16 Agosto 2022
"O que esperamos ouvir ainda é a promessa de que a morte não tem a última palavra, que o amor que vivemos vence a morte, que nossas histórias e nossos amores não podem terminar no nada. Essa esperança cristã não é nem certeza, nem conhecimento ou saber, mas pode ser convicção para nós, frágeis e mortais, de que, como estrangeiros na terra, ao cair da noite, devemos caminhar juntos com o fogo da esperança que arde em nossos corações e que promete que o caminho não terminará no nada", escreve Enzo Bianchi, monge italiano e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Stampa, 15-08-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Hoje é 15 de agosto, o feriado-festa de agosto, símbolo das férias e do descanso desde o tempo do imperador Augusto. Esta festa foi depois cristianizada e tornou-se a festa da passagem da terra para o céu da mãe de Jesus, Maria de Nazaré, que se tornou a "Terra do Céu". Uma memória importante para os cristãos, porque, depois da Páscoa, é aquela que expressa definitivamente sua fé na vida no além, além da morte.
Justamente sobre a morte, mais cedo ou mais tarde, desembocam as nossas perguntas: de fato, apesar das tentativas de remoção, sabemos que a nossa vida tem um fim, que a morte como fim desta vida é inevitável. Alguns de nós com serenidade, outros com ansiedade ou angústia pensam naquele momento com medo da dor ou da inconsciência.
E eis aqui a verdadeira pergunta: "Cada um de nós é apenas um parêntese entre dois nadas, o nada antes do nascimento e depois da morte?" Na realidade é uma pergunta, formulada por Jean Paul Sartre, que acompanha o homem desde os primórdios da humanidade e não o deixará, porque uma resposta nunca será dada pela ciência ou pela razão.
Por isso a religião e a espiritualidade tentaram balbuciar respostas buscando despertar esperança, investigando se seria possível afirmar que cada um de nós veio ao mundo não por acaso ou por necessidade, mas em um espaço de liberdade e amor.
O cristianismo, buscando recursos da seiva judaica, elaborou várias imagens: um Reino em que Deus venceu a morte, um jardim-Éden, um céu, uma vida eterna para quem viveu no amor e um lugar de ausência de luz para quem operou o mal.
Mas, para além da promessa de recompensa ou castigo, o grande anúncio cristão é a ressurreição, a vida eterna, a participação na própria vida de Deus: "Deus se fez homem para que o homem se torne Deus", reza o adágio da fé cristã.
Mas hoje os cristãos sobre essa esperança são hesitantes, mudos, "não sabem o que dizer", não tanto pela linguagem, mas pela falta de fé e esperança. Sim, é precisamente a falta de fé que nos impede de falar sobre o além, e por isso as pessoas se perguntam desorientadas: "O que haverá no além?"
Parece que para as Igrejas as palavras do próprio Jesus, não mais repetidas, causem constrangimento ao pronunciá-las. Mas se elas não anunciam a esperança além da morte, o que anunciam? A ética? Até os humanos sabem como procurá-la e apontá-la!
A justiça social? Mas para isso não há necessidade de religião, que entre outras coisas, até ontem, muitas vezes criou obstáculos às lutas por justiça e liberdade.
O que esperamos ouvir ainda é a promessa de que a morte não tem a última palavra, que o amor que vivemos vence a morte, que nossas histórias e nossos amores não podem terminar no nada.
Essa esperança cristã não é nem certeza, nem conhecimento ou saber, mas pode ser convicção para nós, frágeis e mortais, de que, como estrangeiros na terra, ao cair da noite, devemos caminhar juntos com o fogo da esperança que arde em nossos corações e que promete que o caminho não terminará no nada.
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As nossas perguntas sobre a vida após a morte. Artigo de Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU