O caminho da igreja. Artigo de Enzo Bianchi

Fonte: Unsplash

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

31 Mai 2022

 

"Parece que a Igreja já não desperta mais nenhum interesse e não chama a atenção senão pelos escândalos ou pelas pressões que tenta exercer nos percursos legislativos que dizem respeito a temas éticos. Os crentes estão conscientes da marginalidade que às vezes se torna a exclusão das vozes da Igreja do debate cultural, público e social?", escreve o monge italiano Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Repubblica, 30-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Segundo ele, "o fato é que na coletiva de imprensa final (da assembleia geral dos bispos italianos) não foi mencionado pelos jornalistas o principal tema de discussão entre os bispos: o sínodo em andamento. Este caminho iniciado pelo Papa Francisco para a Igreja poderá representar, se realizado, uma novidade absoluta, desconhecida inclusive pelas outras Igrejas cristãs: um sínodo entendido como um caminhar junto do povo de Deus, dos pastores, do Papa, em uma pirâmide invertida onde a autoridade está na base, a serviço do povo de Deus que ocupa uma posição mais alta, segundo o ditado forjado pelos cristãos da Idade Média: 'O que interessa a todos por todos deve ser discutido e deliberado'".

 

Eis o artigo.

 

Sofro um crescente e profundo mal-estar cada vez que verifico como é consolidada a relação atual entre a Igreja e os meios de comunicação: também por ocasião da eleição do Presidente da Conferência Episcopal Italiana, o Cardeal Matteo Zuppi, um bispo capaz de abrir novos caminhos eclesiais, é significativo que as perguntas da conferência de imprensa se voltassem ao problema dos abusos sexuais contra menores. A esta altura, parece que a Igreja já não desperta mais nenhum interesse e não chama a atenção senão pelos escândalos ou pelas pressões que tenta exercer nos percursos legislativos que dizem respeito a temas éticos. Os crentes estão conscientes da marginalidade que às vezes se torna a exclusão das vozes da Igreja do debate cultural, público e social?

 

Os crimes dos abusos contra menores são muito graves e, com razão, provocaram escândalo, mas dizem respeito a uma percentagem mínima de membros do clero. É claro que a Igreja precisa sair do torpor e se questionar sobre caminhos abertos sem a devida atenção para os candidatos ao ministério, é preciso uma prevenção vigilante que permita a mudança de estruturas e de estilo, é preciso assumir responsabilidades restaurativas em relação às vítimas.

 

Mas, como sempre disse sendo ainda um cristão que procura reconhecer um primado ao Evangelho, também será necessário ter compaixão e misericórdia para os culpados, que nestes casos são doentes graves, e impor penas de redenção mais que de punição, que tenham um fim e contenham a possibilidade de perdão. Além dos abusos sexuais, deveriam ser mais monitorados e denunciados tantos abusos que se consumam em silêncio na Igreja: abusos que ofendem a justiça, que impedem a defesa, que se alimentam de fofocas e calúnias com as quais se chega a matar moralmente as pessoas, abusos de autoridade na relação entre superiores e inferiores em nome da obediência. Uma cultura dos direitos, dignidade e liberdade da pessoa ainda não está plenamente atestada na Igreja.

 

O fato é que na coletiva de imprensa final não foi mencionado o principal tema de discussão entre os bispos: o sínodo em andamento. Este caminho iniciado pelo Papa Francisco para a Igreja poderá representar, se realizado, uma novidade absoluta, desconhecida inclusive pelas outras Igrejas cristãs; um sínodo entendido como um caminhar junto do povo de Deus, dos pastores, do Papa, em uma pirâmide invertida onde a autoridade está na base, a serviço do povo de Deus que ocupa uma posição mais alta, segundo o ditado forjado pelos cristãos da Idade Média: "O que interessa a todos por todos deve ser discutido e deliberado".

 

A assunção desse princípio poderia mudar a face da Igreja, eliminar toda forma de clericalismo e carreirismo, criar no mundo uma nova realidade de irmãos e irmãs com a mesma dignidade, em solidariedade, em plural comunhão. O Papa Francisco reitera que este é o horizonte da Igreja do terceiro milênio.

 

Se for, isso também significará um aumento de humanismo para todos.

 

Leia mais