08 Setembro 2021
O sonho do Papa Francisco continua a ser a China. Bergoglio falou sobre isso recentemente em uma entrevista à rádio Cope: “A questão da China não é fácil, mas estou convencido de que não devemos renunciar ao diálogo. Você pode ser enganado no diálogo, você pode se equivocar, mas este é o caminho. O fechamento nunca é um caminho. O que se conseguiu até agora na China foi, pelo menos, dialogar. Alguma coisa concreta como a nomeação de novos bispos, aos poucos. Mas também são etapas e resultados que podem ser questionados pelos dois lados”.
A reportagem é publicada por Il Fatto Quotidiano, 05-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
De fato, em 2020, o Vaticano renovou o acordo com a China para a nomeação de bispos por mais dois anos. Um entendimento exclusivamente pastoral que ainda não abriu ao restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países e, assim, à eventual viagem do Papa a Pequim, tão sonhada por São João Paulo II antes e agora por Francisco.
O primeiro acordo foi assinado em 2018. “A Santa Sé - especificou uma nota do Vaticano na época da renovação - por acreditar que o começo do referido acordo, de fundamental valor eclesial e pastoral, foi positivo, graças à boa comunicação e colaboração entre as partes na matéria acordada, pretende continuar o diálogo aberto e construtivo para promover a vida da Igreja Católica e o bem do povo chinês”.
Quando o acordo foi assinado, a esperança do Vaticano era também restabelecer as relações diplomáticas em um tempo relativamente curto. O último núncio apostólico na China, monsenhor Antonio Riberi, foi expulso por Mao em 4 de setembro de 1951. “Desde então - como explicou o ex-embaixador italiano em Pequim, Alberto Bradanini - o representante do Papa reside em Taiwan. Em 1971, Paulo VI reduziu o status diplomático do núncio em Taiwan ao de encarregado de negócios, escolha corretamente interpretada por Pequim como permanente disposição do Vaticano para o compromisso. E embora o abandono de Taiwan tenha sido administrado sem dificuldade, a nomeação dos bispos continua sendo uma questão mais complexa para a Igreja”.
Para aqueles, no entanto, especialmente dentro das hierarquias eclesiásticas, como o cardeal Joseph Zen Ze-kiun, bispo emérito de Hong Kong, que sempre contestaram o entendimento pastoral entre o Vaticano e a China, o cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin, respondeu com firmeza: “Graças ao acordo, todos os bispos chineses estão em comunhão com o Papa. Não temos mais bispos ilegítimos”.
Para o cardeal, “se olharmos para o acordo, podemos nos considerar felizes. Esperamos que haja um funcionamento melhor e contínuo dos termos do acordo. Além disso, há muitos outros problemas que o acordo não pretendia resolver. Vamos enfatizar muito isso: não pensem que o acordo possa resolver todos os problemas que existem na China”.
Por sua vez, Francisco nunca escondeu o desejo de visitar Pequim, na esteira de seu irmão jesuíta Matteo Ricci, que foi missionário por longo tempo no país: “Se eu quero ir para a China? Mas com certeza: amanhã! Oh, sim. Respeitamos o povo chinês; apenas, a Igreja pede liberdade para a sua missão, para o seu trabalho; nenhuma outra condição. Além disso, não devemos esquecer aquele documento fundamental para o problema chinês que foi a carta enviada aos chineses pelo Papa Bento XVI. Aquela carta é atual hoje, tem atualidade. É bom reler. E a Santa Sé está sempre aberta aos contatos: sempre, porque tem verdadeira estima pelo povo chinês”.
Aquela longa carta, escrita por Ratzinger em 2007, visava justamente retomar o diálogo interrompido entre o Vaticano e a China. O acordo pretendido por Bergoglio seguiu o mesmo caminho. Pequenos passos em frente de uma diplomacia muito lenta que dificilmente levará a uma evolução nas relações entre os dois países no curto prazo. Também pelo fogo amigo, dentro da Igreja Católica, que não vê positivamente um acordo diplomático com a China.
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A China continua sendo o sonho do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU