10 Agosto 2021
O assassino já havia colocado fogo à catedral de Nantes. Le Pen ataca duramente.
A reportagem é de Danilo Ceccarelli, publicada por Huffington Post, 09-08-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um homicídio que lança toda a França no assombro e na incompreensão, justamente quando o Presidente Emmanuel Macron aposta tudo na questão da segurança com vista às próximas eleições presidenciais. A vítima é o padre Olivier Maire, um padre de 60 anos, morto a facadas na noite passada em Saint-Laurent-sur-Sèvre, no departamento de Vendée, a oeste do país. Trágico episódio de página policial, não fosse o fato de o assassino ser o responsável pelo incêndio que irrompeu no ano passado na catedral de Nantes. O homem, um ruandês de 40 anos, vivia há vários meses na comunidade religiosa onde ocorreu a tragédia, hóspede do sacerdote assassinado.
Padre Olivier Maire. (Foto: Religión Digital)
O próprio agressor, Emmanuel A., foi quem informou a polícia esta manhã, procurando a delegacia mais próxima para confessar o crime. A pista terrorista foi imediatamente descartada pelos investigadores, que se concentram nos transtornos mentais do homem. Segundo a BfmTv, o suspeito havia sido internado em uma enfermaria psiquiátrica entre junho e julho justamente por causa desses problemas, que já haviam surgido após a detenção pelo incêndio da catedral. Naquela ocasião, o suspeito explicou que agiu porque se irritou com a não renovação da autorização do visto de residência.
Imediatamente estourou a polêmica por causa de um episódio que, segundo muitos, poderia ter sido evitado. Imediatamente saiu ao ataque Marine Le Pen, que no Twitter foi com tudo, lembrando como na França é possível ser "ilegal, atear fogo na catedral de Nantes sem nunca ser expulso e tornar-se reincidente assassinando um padre". Imediata também foi resposta do ministro do Interior, Gerald Darmanin: "este estrangeiro não podia ser expulso" porque ainda estava sob "controle judicial", escreveu o ministro, aguardado no local esta tarde. De acordo com informações da France info, o TAR estava examinando os numerosos recursos que haviam sido apresentados.
Mas toda a direita francesa está se insurgindo e agora coloca o governo contra a parede pedindo explicações. A presidente da Ile-de-France que disputa vaga pelos Republicanos para as eleições presidenciais, Valèrie Pécresse, falou de uma "cascata de inadimplências" por parte das autoridades, enquanto para o homólogo do Auvergne-Rhône-Alpes, Laurent Wauquiez, o assassino "nunca deveria ter entrado na França".
O episódio de hoje chega precisamente durante a virada centrada na segurança do Presidente Emmanuel Macron, que tendo em vista as eleições presidenciais do próximo ano decidiu jogar no campo da direita. Uma linha que nos últimos meses tem provocado fortes debates na França, sobretudo por causa da lei sobre "segurança global" apresentada pela maioria. O texto levou milhares de pessoas às ruas contra o artigo 24, que proibia a divulgação de imagens de agentes em serviço com o objetivo de prejudicar a sua segurança. O trecho foi então modificado, mas de acordo com muitos observadores, ONGs e mídia, a lei continua sendo "liberticida".
Acusações que nem chegaram aos ouvidos do presidente, que lançou uma ofensiva sobre a questão da segurança em 360 graus. Em plena crise de coronavírus, o inquilino do Elysée lançou uma série de promessas que vão desde o acirramento do combate às drogas até o aumento de policiais, com 10 mil novas contratações até o final do mandato. Macron também prometeu 20.000 novas vagas em prisões em todo o país e medidas para atender às demandas das forças da ordem. Operação acompanhada por uma importante campanha de comunicação, que contou com a visita do presidente a antigos pontos de venda de drogas e bairros sensíveis. Tudo isso para restaurar o “direito a uma vida tranquila”, como afirma o próprio Macron em entrevista ao Figaro. Assim, aquele personagem semidesconhecido que chegou ao Elysée com a promessa de revolucionar a França com uma nova política, se transformou em um modelo conservador para atender às exigências do eleitorado de direita, também disputado por Le Pen.
Com este último assassinato, no entanto, o governo cai sob acusações de laxismo e inadimplência, em um país que já aprendeu a viver sob a constante ameaça terrorista. Embora neste caso a pista jihadista tenha sido imediatamente descartada, mais uma vez um alvo católico foi atingido, após o atentado na Basílica de Nice no ano passado e a morte do padre Jacques Hamel, que foi assassinado em 2015 em Rouen. Apoio unânime do mundo político à comunidade católica francesa, que também recebeu o apoio do Conselho Francês do culto muçulmana (CFCM).
Agora Macron tentará dar uma resposta concreta ao que parece ser uma falha na segurança nacional e que certamente não favorece a credibilidade do governo.
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Na França, outro padre assassinado. A virada pela segurança de Macron perde credibilidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU