31 Mai 2022
"A Igreja do Papa Francisco não é composta de conservadores e progressistas, embora com certeza estão presentes, mas a relação decisiva é aquela entre centro e periferia, entre periferias que se tornam centro e o centro que se engaja em sempre novas e mais numerosas periferias".
O artigo é de Riccardo Cristiano, jornalista italiano, publicado por Formiche, 30-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os anos passam, mas a obra de construção da Igreja global não conhece pausa ou desaceleração. Entre as reformas de Francisco, esta é a mais evidente. A Igreja global toma forma sobretudo na composição do novo colégio cardinalício, ao qual Francisco acrescenta outros elementos muito importantes. Antigamente havia as "sés cardinalícias", os grandes blocos continentais eram formados pelos arcebispos mais proeminentes nas principais cidades dos Estados Unidos, Europa, grandes países latino-americanos e cada vez mais também da África. Agora desaparecem as sés cardinalícias e emergem as periferias. Assim também a Igreja da Mongólia chega ao Colégio: quem sabia que existia?
Esta Igreja que vive na soleira, como explica Massimo Faggioli, a atravessa a cada rodada de nomeações cardinalícias para ir cada vez mais "em direção àqueles mundos" que trazem vozes, experiências, visões, entendimentos, para um centro que assim se torna cada vez mais rico, global e, portanto, também periferia em si em relação a esses numerosos novos centros que explicam o mundo. A globalização de Francisco é outra: a sua Igreja global não nivela as diferenças, tornando-nos todos iguais, pelo contrário, exalta-as, faze-as emergir, tornando o centro sempre diferente, mais rico.
O trabalho obviamente não ignora as exigências "estruturais" que Francisco não negligencia, é claro. Assim, entre os novos cardeais não se pode deixar de dizer imediatamente que existam três chefes de dicastério da Cúria Romana. São o inglês Arthur Roche, prefeito da Congregação para o Culto Divino; o coreano Lazarus You Heung-sik, prefeito da Congregação do Clero; o espanhol Fernando Vérgez Alzaga, presidente da Pontifícia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano e Governadoria. Mas se isso serve para fazer funcionar a relação entre colégio e departamentos curiais, são as nomeações das realidades emergentes que desempenham a parte do leão na criação do encontro com as periferias.
Vamos ler os nomes e os lugares de origem dos outros cardeais eleitores: Jean-Marc Avelin, arcebispo de Marselha; Peter Ebere Okpaleke, bispo de Ekwulobia, Nigéria; Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, Brasil; Filipe Neri Antônio Sebastião do Rosário Ferrão, arcebispo de Goa e Damão, Índia; Robert W. McElroy, bispo de San Diego, EUA; Virgílio do Carmo da Silva, arcebispo de Timor Leste; Oscar Cantoni, bispo de Como, Itália; Anthony Poola, arcebispo de Hyderabad, Índia; Paulo César Costa, arcebispo de Brasília; Richard Kuuia Baawobr, arcebispo de Wa, Gana; William Seng Chye Goh, arcebispo de Cingapura; Adalberto Martínez Flores, arcebispo de Assunção, Paraguai; Giorgio Marengo, prefeito apostólico de Ulan Bator, capital da Mongólia. Este último, com seus 48 anos, é o mais jovem dos novos cardeais.
Sem dúvida os nomes contam, vão contar, a identidade e a história de cada escolhido pesa, vai pesar, impossível pensar o contrário. Mas é a história de Manaus, Ekwulobia, Goa, Timor Leste, Cingapura, Assunção, que nos mostra a soleira que Francisco vê, atravessa, conhece e vive. A sua Igreja não é composta de conservadores e progressistas, embora com certeza estão presentes, mas a relação decisiva é aquela entre centro e periferia, entre periferias que se tornam centro e o centro que se engaja em sempre novas e mais numerosas periferias. O critério que inspira a construção desse Sagrado Colégio é a reforma mais bem sucedida, provavelmente, entre as tantas reformas que estão construindo a Igreja global de Francisco.
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A Igreja, os cardeais e o Colégio global que coloca as periferias no centro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU