11 Agosto 2021
Inundações repentinas e muito violentas, incêndios devastadores, ondas de calor. E, mais, geleiras que derretem no Ártico, mares que sobem e inundam as costas, oceanos que estão cada vez mais ácidos. Os cientistas do IPCC publicaram ontem o Sexto Relatório sobre Mudanças Climáticas. Desde 1990, o órgão intergovernamental das Nações Unidas mede a febre da Terra, sintetizando o que há de melhor nas pesquisas internacionais e nos alerta sobre nossa corrida para a catástrofe. Porém, pela primeira vez, aparecem termos como "inevitáveis" ou "irreversíveis". E o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, fala em "código vermelho" para a Terra.
A reportagem é de Sara Gandolfi, publicada por Corriere della Sera, 10-08-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
O que acontece? O fatídico limite de + 1,5° de aquecimento da superfície da Terra, em comparação com os níveis pré-industriais, será alcançado nas próximas duas décadas, provavelmente muito antes.
Já estamos em + 1,1°, portanto "inevitável" chegar naquele limite a menos que procedamos com "reduções imediatas, rápidas e em grande escala" das emissões que alteram o clima, das quais não há sinal algum até agora. Caso contrário, o pior pode realmente acontecer: o IPCC prevê cinco cenários, até + 5° de febre. Por outro lado, um aquecimento tão rápido não se registrava há pelo menos 2.000 anos, temperaturas tão elevadas há 6.500 anos - e o Ártico com suas geleiras é o que mais sofre - oceanos tão ácidos há dois milhões de anos. As enchentes mais intensas e frequentes já afetam 90% das regiões do mundo. Como a seca.
A origem humana dessas catástrofes, agora evidente também na Europa, é "incontestável".
“Infelizmente, o atual nível de aquecimento, criado pelo homem, permanecerá por muito tempo, a menos que sejam encontradas soluções tecnológicas para absorver os gases de efeito estufa que já emitimos, eliminando ou limitando as concentrações já presentes na atmosfera - explica a italiana Claudia Tebaldi, climatologista que há anos trabalha nos Estados Unidos e é coautora do décimo segundo capítulo do relatório.
Alguns fenômenos continuarão a piorar mesmo se reduzirmos as emissões imediatamente, como aumento do nível do mar ou derretimento das geleiras, porque envolvem processos extremamente lentos - décadas ou centenas de anos - mas muitos outros fenômenos se atenuariam, como a probabilidade de eventos extremos e devastadores: ondas de calor, inundações, incêndios ...”.
Falta pouco mesmo para a cúpula do clima, ou COP26, de Glasgow. Já adiada por um ano, devido à pandemia, em novembro reunirá - salvo novas emergências – os chefes de Estado e de governo de todo o mundo. Se a União Europeia e os Estados Unidos já apresentaram seus planos para o clima, muitos outros países ainda não o fizeram. E as posições da China e da Índia, entre os principais poluidores do mundo hoje, permanecem ambíguas. “Nós, cientistas, não nos desequilibramos politicamente, não podemos fazer isso. Obviamente, a esperança é que, tendo apresentado uma realidade tão clara e sólida da situação, aqueles que tomarão as decisões em Glasgow terão diante de si uma panorâmica bastante clara dos vários cenários que se apresentam - continua Tebaldi -. “Sempre repito que mesmo que os limites globais, como o teto de 1,5°, sejam difíceis de atingir, qualquer esforço é melhor do que nada”.
Uma coisa é certa. A era dos combustíveis fósseis, para a ciência, deve acabar. "Os gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono e o metano agem como um cobertor na Terra, aumentando as temperaturas e levando a um grande número de mudanças no sistema climático - explica ao Corriere Alexander Ruane, coautor do relatório e cientista do Instituto NASA Goddard para estudos espaciais. “Os aerossóis associados à poluição do ar também afetam o clima, alguns atuam para refletir a luz solar (resfriando o planeta), outros levam ao aumento do aquecimento. De modo geral, a combustão contínua de combustíveis fósseis aumentará o aquecimento e a redução dessas emissões, ao contrário, ajudará a estabilizar o clima do planeta”.
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Mais incêndios e inundações: a Terra está em “código vermelho” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU