11 Abril 2022
"O diplomata chinês, falando de Kiev, começa a desenhar uma nova ordem mundial. Com a maioria dos países que na sua opinião não seguirão o Ocidente no conflito. Com blocos alternativos que vão se compactar, começando pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Com os EUA que verão seus principais aliados enfraquecerem", escreve Francesco Verderami, em artigo publicado por corriere.it, 09-04-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
A conversa entre os embaixadores de Pequim e Roma no país de Putin: não vamos mais tolerar a hegemonia mundial dos Estados Unidos - "Cuidado. Se vocês querem uma Rússia perigosa, saibam que ela pode ser bastante”. Moscou, via Druzhby 6. 1º de abril. O embaixador chinês na Rússia, Zhang Hanhui recebeu o colega italiano Giorgio Starace na imponente representação da República Popular da China em Moscou. Tudo no prédio fala da China, do império que foi e do poder que se tornou. Há ocasiões em que os diplomatas sabem arredondar conceitos ou torná-los afiados. Desta vez o dono da casa deixa de lado os “equilíbrios verbais e tons cuidadosos”, como vai relatar o embaixador italiano em um relatório enviados há alguns ao Ministério do Exterior.
Hanhui começa usando o armamentário propagandístico de Moscou para justificar "um conflito - assim ele o define - provocado pelos Estados Unidos para enfraquecer Vladimir Putin e destruir as relações entre a União Europeia e a Rússia". Defende que a ação militar é consequência da constante expansão da OTAN ao Leste, do apoio oferecido pelo Ocidente ao rearmamento de Kiev, "que trabalhava na construção de mísseis com alcance de dois mil quilômetros" e hospedava em seu território "26 laboratórios químicos estadunidenses". Assim teriam sido negadas as "legítimas" exigências de segurança apresentadas pela Rússia.
A conversa é desde o início "muito franca", mesmo que no documento "não confidencial" enviado a Roma, Starace se concentre nas opiniões do diplomata chinês. Que depois de defender Putin começa a apontar o dedo para uma Europa míope, incapaz de defender seus interesses básicos, desprovida de autonomia, e que ao fornecer armas à Ucrânia estaria empurrando Moscou para a escalada militar. E é nesse ponto que ele diz: “Cuidado. Se vocês querem uma Rússia perigosa, saibam que ela pode ser bastante”.
Mas a parte mais relevante do relatório, em que se concentra o Ministério do Exterior, é aquela em que transparece a estratégia de Pequim, que "talvez não tenha entendido completamente" a jogada de Putin, mas quer explorá-la. De fato, a discussão mostra que a China não pretende hoje desempenhar um papel no processo de paz. Hanhui explica ao convidado: “Ao fornecer armas à Ucrânia, vocês jogam combustível no fogo e depois nos pedem ajuda para apagar esse incêndio. Não é justo e também não é do nosso interesse. A Ucrânia está muito longe de nós”. Sua tese é que o fim das hostilidades só pode passar depois que as partes tiverem chegado a um acordo "em autonomia".
Isso exigiria uma solução para o conflito desfasada no tempo. De fato, Hanhui deixa claro que a China não teria nenhum interesse particular em acabar com a guerra o mais rápido possível, porque - em sua opinião - a fratura das relações entre a Europa e a Rússia levará esta última a depender cada vez mais da China, que “nunca imporá sanções a Moscou”. No máximo, as sanções do Ocidente tornarão a relação entre a Rússia e a China ainda mais estreita.
De repente o Dragão aparece em toda a sua força no relatório. E Putin é reduzido a um simples peão no tabuleiro de xadrez de Pequim. Acontece quando Starace pergunta a Hanhui onde foi parar o pacifismo pragmático da China. O nosso pacifismo - é a resposta - é confundido com fraqueza pelo Ocidente, enquanto somos "uma grande potência econômica e também militar" e, portanto, "não estamos mais dispostos a tolerar nem a hegemonia mundial estadunidense nem as contínuas ingerências ocidentais em nossos assuntos internos".
Uma sombra se estende sobre Taiwan e se estende por todo o planeta. “Agora a situação é diferente”, continua Hanhui: “Pretendemos respeito. Temos a segunda maior economia mundial e um exército cada vez mais forte. Em apenas quatro anos conseguimos construir uma frota tão grande quanto a britânica. Não continuaremos a aceitar abusos do exterior”. Assim, o diplomata chinês, falando de Kiev, começa a desenhar uma nova ordem mundial. Com a maioria dos países que, na sua opinião, não seguirão o Ocidente no conflito. Com blocos alternativos que vão se compactar, começando pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Com os EUA que verão seus principais aliados enfraquecerem. Com a Europa que entrará em recessão porque as empresas perderão competitividade nos mercados devido à forte subida dos preços da energia.
Ainda há alguém que pretende virar para o outro lado?
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A China avisa a UE: “A Rússia sabe ser perigosa” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU