24 Julho 2021
"O Papa Francisco alterou um documento publicado pelo papa anterior não para mostrar quem manda mais, não para satisfazer um gosto pessoal, mas para cumprir plenamente o seu ofício de guardião da unidade, como cantamos na Marcha Pontifícia: 'Tu es unitatis custos'" , escreve Renan Mascarenhas, diácono na Diocese de Santos, licenciado em Filosofia pela Universidade Católica de Santos e bacharel em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Era o que os progressistas queriam ter lido. Foi o que muitos tradicionalistas entenderam. A verdade é que não foi nada disso. Vemos que o Espírito Santo concede à Igreja a graça de termos um Supremo Pastor que está atento às necessidades dos fiéis a ele confiado, e assim, por termos sido alcançados pela graça salvífica, não somos mais essa multidão que caminha como “ovelhas sem pastor”, mas, pelo contrário, um pastor que se esforça para evitar a dispersão do rebanho (Mc 6,34; Jr 23,1).
O Papa Francisco alterou um documento publicado pelo papa anterior não para mostrar quem manda mais, não para satisfazer um gosto pessoal, mas para cumprir plenamente o seu ofício de guardião da unidade, como cantamos na Marcha Pontifícia: “Tu es unitatis custos”.
Em 1988, o Papa João Paulo II exortou os bispos a atenderem aos apelos dos fiéis que buscavam celebrar o Rito Romano no “modo antigo”, procurando, desse modo, curar uma ferida no corpo eclesial provocada por “católicos” que romperam a comunhão com o Sucessor de Pedro. Por meio da Ecclesia Dei, o Papa precisou esclarecer um conceito-base da Igreja: a Tradição.
É sobretudo contraditória uma noção de Tradição que se opõe ao Magistério universal da Igreja, do qual é detentor o Bispo de Roma e o Colégio dos Bispos. Não se pode permanecer fiel à Tradição rompendo o vínculo eclesial com aquele a quem o próprio Cristo, na pessoa do Apóstolo Pedro, confiou o ministério da unidade na sua Igreja (nº 2).
Em 2007, foi a vez de Bento XVI retomar a questão com a Summorum Pontificum ao perceber que, não apenas a geração mais idosa – anterior ao Concílio –, senão também muitos jovens nutriam uma atração por este modo “antigo” de celebrar, e buscavam nele uma autêntica espiritualidade eucarística. Por esta razão, foi dada grande visibilidade à forma extraordinária do rito romano, certo de que tal decisão não seria objeto de divisão na Igreja. Dirigindo-se aos bispos, Bento XVI comentou que, ao assinar este documento, trazia no seu coração o desejo de chegar “a uma reconciliação interna no seio da Igreja”.
Em 2021, a pauta sobre o uso do Missal de pré-conciliar retornou. “Os oprimidos se tornaram opressores”. Nem todos acompanharam o movimento do Espírito. Traíram o coração do Papa Bento e, consequentemente, traíram a Igreja, aqueles que viram no rito extraordinário a “missa autêntica”, “a missa de sempre”, incorrendo em graves erros históricos e teológicos. Traíram o Espírito Santo aqueles batizados que repudiavam a missa LITURGICAMENTE CELEBRADA de Paulo VI. Da mesma forma, é verdade, traíram o Concílio - e ainda traem - aqueles que banalizaram a Sagrada Liturgia com “criatividades”. Vale recordar o que nos ensina a Sacrosanctum Concilium (SC), documento do Concílio Vaticano II sobre a Sagrada Liturgia:
“Por isso, ninguém mais [além da Santa Sé, das Conferências Episcopais e Bispos], mesmo que seja sacerdote, ouse, por sua iniciativa, acrescentar, suprimir ou mudar seja o que for em matéria litúrgica” (nº 22, § 3).
Assim sendo, o Papa Francisco, a quem compete hoje a tutela da unidade da Igreja (Pastor aeternus, 3), como outrora João Paulo II e Bento XVI, precisou agir em favor da reconciliação e da unidade intraeclesial.
Com este novo documento, o Papa não proíbe a “Missa Antiga”, apenas deseja que ela não seja motivo de divisão na Igreja. Para isso, imbuído pelo espírito do Vaticano II, ele contará com o cuidado e a inspiração dos bispos, moderadores da vida litúrgica nas dioceses (SC 22, §1). Além disso, também exortou para que os seminaristas e novos sacerdotes aprendam a fidelidade às rubricas do Missal pós-conciliar.
Enfim, fique claro: o Papa não é contra esse modo de celebrar, é contra a segregação e a instrumentalização dessa missa. Jesus, também a seu tempo, precisou tomar algumas posturas contra aqueles que usaram ritos e "leis" para gerar rivalidades e exclusão.
Exaltamos firmemente que a Igreja é Una. Então vivamos essa verdade de fé!
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Papa Francisco proíbe a Missa “antiga” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU