02 Setembro 2022
A liberação das armas de fogo não é uma pauta de policiais. “Ela parece ser uma pauta do governo Jair Bolsonaro e das lideranças policiais que estão se candidatando”, constata pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública sobre Policiais, Democracia e Direitos.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
“Saber que os profissionais da segurança pública, por inúmeras razões, não estão capturados pela narrativa golpista é uma informação fundamental hoje no cenário político e institucional brasileiro”, aponta a pesquisa.
Ao se posicionarem quanto à afirmação “A sociedade brasileira seria mais segura se as pessoas andassem armadas para se proteger da violência”, 27,6% do universo pesquisado concordaram e 30,5% discordaram, enquanto 33,3% concordaram em parte.
As maiores proporções de concordância foram observadas no Corpo de Bombeiros (38,6%), nas Polícias Penais (36.8%) e na Polícia Militar (30,7%). Desacordos mais contundentes, que discordaram totalmente da afirmativa, apareceram na Polícia Científica/Perícia (36,7%) e na Polícia Federal (35,4%).
O Fórum alerta, no entanto, que essa pesquisa serve para a captação de tendências, que posteriormente precisam ser confirmadas por estudos mais aprofundados. Mas dá para concluir que profissionais de seguranças pública podem “ser considerados um segmento mais conservador do que a média geral da população”.
Um dos critérios que reforçam a constatação baseia-se no levantamento do Fórum sobre candidaturas de policiais para as eleições deste ano, a partir de dados do TSE: 94,9% dos candidatos são de partidos à direita no espectro político.
Do universo pesquisado, 95,6% responderam que concordam com a assertiva “O povo escolher seus líderes em eleições livres e transparentes é essencial para a democracia”; 84,5% disseram que a democracia é preferível a qualquer outro regime de governo; 80,9% concordam que “Quem for declarado vencedor das eleições pela Justiça Eleitoral [portanto, sem questionamento quanto à confiabilidade das urnas eletrônicas) deverá ser empossado em 1º de janeiro; 62,9% discordam que “Quando há uma situação de crise, não importa que o governo passe acima das leis, do Congresso ou das instituições com o objetivo de resolver os problemas [mas 8,8% concordam com um governo autoritário]; 55,6% discordam que “Em alguns casos seria justificável que os militares apoiassem ou tomassem o poder através de um Golpe de Estado [mas 14,7% concordam].
Apesar desses resultados globais, a pesquisa do Fórum indica que entre 15% e 40% dos respondentes “podem ser considerados radicalizados ou potencialmente radicalizáveis, a depender das características da conjuntura política e institucional. São os que não discordam ou relativizam um golpe de Estado”.
A pesquisa “Política entre os Policiais Militares, Civis e Federais do Brasil, realizada pelo Fórum em agosto de 2021, detectou que 38% dos policiais interagem em ambientes digitais ligados ao bolsonarismo, e desses 21% estavam associados ao “bolsonarismo radical”, na defesa aberta de teses golpistas.
O levantamento recente realizado pelo Fórum mostrou que, pelo menos formalmente, 74,9% dos policiais concordam que o respeito aos direitos humanos é essencial para a democracia.
O Fórum obteve 5.058 respostas completas dos policiais em todas as questões. Do universo ouvido, 85,6% têm entre 30 e 55 anos de idade; 83,5% dos respondentes foram homens; 53,6% se autodeclararam pretos e pardos; 44% são católicos, 23,9% evangélicos (entre tradicionais e neopentecostais); 34,6% têm ensino superior completo; 89,7% estão na corporação há mais de cinco anos.
A pesquisa está disponível aqui.
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Policiais: mais conservadores, mas maioria democrata e contra golpe - Instituto Humanitas Unisinos - IHU