06 Junho 2022
A decisão foi tomada depois de uma "visita fraterna a pedido de Roma", uma espécie de missão de inspeção, nessa diocese chefiada pelo bispo Dominique Rey, um dos mais conservadores do episcopado francês.
A reportagem é de Cecile Chambraud, publicada por Le Monde, 03-06-2022. A tradução da versão italiana é de Luisa Rabolini.
Decisão totalmente inesperada no mundo eclesiástico francês. O bispo de Fréjus-Toulon, Dominique Rey, anunciou na quinta-feira, 2 de junho, que a pedido expresso do Vaticano ele foi forçado a adiar a ordenação dos quatro padres e seis diáconos prevista este ano em sua diocese.
Essa decisão totalmente inusitada vinda de Roma é tanto mais surpreendente pois ocorre alguns dias antes da missa de ordenação dos novos clérigos, que tradicionalmente acontece por volta de 29 de junho, dia da festa dos apóstolos Pedro e Paulo. “Aceitamos este pedido com dor, mas também com confiança, na consciência da prova que representa sobretudo para aqueles que se preparavam para receber a ordenação”, escreve o bispo num comunicado publicado no site da sua diocese.
O bispo especifica que essa ordem vinda da Santa Sé foi tomada depois de uma "visita fraterna" realizada nos últimos meses na diocese, "a pedido de Roma", por Jean- Marc Aveline, arcebispo metropolitano de Marselha - a quem se reporta Fréjus-Toulon - que será nomeado cardeal pelo Papa Francisco em agosto. Essa "visita fraterna" é uma espécie de missão de inspeção durante a qual são interrogados os vários componentes da diocese - leigos, clero e religiosos. Vários departamentos da administração romana levantaram "questões" sobre "a reestruturação do seminário e a política de acolhimento da diocese". O arcebispo Rey falou sobre o assunto com o cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação Romana para os Bispos, em Roma. As ordenações estão suspensas "no aguardo da continuação das conversas em curso" com o Vaticano.
Especificamente, é o funcionamento do seminário de La Castille (Var) que está na mira de Roma.
Por iniciativa de D. Rey, bispo de referência do polo mais conservador do episcopado francês, esse centro de formação diocesano é um dos mais "produtivos" em termos de ordenações.
Situado em um castelo legado à diocese na década de 1920, fechado na década de 1950 devido à crise vocacional, foi reaberto em 1983. À frente da diocese desde 2000, Dominique Rey se empenhou para dinamizá-lo.
Ele mesmo, vindo da Communauté de l'Emmanuel, comunidade de renovação carismática, fez entrar no seminário novas comunidades (carismáticos, missionários, tradicionalistas...). Há cerca de uma dezena, algumas das quais, como os Missionários da Misericórdia, seguem a forma extraordinária do rito romano, ou seja, a Missa em latim, da qual Bento XVI estendeu o uso, mas que o Papa Francisco quer limitar.
No entanto, há anos D. Rey tem dado espaço a pequenas comunidades missionárias que trouxe especialmente do Brasil, em paróquias que, de outra forma, não teriam mais pessoal para manter suas atividades. Na diocese pensa-se que essa política de acolhimento "muito ampla" dos candidatos ao presbitério é - em alguns casos até mesmo jovens que não puderam continuar a sua formação no seminário de origem, e de comunidades muito distintas, "muitas das quais vêm do exterior”, despertou questionamentos em Roma.
Numa paisagem marcada pela falta de vocações, o seminário de La Castille está numa posição menos ruim do que muitos outros centros de formação diocesanos. Conta com cerca de cinquenta seminaristas. Em 2021, seis novos padres foram formados. Apenas a diocese de Paris está indo melhor. Recruta fora da diocese e atrai jovens seduzidos pelo catolicismo "assertivo", muito voltado para a evangelização, encarnado por D. Rey.
O bispo de Toulon nem mesmo hesita em se envolver no debate político. Depois de ter se mobilizado, nos anos de 2012-2013 contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e questões de gênero, contribuiu para romper a barreira entre católicos praticantes e a extrema direita, convidando em primeiro lugar Marion Maréchal para uma "université d'été" organizada em sua diocese em 2015.
O Vaticano parece ter decidido observar mais de perto o recrutamento e a formação de futuros padres em alguns seminários franceses. Como revela o cotidiano Libération, a Communauté Saint-Martin, em Evron (Mayenne), também receberá em breve uma visita decidida por Roma e confiada ao bispo de Mende, Benoît Bertrand. O seminário da Communauté Saint-Martin é o primeiro formador de padres na França. Em 2021, 26 dos 130 novos padres vinham dele. Após sua ordenação, a Communauté, também parte do “catolicismo identitário”, “empresta” alguns de seus padres às dioceses mais necessitadas. Assim estende sua influência, embora desperte uma certa desconfiança.
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O Vaticano suspende a ordenação de padres na diocese de Fréjus-Toulon - Instituto Humanitas Unisinos - IHU