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08 Fevereiro 2012

"O Concílio Vaticano II, como evento intencionalmente pastoral, não acrescentou verdades para acreditar, mas refletiu sobre a globalidade da história cristã no mundo contemporâneo. Para ativar um cristianismo vivível, comunicativo, credível". Assim Ugo Sartorio (foto) encerra a introdução de Fare la differenza. Un cristianesimo per la vita buona (Ed. Cittadella, 254 páginas), com uma referência explícita ao concílio do qual, em outubro, celebra-se o 50º aniversário de abertura. Uma referência que também é a chave de leitura dessas páginas, voltadas a repensar a presença cristã na realidade pós-moderna.

A análise é do monge e teólogo italiano Enzo Bianchi, prior e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado no jornal La Stampa, 29-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O autor, franciscano conventual, tem uma rara capacidade divulgativa: ex-professor de teologia fundamental, dirige tanto a revista Credere Oggi, quanto a revista mensal católica Il Messaggero di Sant'Antonio.

O leitor pode, assim, se encaminhar confiante em um percurso que tende a ressituar o cristianismo através da categoria da "diferença": longe de ser um distanciamento do mundo, a diferença cristã aqui proposta é sobretudo um "estilo de vida" que consegue veicular a mensagem evangélica melhor do que qualquer discurso apologético e de gerar interesse em uma sociedade cada vez mais indiferenciada, senão até indiferente. Estilo de vida que não é "forma" contraposta ao "conteúdo", mas sim a encarnação da esperança, corpo oferecido ao ideal evangélico.

A reflexão de Sartorio se articula desse modo em dois blocos complementares – "pensar a diferença" e "viver a diferença", que, de um lado, estimulam a necessária elaboração de um pensamento sobre Deus e sobre a humanidade enraizado nos ditos evangélicos e na milenar história do testemunho cristão; e, de outro lado, evidenciam algumas experiências históricas de "diferença" vivida: a relação entre clérigos e leigos, o significado da vida religiosa, a complementaridade entre celibato pelo reino e matrimônio cristão.

Não falta um atento exame das "figuras" que o anúncio cristão assumiu nesta época do pós-moderno: nova evangelização, inculturação, testemunho são examinados para fazer surgir deles, para além das diversas terminologias e das relativas abordagens, a convergência em torno do próprio Evangelho e a figura de Jesus Cristo. Aí, e não em outro lugar, de fato, continua-se pondo em jogo a seriedade da presença cristã na sociedade de todos os tempos e épocas, como Armando Matteo observa astutamente no posfácio do livro: "A eficácia do anúncio daquela vida boa que brota do Evangelho de Jesus dependerá cada vez mais da capacidade do pensamento e do testemunho cristãos de assumirem paciente, respeitosa e inteligentemente aquilo que hoje podemos e devemos nomear como o esforço pós-moderno de crer".

E talvez seja justamente essa a difícil herança deixada pelo Concílio.