15 Setembro 2021
Em Bratislava, capital de Eslováquia, Francisco visita o memorial da comunidade judaica vítima do horror nazista. O apelo à Europa: é preciso uma solidariedade que ultrapasse as suas fronteiras para voltar ao centro da história.
A reportagem é de Mimmo Muolo, publicada por Avvenire, 14-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um apelo para a Europa. E um aviso para o mundo. Ao Velho Continente o Papa pede um passo em frente, quase um pulo: “Que se destaque por uma solidariedade que, ultrapassando as fronteiras, possa levá-lo de volta ao centro da história”. Enquanto o resto da Terra lembra os "indizíveis atos de desumanidade" que ocorreram durante a Segunda Guerra Mundial contra os judeus e em uma terra que viu cem mil judeus deportados e mortos, ressalta: "Aqui o nome de Deus foi desonrado". São os dois pilares que sustentam o segundo dia da viagem ao coração da Europa. Um dia inteiramente passado em Bratislava e no qual também encontra uma forma de brincar sobre a sua saúde: "Ainda estou vivo", diz aos jornalistas. Porém, horas exigentes, entre a visita matinal ao palácio presidencial, onde o Pontífice, além da presidente Zuzana Caputova, também se encontra com a sociedade civil e o corpo diplomático, e a visita ao memorial do Holocausto, na praça Rybné nàmestie, onde outrora erguia-se a sinagoga, destruída em 1969 por outra loucura totalitária, a comunista. No centro, a etapa no Centro Nazaré das Irmãs de Madre Teresa, que cuidam dos pobres em um bairro periférico. Como para lembrar no final, que o que importa é a caridade.
Afinal, esta é a mensagem, religiosa e política ao mesmo tempo, que serve como linha de base da sinfonia da viagem do Papa, que, mesmo "tocando" partituras diferentes de vez em quando, sempre volta à mesma nota: a fraternidade, ou seja, é o único antídoto possível ao egoísmo, aos fechamentos e, em última instância, àquele ódio, mesmo antissemita, que no século passado levou ao "confronto trágico e inenarrável do Holocausto".
Veja-se, por exemplo, o discurso ao corpo diplomático. O Papa, ainda tendo nos olhos o gesto de homenagem de duas crianças, que na porta do palácio presidencial lhe ofereceram pão e sal em sinal de acolhimento (como é tradição nesses lugares), apela para uma retomada da Europa que não seja apenas econômica. “É da fraternidade que precisamos para promover uma integração cada vez mais necessária - afirma -. É urgente agora, num momento em que, após meses muito duros de pandemia, prospecta-se, junto a muitas dificuldades, uma tão almejada retomada econômica, favorecida pelos planos de recuperação da UE. Porém, pode-se correr o risco - alertou Francisco - de se deixar levar pela pressa e pela sedução do lucro, gerando uma euforia passageira que, em vez de unir, divide”. Em essência, "a recuperação econômica por si só não é suficiente". E então o Papa Bergoglio pede que seja partido o pão "do cuidado dos mais fracos". "Ninguém - lembra ele – deve ser estigmatizado ou discriminado." Os jovens devem ser educados para isso, porque são o futuro e não "sejam iludidos por um espírito consumista que esmaece a existência".
No pano de fundo dos discursos do Papa está também a situação interna da Eslováquia, uma terra que sempre foi dedicada à convivência pacífica, mas hoje fragmentada no plano político e tentada como a vizinha Hungria pelas sereias do soberanismo (o Papa também recebeu na nunciatura o presidente do Parlamento e o primeiro-ministro). Portanto, aos bispos, reunidos na Catedral de San Martino, Francisco lembra que a Igreja deve viver no mundo, não separada dele. Também neste caso uma imagem simbólica da cidade, o castelo que domina a capital e o Danúbio do alto de uma colina, oferece ao Papa o direito de avisar: “A Igreja não é uma fortaleza, um potentado, um castelo situado no alto que olha o mundo com distância e suficiência”. Em essência, “o anúncio do Evangelho é libertador, nunca opressor. E que a Igreja seja sinal de liberdade e de acolhimento”. Como testemunham as irmãs de Madre Teresa que atuam entre os últimos e que acolhem o Pontífice com um grande mural em que ao lado de seu rosto está a inscrição: “Não esquecemos de rezar pelo senhor”. E ele lembra que o Senhor “nos acompanha sobretudo nos momentos difíceis”.
Pouco depois, o Pontífice, no seu encontro com a comunidade judaica, recorda aqueles que usurparam a proximidade do Altíssimo, dizendo "'Deus está conosco', mas eram eles que não estavam com Deus". Para as pessoas que têm em sua bagagem uma história de sofrimento tão profundo, Francisco tem expressões de proximidade e de esperança juntas. “Sinto a necessidade de tirar as sandálias”, diz ele ao chegar ao local do memorial no centro da cidade. E depois acrescenta: “As vossas dores são as nossas dores. Temos vergonha de admitir. O nome inefável de Deus foi usado" contra a dignidade humana. Mas agora é hora de olhar para a frente: “Continuemos no caminho de reaproximação e de amizade”, exorta o Pontífice, encorajado também pelas palavras do rabino-chefe que o acolhe e que fala de um dia histórico para os judeus eslovacos. “O mundo precisa de portas abertas”, conclui o Papa. A relação entre judeus e cristãos é uma das mais importantes. Especialmente para dissipar eventuais fantasmas antissemitas que possam retornar.
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Holocausto, desonrado o nome de Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU