Ao rezar pela criação ao longo desse Tempo da Criação deixemo-nos sensibilizar e desafiar por essa “dissonância na voz da Criação” que cada vez mais se acentua em meio à emergência climática, cujos sinais se agravam ao redor do mundo.
Que a escuta do canto doce da Criação nos ajude a fortalecer uma comunhão universal com todas a criaturas, na certeza da presença de Deus na criação.
Unamo-nos aos salmistas em sua oração:
"Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos. Um dia fala disso a outro dia; uma noite o revela a outra noite.... não se ouve a sua voz. Mas a sua voz ressoa por toda a terra, e as suas palavras, até os confins do mundo". (Sl 19,1-4).
"Todo ser que respira louva o Senhor. Aleluia!" (Sl 150,6)
Unamo-nos a São Francisco de Assis em seu canto de louvor ao Senhor, “com todas as tuas criaturas”:
Onipotente e Bom Senhor
(Cântico das criaturas, adaptado por Zé Vicente)
A canção doce da Criação é acompanhada de um “coro de gritos amargos”, sobre os quais o Papa Francisco escreve:
“Primeiro, é a irmã Madre Terra que grita. À mercê dos nossos excessos consumistas, geme implorando para pararmos com os nossos abusos e a sua destruição. Depois gritam as diversas criaturas. À mercê dum «antropocentrismo despótico» (Laudato si', 68), nos antípodas da centralidade de Cristo na obra da criação, estão a extinguir-se inúmeras espécies, cessando para sempre os seus hinos de louvor a Deus. Mas gritam também os mais pobres entre nós. Expostos à crise climática, sofrem mais severamente o impacto de secas, inundações, furacões e vagas de calor que se vão tornando cada vez mais intensas e frequentes. E gritam ainda os nossos irmãos e irmãs de povos indígenas. Por causa de predatórios interesses económicos, os seus territórios ancestrais são invadidos e devastados por todo o lado, lançando «um clamor que brada ao céu» (Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Querida Amazonia,9). Enfim gritam os nossos filhos. Ameaçados por um egoísmo míope, os adolescentes pedem-nos ansiosamente, a nós adultos, que façamos todo o possível para prevenir ou pelo menos limitar o colapso dos ecossistemas do nosso planeta.[1]
Convidamos nesta primeira semana de Oração pela Criação a rezar em atenção aos gritos da terra. Convidamos a acolher a voz de dor e lamento através da leitura de notícias atualizadas sobre a emergência climática que põe em risco nossa Casa Comum, a Mãe Terra, e todos os seres vivos que nela habitam.
Deixemos que os “gritos da terra” e com estes os gritos de todas as criaturas, especialmente os “gritos dos pobres” mobilizem em nós as melhores disposições para uma conversão ecológica na qual possam se manifestar os compromissos ecológicos decorrentes do encontro com Jesus. Como recorda a Encíclica Laudato Si’. “viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial duma existência virtuosa.” (LS 217)
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"A gravidade da situação torna urgente a necessidade de identificar as formas praticáveis de sair da atual tribulação e criar as condições para o restabelecimento de uma relação harmoniosa entre o homem e a natureza segundo o projeto original de Deus."
(Encíclica Laudato Si')
Nós Vos louvamos, Pai,
com todas as vossas criaturas,
que saíram da vossa mão poderosa.
São vossas e estão repletas da vossa presença
e da vossa ternura.
Louvado sejais!
Filho de Deus, Jesus,
por Vós foram criadas todas as coisas.
Fostes formado no seio materno de Maria,
fizestes-Vos parte desta terra,
e contemplastes este mundo
com olhos humanos.
Hoje estais vivo em cada criatura
com a vossa glória de ressuscitado.
Louvado sejais!
Espírito Santo, que, com a vossa luz,
guiais este mundo para o amor do Pai
e acompanhais o gemido da criação,
Vós viveis também nos nossos corações
a fim de nos impelir para o bem.
Louvado sejais!
Senhor Deus, Uno e Trino,
comunidade estupenda de amor infinito,
ensinai-nos a contemplar-Vos
na beleza do universo,
onde tudo nos fala de Vós.
Despertai o nosso louvor e a nossa gratidão
por cada ser que criastes.
Dai-nos a graça de nos sentirmos
intimamente unidos
a tudo o que existe.
Deus de amor,
mostrai-nos o nosso lugar neste mundo
como instrumentos do vosso carinho
por todos os seres desta terra,
porque nem um deles sequer
é esquecido por Vós.
Iluminai os donos do poder e do dinheiro
para que não caiam no pecado da indiferença,
amem o bem comum, promovam os fracos,
e cuidem deste mundo que habitamos.
Os pobres e a terra estão bradando:
Senhor, tomai-nos
sob o vosso poder e a vossa luz,
para proteger cada vida,
para preparar um futuro melhor,
para que venha o vosso Reino
de justiça, paz, amor e beleza.
Louvado sejais!
[1] Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação