18 Março 2022
"Depois de ter desperdiçado a credibilidade institucional como ex-núncio em Washington, Carlo Maria Viganò decepcionou os tradicionalistas europeus ao abraçar a causa dos trumpianos", escreve Lorenzo Prezzi, teólogo italiano e padre dehoniano, em artigo publicado por Settimana News, 17-03-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Após a agressão militar russa à Ucrânia, após as mortes, bombas, refugiados, crueldades e luto, Mons. Carlo Maria Viganò não nos poupou de seu comentário.
Em 6 de março, ele anunciou que o "Deep State" (estado profundo) também estava à obra na Ucrânia. Confundindo a fantasia conspiratória com a trágica realidade dos fatos, ele gasta uma torrente de palavras (18 páginas) para afirmar que a Federação Russa está absolutamente certa, que Putin não é um belicista ou um tirano, que o presidente ucraniano Zelensky é o fantoche das forças obscuras que governam o mundo, e que a Ucrânia está à mercê de minorias neonazistas.
Faltam apenas os Protocolos dos sábios de Sião para completar o quadro. A Rússia é a única força política que, com sua civilização, pode se opor às forças do mal. "Quanto mais Putin acreditar que está certo, mais ele demonstrará a grandeza de sua nação e o amor de seu povo, não cedendo às provocações."
Até alguns meses atrás, o baluarte era Trump.
Kirill, patriarca de Moscou e das Rússias, é inadequado, mas participa do lado certo no embate entre as forças do bem e aquelas do Grande Reset.
“A crise mundial com a qual se prepara a dissolução da sociedade tradicional envolveu também a Igreja Católica, cuja hierarquia é refém dos apóstatas cortesãos do poder. Houve um tempo em que os pontífices e os prelados confrontavam os reis sem respeito humano. A Roma dos Césares e dos papas está deserta e muda, como o foi por séculos a segunda Roma de Constantinopla.
Talvez a providência tenha estabelecido que seja Moscou, a terceira Roma, a assumir hoje diante do mundo o papel de katechon (2Ts 2, 6-7), obstáculo escatológico ao Anticristo. Se os erros do comunismo se espalharam na União Soviética, prevalecendo também dentro da Igreja, a Rússia e a Ucrânia podem hoje desempenhar um papel transcendental na restauração da civilização cristã, contribuindo para trazer ao mundo um período de paz a partir do qual a Igreja também pode ressuscitar, purificada e renovada em seus ministros".
Depois de ter desperdiçado a credibilidade institucional como ex-núncio em Washington, Carlo Maria Viganò decepcionou os tradicionalistas europeus ao abraçar a causa dos trumpianos.
Hoje decepciona os católicos conservadores estadunidenses ao elogiar a civilização ortodoxa russa de Putin. Ultrapassando de vez as fronteiras das várias pertenças, parece destinado a continuar até o salto no vazio. Fazemos votos para que ele não se machuque demais.
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Com Kirill veio também Viganò - Instituto Humanitas Unisinos - IHU