30 Junho 2022
Encontro em Lisboa, sobre a Conferência dos Oceanos, alertou para impactos das alterações climáticas.
A reportagem é publicada por Agência Ecclesia, 28-06-2022.
D. Peter Chong, arcebispo de Suva, nas Ilhas Fiji, e presidente da Federação das Conferências Episcopais Católicas da Oceania (FCBCO), alertou hoje em Lisboa para a necessidade de superar um paradigma “tecnocrático” na luta contra as alterações climáticas.
Foto: Agência Ecclesia
“A crise ecológica acontece porque há uma crise interior”, referiu o responsável católico, na iniciativa ‘Oceania Talanoa’ – palavra que remete para um termo local das Fiji, que descreve um diálogo participativo, que decorreu no Colégio Pedro Arrupe, à margem da Conferência dos Oceanos da ONU.
O presidente da FCBCO denunciou as dificuldades colocadas às mudanças, pedindo mais espaço para a “linguagem espiritual, simbólica, artística”.
“Que linguagem chega ao coração das pessoas e leva à mudança? A mudança começa pelo coração”, sustentou.
O arcebispo das Fiji apontou limitações da linguagem científica e acadêmica, de um pensamento “antropocêntrico” e marcado pelo “poder do dinheiro”.
“Estamos a tentar reparar o mundo sem fazer menção a quem fez o mundo”, acrescentou D. Peter Chong.
O jesuíta Pedro Walpole presidente do Instituto de Ciências Ambientais para a Mudança Social, nas Filipinas, e coordenador global da Ecojesuíta, desafiou os consumidores de todo o mundo a ser “parte da solução” em vez de aumentarem o problema, “ligando o ar condicionado”.
“Estamos todos ligados pelo oceano”, observou, realçando que o papel do mar na diminuição da temperatura global está atualmente “ameaçado” pelas alterações climáticas.
“Milhões de pessoas estão a sofrer”, denunciou, pedindo uma “Economia de Justiça” e mudanças, “já”.
Theresa Ardler, agente de ligação de pesquisa indígena da Universidade Católica Australiana, cresceu numa comunidade aborígene piscatória, que acredita vir do mar e que, após a morte, regressa ao Oceano para se transformar em baleias-jubarte.
A convidada questionou a falta de valorização desta relação ancestral com o oceano.
Foto: Agência Ecclesia
“Sinto que os indígenas de todo o mundo não têm voz”, lamentou.
Pelenatita Kara, do Fórum da Sociedade Civil de Tonga, emocionou-se ao falar do oceano como uma “pessoa”, que assobia, grita ou canta e que, agora, alerta para o mal que lhe foi provocado.
“Apontamos uma arma carregada à própria cabeça”, advertiu.
Tevita Naikasowalu, coordenador do Departamento de Justiça, Paz e Integridade da Criação dos Missionários de São Columbano nas Fiji, chorou ao falar das “pessoas sem voz”, do sofrimento dos seus antepassados, que veio representar em Lisboa, à custa das poupanças de toda a sua vida.
“Temos de viver com mais simplicidade”, recomendou.
A irmã Robyn Reynolds, professora na Yarra Theological Union, Austrália, viveu durante várias décadas no deserto australiano, mas deixou uma certeza: “Sou oceano”.
A sessão concluiu-se com a música ‘Lamento da Oceania’: “Poluição, mineração e alterações climáticas/Tudo o que precisamos é de uma oportunidade/Para viver e ser livres, apenas”.
Uma delegação de grupos católicos da Oceania participa pela primeira vez no evento das Nações Unidas.
A conversa foi moderada por Amy Echeverria, co-coordenadora da Taskforce de Ecologia do Vaticano e membro da Sociedade Missionária de S. Columbano, EUA.
Foto: Agência Ecclesia
Esta iniciativa foi uma parceria entre o presidente da Federação das Conferências de Bispos Católicos da Oceania, a ‘Task Force’ de Ecologia da Comissão Covid-19 do Vaticano, o ‘Institute of Environmental Science for Social Change’ (ESSC), a Sociedade Missionária de São Columbano, a Sociedade dos Missionários do Verbo Divino, a ‘Gweagal Cultural Connections’, a Cáritas Internacional, a Cáritas Oceania, a Cáritas Portuguesa, a Congregação das Irmãs de São José da Paz, a Congregação das Filhas de Nossa Senhora do Sagrado Coração, a Conferência Jesuíta do Sul da Ásia, o Movimento ‘Laudato Si’ e a Universidade Católica da Austrália.
Portugal, em conjunto com o Quênia, organiza até 1 de julho a segunda Conferência dos Oceanos, sob o lema “Salvar os Oceanos, Proteger o Futuro”.
O Governo português espera ver aprovada uma ‘Declaração de Lisboa’, que ajude a concretizar o ODS 14, acelerando o combate à poluição e reforçando a preservação da biodiversidade e a sustentabilidade.
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Indígenas da Oceania defendem mudança imediata para salvar os mares - Instituto Humanitas Unisinos - IHU