21 Junho 2022
Dados da oitava edição do Boletim Desigualdade nas Metrópoles mostram que a recuperação da renda dos mais pobres perdeu força nas metrópoles brasileiras no início de 2022. Após cinco trimestres consecutivos de leve crescimento, a média da renda do trabalho (formal e informal) dos 40% mais pobres no conjunto das metrópoles do país caiu, chegando a R$240,79 per capita. “É um empobrecimento de longa duração e isso traz consequências sociais terríveis. As famílias vão ‘queimando’ as reservas que tinham para poder sobreviver nesse período e essa agonia não passa, vai perdurando trimestre a trimestre”, ressalta Andre Salata (PUCRS).
A informação é publicada por Observatório das Metrópoles, 20-06-2022.
A média geral de rendimentos para todos os estratos também seguiu em queda, alcançando no primeiro trimestre de 2022 o pior nível de toda a série histórica, com o valor de R$ 1.405,73. Quando comparada com a situação no último trimestre antes da pandemia, momento em que a renda média nas metrópoles era de R$1.575,51, a redução foi de 10,7%. Desde 2020, já são oito trimestres de renda média atingindo os menores valores de toda a série histórica, iniciada em 2012, nas metrópoles brasileiras.
“Um dos fatores que podem explicar a queda é a inflação, que está corroendo a renda de todos, e que está interrompendo esse processo de recuperação dos mais pobres e faz a gente ver esse resultado”, avalia Salata. Mas, segundo ele, também existem outros elementos, como a própria recuperação do mercado de trabalho. “A taxa de desocupação vinha caindo e a tendência é de uma certa estabilidade nesse último trimestre que analisamos”, pontua. Além disso, os pesquisadores afirmam que essa recuperação está muito baseada em ocupações de baixo status e de baixa remuneração. Então, esses fatores juntos, mas principalmente a inflação, explicam o motivo da queda da renda dos mais pobres depois de uma sequência de trimestres em recuperação.
Uma grave consequência é que após cinco trimestres de queda, voltou a aumentar o percentual de moradores do conjunto das metrópoles que vivem em domicílios cuja renda média per capita do trabalho era de até ¼ do salário-mínimo. Em termos absolutos, no primeiro trimestre de 2022 foram registradas 21,1 milhões de pessoas nessa situação. E o mesmo crescimento foi observado também para a taxa de crianças de até cinco anos de idade que vivem nesses lares. A taxa alcançou 29,2% da população de crianças, patamar próximo ao registrado no auge da pandemia: 32,2%. Em termos absolutos, no início de 2022 havia 1,8 milhões de crianças nessa situação, o que é um número maior que o da população total de Regiões Metropolitanas como Natal, João Pessoa, Maceió e Florianópolis.
Conforme Marcelo Ribeiro (IPPUR/UFRJ), o quadro explicita o drama social existente nas metrópoles brasileiras. “Essa situação de pobreza, ao atingir quase 30% das crianças de até cinco anos de idade, na medida em que renda é fundamental para garantir as condições de alimentação e nutrição, numa faixa etária em que as pessoas estão passando pelo desenvolvimento humano, psíquico e cognitivo, estamos comprometendo toda uma geração”, alerta Ribeiro.
Confira na íntegra o "Boletim Desigualdade nas Metrópoles nº 08".
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Desigualdade nas metrópoles: renda dos mais pobres volta a cair e explicita o drama social do país - Instituto Humanitas Unisinos - IHU