14 Setembro 2021
Depois da sua visita ao Centro Belém, o Papa Francisco pronunciou o que seguramente será o discurso “mais político” de sua visita à Hungria e à Eslováquia, o que derrota definitivamente qualquer dúvida sobre o compromisso do Papa com o povo judeu, durante seu encontro com a comunidade judaica na Praça Rybné Námestie, de Bratislava. Uma praça muito significativa, pois durante séculos fez parte do bairro judeu, mas onde posteriormente “o nome de Deus foi desonrado”. Pouquíssimos sobreviventes, alguns deles presentes na praça nesta tarde de memória e reparação.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 13-09-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“Na loucura do ódio, durante a Segunda Guerra Mundial, mais de 100 mil judeus eslovacos foram assassinados. E depois, quando queriam apagar os vestígios da comunidade, aqui a sinagoga foi demolida”, lamentou Bergoglio. “Aqui, o nome de Deus foi desonrado, porque a pior blasfêmia que se pode causar é usá-lo para os próprios fins, mais do que para respeitar e amar os outros”.
Neste local, que durante anos abrigou, juntos, os templos católico e judaico, foi marcado por uma “trágica e indescritível agonia, que temos vergonha de admitir”. “Quantos opressores declararam: ‘Deus está conosco’, mas eram eles que não estavam com Deus”, proclamou.
“Queridos irmãos e irmãs, sua história é a nossa história, suas tristezas são nossas tristezas. Para alguns de vocês, este Memorial da Shoá é o único lugar onde podem honrar a memória de seus entes queridos. Eu também me uno a vocês”, frisou Bergoglio, que lembrou que “a memória não pode e não deve deixar espaço para o esquecimento, porque não haverá um amanhecer em que a fraternidade perdure se a escuridão da noite não foi compartilhada e dissipada antes”.
“Já não é tempo de seguir ofuscando a imagem de Deus que resplandece no homem. Ajudemo-nos nisto. Porque hoje também não faltam ídolos vãos e falsos que desonram o nome do Altíssimo. Eles são os ídolos do poder e do dinheiro que se impõem à dignidade do homem, da indiferença que dirige o seu olhar para outro lado, das manipulações que instrumentalizam a religião, tornando-a uma questão de supremacia ou reduzindo-a à irrelevância”, clamou Francisco, que também denunciou “o esquecimento do passado, a ignorância que justifica tudo, a raiva e o ódio”.
“Estamos unidos – repito – na condenação de todas as violências, de todas as formas de antissemitismo e no esforço para que a imagem de Deus na pessoa humana não seja profanada”, acrescentou.
Junto com isso, Bergoglio queria enviar uma mensagem de esperança. “No escuro, surge a mensagem de que destruição e morte não têm a última palavra, mas renovação e vida. E se a sinagoga foi demolida neste local, a comunidade ainda está presente. Ela está viva e bem. Aberta ao diálogo”. E continuou: “Aqui, nossas histórias se reencontram. Aqui, juntos, afirmamos diante de Deus a vontade de continuar em um caminho de reaproximação e amizade”.
Assim, Francisco recordou o encontro de 2017, em Roma, com representantes das comunidades judaica e cristã, e as comissões de diálogo realizadas entre as duas religiões. “É bom partilhar e comunicar o que nos une. E é bom seguir, com verdade e com sinceridade, no caminho fraterno da purificação da memória para sarar as feridas do passado, bem como na memória do bem recebido e oferecido”.
“O mundo precisa de portas abertas. São sinais de bênção para a humanidade”, concluiu o Papa. “Que a família dos filhos de Israel continue a cultivar esta vocação, o chamado a ser sinal de bênção para todas as famílias da terra. A bênção do Altíssimo é derramada sobre nós quando uma família de irmãos se respeitam, se amam e colaboram. Que o Todo-Poderoso os abençoe para que, em meio a tanta discórdia que polui o nosso mundo, possam sempre, juntos, ser testemunhas da paz. Shalom!”.
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Papa Francisco: “Quantos opressores declaram ‘Deus está conosco’, mas eram eles que não estavam com Deus” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU