10 Agosto 2022
Esclarecimentos relevantes da Santa Sé. Aquele diálogo entre Roma e Moscou é "difícil, avança a pequenos passos e que também passa por altos e baixos".
O encontro em Jerusalém entre o Papa Francisco e o patriarca Kirill foi suspenso porque “não teria sido entendido e o peso da guerra em curso o teria condicionado em demasia”.
A reportagem é publicada por Il sismógrafo, 09-08-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na importante entrevista concedida à revista "Limes" pelo Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Papa Francisco, sobre a guerra russa contra a Ucrânia o cardeal reafirma conceitos já expressos e acrescenta outros esclarecimentos que permitem pensar que entre a Santa Sé e a as autoridades ucranianas estão sendo superandos alguns mal-entendidos e, portanto, a visita do Papa à capital ucraniana é cada vez mais plausível.
Aqui estão alguns trechos da entrevista em que se falou longamente sobre a agressão da Federação Russa contra a Ucrânia, assim como são apresentados pelo site Vatican News (Rádio Vaticano):
... A bússola a seguir é e é será uma: o Evangelho. ”Anúncio de paz, promessa e dom de paz - explica o Cardeal Parolin - todas as suas páginas estão repletas delas. Os anjos a invocam no momento do nascimento de Jesus em Belém. Ele mesmo a almeja aos seus logo após ter ressuscitado. A Igreja segue o exemplo do seu Senhor: acredita na paz, trabalha pela paz, luta pela paz, testemunha a paz e tenta construí-la. Nesse sentido, é um pacifista”. E, quanto ao uso de armas, Parolin especifica que “o catecismo da Igreja Católica prevê a legítima defesa. Os povos têm o direito de se defender se forem atacados. Mas essa legítima defesa armada deve ser exercida dentro de certas condições que o próprio catecismo enumera: que todos os outros meios para pôr um fim à agressão se mostrem impraticáveis ou ineficazes; que existam razões bem fundamentadas de sucesso; que o uso de armas não cause males e desordens mais graves do que aqueles a serem eliminados”.
Eis aqui, o uso das armas. Desproporcional e imprudente. Em muitas partes do mundo. Porque, como sublinha o Cardeal Parolin na entrevista a Limes, “a guerra começa no coração do homem. Cada insulto sangrento afasta a paz e torna qualquer negociação mais difícil”. O Papa muitas vezes repete isso em seus apelos. No entanto, observa o secretário de Estado, “a voz do papa é muitas vezes vox clamantis in deserto (“uma voz que clama no deserto”). É voz profética, de clarividente profecia. É como uma semente lançada que precisa de solo fértil para dar frutos. Se os principais atores do conflito não levarem em consideração suas palavras, infelizmente, nada acontece, não se consegue o fim dos combates”.
“Ainda hoje - continua Parolin - no trágico caso ucraniano, não parece emergir no momento a disposição de iniciar verdadeiras negociações de paz e aceitar a oferta de uma mediação super partes. Como é evidente, não é suficiente que uma das partes a proponha ou sugira unilateralmente, mas é imprescindível que ambas expressem sua vontade nesse sentido. Mais uma vez... vox clamantis in deserto. Mas as palavras do Papa continuam sendo, no entanto, um testemunho do mais alto valor, que incide em muitas consciências, tornando os homens mais conscientes de que a paz e a guerra começam em nossos corações e que todos somos chamados a dar a nossa contribuição para promover a primeira e evitar a segunda”.
Solicitado pelas perguntas dos interlocutores, em referência à Ucrânia, Parolin reconhece “a possibilidade de um salto negativo para a conjunção das peças em um verdadeiro conflito mundial. Acredito que ainda não estamos em condições de prever ou calcular as consequências do que está acontecendo. Milhares de mortos, cidades destruídas, milhões de pessoas deslocadas, o ambiente natural devastado, o risco de carestia devido à falta de trigo em muitas partes do mundo, a crise energética... Como é possível que não se reconheça que a única resposta possível, o único caminho trilhável, a única perspectiva viável é parar as armas e promover uma paz justa e duradoura?”
Precisamente sobre a possibilidade de uma viagem do Papa Francisco aos países em conflito na Europa oriental, o secretário de Estado especifica que o maior desejo do pontífice, "e, portanto, sua prioridade", é que “através das suas viagens possa-se chegar a um benefício concreto. Com isso em mente, ele disse que queria ir a Kiev para levar conforto e esperança às populações atingidas pela guerra. Da mesma forma, ele anunciou sua disposição de viajar também para Moscou, na presença de condições que sejam realmente úteis para a paz”. Parolin observou então que o diálogo entre Roma e Moscou é um “diálogo difícil, que avança em pequenos passos e que também passa por altos e baixos”, mas que “não foi interrompido”. O encontro em Jerusalém entre o Papa Francisco e o Patriarca Kirill foi suspenso porque "não teria sido compreendido e o peso da guerra em curso o teria condicionado em demasia".
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Declarações do Cardeal Pietro Parolin que esboçam uma viagem do Papa a Kiev - Instituto Humanitas Unisinos - IHU