16 Mai 2022
"Não ao consumo de solo, não à agricultura de base química, não à criação intensiva", afirma Carlo Petrini ao debater sobre os temas no centro do Terra madre Salone del gusto 2022.
A entrevista é editada por Paolo Viana e publicada por Avvenire, 14-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Da Bella Ciao nas varandas à regeneração que deveria nos tirar da pandemia para sempre. Mas como Carlo Petrini consegue ser sempre tão otimista?
Tive a incrível oportunidade de conhecer Zygmunt Bauman. E durante nosso encontro ele compartilhou comigo sua ideia de felicidade. Bauman argumentava que “Não é a ausência de problemas que nos dá felicidade, pelo contrário, enfrentar as dificuldades, de qualquer natureza, envolver-se para superá-las, lutar para mudar uma situação injusta, explorar possibilidades e cenários para superar obstáculos, esta é a essência da felicidade". Não se trata de ter talentos particulares ou levar vidas extraordinárias, mas de enfrentar um problema ou uma crise, colocar-se em condições de encontrar uma solução e entender que a possibilidade de a alcançar está ao nosso alcance. Essas três condições já realizam uma enorme parte de felicidade, nos dão dignidade e orgulho para seguir em frente, para estar de bem conosco e com o mundo.
De Roma começa um caminho, um caminho que leva à Terra Madre, sempre seguindo o fio condutor da regeneração... mas em que sentido deveríamos nos regenerar como uma estaca?
No mundo vegetal, uma árvore que perde um galho é capaz de regenerá-lo e, às vezes - como é o caso das estacas - uma planta inteira pode renascer de um único galho quebrado. Parece um milagre, mas não é: tudo graças à extraordinária capacidade de regeneração das plantas. No Terra Madre Salone del Gusto 2022 lançamos uma mensagem de regeneração: ou seja, nós, indivíduos e o planeta, precisamos renascer. Como? No que diz respeito ao alimento: regenerar significa cultivar de forma a preservar o solo e as vertentes de água, renunciando a pesticidas e outros produtos químicos sintéticos, criar rebanhos respeitando as exigências dos animais, pescar de forma sustentável.
Um em cada dois habitantes da terra vive em cidades e consome nas cidades: o Slow Food trabalha para 'transformar o sistema alimentar urbano'. Como exatamente vocês planejam mudar o mundo?
A questão de como alimentar as cidades é urgente. Devem ser criadas as condições para que se estabeleça um diálogo profícuo entre cidade e campo, a partir da primeira periferia, que não pode tornar-se espaço de construção de grandes centros comerciais, construindo vínculos entre quem produz e quem consome. Refiro-me, por exemplo, aos Mercados da Terra da Slow Food (temos em 28 países do mundo), aos grupos de compra solidária, às hortas urbanas e às hortas escolares. A maneira de mudar o mundo existe e está ao alcance de todos: basta mudar os hábitos alimentares reduzindo o consumo de carne, comer produtos locais e sazonais que ajudam a defender a biodiversidade, fornecer-se com produtores que respeitam os princípios pelos quais lutamos há trinta anos que têm como base o respeito pela terra e por quem trabalha.
Em Roma se falará também de Borghi (vilarejos), que, no plano urbanístico, poderia ser definido como o verdadeiro 'modelo italiano'. No entanto, nas últimas décadas não parece que os pequenos municípios tenham escapado – como forma de viver e consumir – à lógica da globalização. Mais uma vez, por que Carlo é tão otimista?
É um otimismo ditado pelo que vejo em tantos jovens, ou seja, o desejo de voltar a viver no campo, nos vilarejos, o interior da Itália. No entanto, isso não é suficiente: nas últimas décadas os nossos vilarejos vêm perdendo alguns componentes importantes: lojas de alimentos, tabernas, em alguns casos escolas e até párocos: são peças de sociabilidade. Se não há sociabilidade não há futuro: o turismo de bater e correr não é suficiente.
Em uma palavra, para quem não sabe: o que é sustentabilidade e por que é conveniente para nós?
Sustentabilidade significa garantir um futuro para aqueles que virão depois de nós. Os franceses usam o termo durable, que dá a ideia de algo que deve ser projetado ao longo do tempo, que dura. Não é uma questão de conveniência, mas de sobrevivência: não ao consumo do solo, não à agricultura baseada em produtos químicos, não à criação animal intensiva e à pesca sem restrições. Se perdermos solo fértil continuando a cimentá-lo ou poluí-lo com pesticidas, onde nossos filhos poderão cultivar? Se trancarmos os animais nos galpões forçando-os a viver em condições de extrema incivilidade, o que será dos pastos e das montanhas?
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“A regeneração é o caminho para a sustentabilidade”. Entrevista com Carlo Petrini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU