26 Julho 2021
Tomar consciência de que tudo vem de Deus, que Ele é a fonte da vida, que "nada foi feito sem o pulsar do coração de Deus". Este pode ser considerado o objetivo, ou pelo menos um deles, do filme documentário de Igrejas y Mineração produzido pela Verbo Films, que acaba de ser lançado.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Em 13 minutos, num jogo de imagens e sons, intercalados com diferentes reflexões e testemunhos, somos chamados a refletir com uma série audiovisual intitulada Caminhos da Eco espiritualidade. Trata-se de descobrir que o nosso coração bate ao ritmo do Planeta, ao ritmo do Deus Criador, que fez com que no início "tudo fosse belo, tudo fosse bom, no universo e na liberdade. Tudo era único e diversificado, interligado. Tudo foi esplêndido", como nos diz o documentário nas suas primeiras imagens.
O documentário é uma oportunidade para compreender que "somos terra, húmus", mas também para descobrir que fomos nós, a raça humana, que arruinamos o sonho de Deus, e é por isso que o vídeo nos convida a descobrir que "um dos ensinamentos dos povos indígenas, a partir da sua experiência espiritual, é que a criação é espiritual", nas palavras de José Fernando Díaz, da Coordenação de Justiça, Paz e Integração da Criação no Chile.
Face a isto, denuncia "uma civilização que trata tudo como um objeto", fazendo a proposta de "reler o Evangelho à luz da espiritualidade indígena", apelando a "uma verdadeira conversão de uma espiritualidade capaz de compreender a Criação como Palavra de Vida e não como um insumo produtivo".
Vivemos numa realidade onde "um pequeno grupo de poder econômico dirige o mundo dos seus interesses e sem se importar com a vida humana", segundo Alberto Franco Giraldo, da Comunidade Eco espiritual da Colômbia, convencendo todos de que "os seus interesses são os interesses da humanidade, e que a sua visão de progresso é a que nos convém a todos". Conseguiram fazer-nos supor que "a nossa felicidade consiste em consumir tudo o que produzem", que as coisas preenchem o nosso vazio.
Face a esta realidade, o Papa Francisco propõe a "feliz sobriedade", baseada numa "espiritualidade de interação com toda a criação e outras sem dominação, sem imposições". Por esta razão, o Padre Franco insiste que "uma sobriedade consciente e profunda é libertadora".
A eco espiritualidade leva-nos a sentirmo-nos parte do todo, a sentirmo-nos dentro do todo, porque tudo e todos estão interligados. Nesta perspectiva, Moema Miranda reconhece a importância da encíclica Laudato Si' que nos levou a compreender "o significado de nos reconectarmos com o conceito de Casa Comum, para reavivar a ideia de que somos parte de uma casa que é maior do que nós e que é comum a toda a vida".
A antropóloga brasileira afirma que "a eco espiritualidade ajuda-nos a pensar que, se habitamos uma casa comum, qual é a nossa ideia comum de casa", mostrando que o lugar onde cada um de nós vive nos faz compreender o conceito de casa a partir de uma perspectiva diferente. Num mundo devastado, "a eco espiritualidade chama-nos à ideia de religação, à ideia de que existe para além da ecologia, um discurso, uma compreensão da articulação do mundo como ecossistema, bem como uma ideia de economia, que deve ser adaptada à casa, de uma ecosofia".
Estamos perante "uma espiritualidade que liga, que une, no Espírito de Deus Criador, Pai e Mãe, que nos torna irmãos, que nos constrói como seres irmãos de toda a criação, desta casa que é toda a criatura, que é todo o amor", afirma Moema Miranda. Por esta razão, ela faz um apelo para "regressar como filhos e filhas pródigos para pedir desculpa pelo que fizemos da devastação e para retomar a ligação". A proposta é aprender "com as pessoas que sempre souberam, que nunca se enganaram que o progresso e desenvolvimento eram melhores do que água limpa e terra para plantar e colher".
Não esqueçamos, como relata o documentário, que "no seu ventre há sempre a possibilidade da vida, porque a terra é Gaia, a terra é Mãe. O seu coração bate, bate forte! Se prestarmos atenção e ligarmos as nossas mentes ao coração do ventre da terra, ouviremos um gemido, um gemido frágil, um gemido que é dela, um gemido que é nosso".
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O pulsar da Vida: “Compreender a Criação como uma Palavra de Vida e não como um insumo produtivo” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU