24 Fevereiro 2022
Quando ela recebeu o e-mail convidando-a para uma videoconferência com o papa, Anasofia Gutierrez, da Gonzaga University, achou que era uma farsa. Depois de ler os detalhes sobre ter até meia-noite para decidir e não contar para a mídia, ela disse que achava que era “obviamente uma piada”, até que um de seus professores confirmou que ela estava de fato sendo convidada para um evento com o Papa Francisco.
A reportagem é de Melissa Cedillo, publicada por National Catholic Reporter, 23-02-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Gutierrez, uma estudante de psicologia, pesquisa sobre gênero, mulheres e religião, é uma dos muitos estudantes que conversarão com Francisco em um diálogo virtual em 24 de fevereiro, como parte do atual sínodo sobre a sinodalidade. Durante a conferência por Zoom de 75 minutos, organizada pela Loyola University Chicago, estudantes das Américas do Norte, Central e do Sul, bem como do Caribe, compartilharão suas perspectivas sobre questões que afetam suas vidas, especialmente migração e questões relacionadas à justiça econômica e ambiental.
Os estudantes escolhidos para participar do diálogo variam de “praticantes” a “distantes da igreja”, disseram ao NCR. Muitos disseram que fazer parte desse processo de escuta lhes trouxe um sentimento de esperança e renovação.
Becca Kranich, do Manhattan College, disse que a maneira como a Igreja nos EUA respondeu aos direitos LGBTQIA+, racismo e abuso sexual a fez perder a fé, mas o fato de o papa ouvir os estudantes universitários a deixa animada e otimista.
“Ainda é chocante saber que Francisco estará no Zoom”, disse Shyh Saenz, da Gonzaga.
“É uma grande honra”, disse Jesus “Paco” Estrada Jr., estudante da Loyola Marymount University, sobre participar da próxima conferência virtual com o Papa Francisco.
Estrada foi selecionado por seus pares como um dos dois porta-vozes para representar a região do Pacífico e falar diretamente com o Papa Francisco. Antes de ser abordado sobre este projeto, Estrada conta que não sabia sobre o projeto sinodal que está acontecendo na Igreja.
“Estou envolvido com a pastoral universitária e estudo teologia, mas não tinha pistas do processo sinodal”, explicou ele.
Dave De La Fuente, da Fordham University, e Ana Ruiz, da Georgetown University, dois estudantes que fazem parte da região leste, estavam cientes de que havia um processo sinodal acontecendo na Igreja, mas não achavam que eles realmente conseguiriam participar da etapa de escuta.
“Mesmo se eu tivesse ouvido falar sobre isso, eu não teria imaginado que poderia participar porque parece tão distante. O Papa Francisco está fisicamente distante e os níveis de hierarquia são distantes. É incrível que tenhamos essa oportunidade”, disse Channing Lee, da Georgetown.
“Trabalhar através das universidades também é uma boa estratégia para obter o maior número possível de vozes para a sessão de escuta da Igreja”, disse Laurel Potter, do Boston College.
Um tema importante da videoconferência é a migração, que é pessoal para muitos dos alunos participantes.
Estrada é estudante de teologia do segundo ano e formado em espanhol que espera ser um advogado de imigração um dia. Ele disse que foi inspirado a ser um defensor dos direitos de imigração por seus pais, que migraram do México para os Estados Unidos para dar uma vida melhor à sua família, mas que também enfrentaram muitos desafios.
Estrada, que nasceu e cresceu no centro-sul de Los Angeles, disse que ele e seus pais estão animados com a videoconferência. Ele planeja trazer questões de migração na chamada.
No mês passado, Estrada se reuniu virtualmente com outros estudantes de outras universidades participantes para debater as perguntas que farão ao papa e quais questões querem levantar com ele.
Os pais de Gutierrez também migraram do México para os Estados Unidos, então o problema afeta sua família pessoalmente. Gutierrez descreve sua família como católicos devotos que estão animados por terem essa oportunidade.
“Minha mãe enviou o link da transmissão ao vivo para todos os nossos bate-papos em grupo do WhatsApp da família”, disse ela.
Gutierrez disse que, enquanto o grupo se preparava para esta videoconferência, eles foram intencionais não apenas para se concentrar no que as soluções equitativas significam para o norte global, mas para ouvir estudantes que são de países que normalmente são forçados a migrar.
Os organizadores disseram que um dos objetivos da videoconferência é fazer com que as Américas conversem entre si sobre os fatores de cada uma movimentar a migração.
Ela disse que esse medo de ser muito centrado nos EUA foi sentido por estudantes que estavam participando de todas as Américas. Gutierrez disse que teve o cuidado de não deixar esse projeto se transformar em outra forma de colonização.
Mais do que tudo, ela diz que este projeto a tranquilizou de que os alunos podem criar mudanças. Embora ela diga que seu relacionamento com a Igreja tem sido difícil, ela entende a influência e o poder que a Igreja tem quando se trata de migração.
Para alguns dos estudantes, os direitos indígenas são uma questão importante, de acordo com Brendan Whittle, da Universidade de Waterloo, um dos três estudantes do Canadá.
“Durante nossas reuniões regionais do Leste, o contexto canadense foi considerado em alguns aspectos – como no início, quando falamos sobre questões indígenas e o sistema de escolas residenciais, onde recentemente mais de 1.800 sepulturas anônimas foram encontradas, em escolas que eram administradas por católicos”, disse Mia Theocharis, de St. Michael's College, em Toronto.
Mas Theocharis também criticou a baixa representação do Canadá, o que dificultou que suas vozes fossem ouvidas. “No geral, no entanto, senti que, à medida que nossas reuniões progrediam, o contexto canadense era considerado cada vez menos”, disse ela.
“Embora meus amigos canadenses tenham feito um excelente trabalho, deveria ter havido um esforço mais consciente para igualar o número de estudantes canadenses e americanos no grupo regional”, disse ela. “Espero que no futuro isso seja levado em consideração”.
Outros estudantes disseram que gostaram de colaborar e fazer amizade com estudantes universitários de todo o hemisfério e esperam continuar trabalhando juntos em projetos futuros. Estrada disse que espera que isso leve os alunos a sonharem juntos para criar um mundo melhor, um mundo em que queiram viver.
“Este é um momento potencialmente emocionante! O verdadeiro trabalho está por vir”, esperança Potter.
Dois estudantes da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos estarão participando do encontro com o Papa Francisco nesta quinta-feira, 24-02.
São Alex Ríbolli, estudante do Programa de Pós-Graduação em Filosofia, e Wagner Fernandes de Azevedo, graduado em Relações Internacionais pela UFSM, mestrando em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, hoje estudante de Ciências da Computação e colaborador do Instituto Humanitas Unisinos - IHU.
O encontro será às 15h de Brasília, transmitido pelo canal do Youtube da Loyola Chicago University, com tradução simultânea para o português.
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Universitários dos Estados Unidos também estarão em encontro com o Papa Francisco nesta quinta-feira - Instituto Humanitas Unisinos - IHU