24 Mai 2021
Uma nova espécie de coruja foi descoberta no Brasil, na floresta amazônica. Como homenagem, levará o nome de Irmã Dorothy Stang, mártir da criação assassinada em 2005 após dedicar sua vida à luta pela proteção da floresta amazônica e de seu povo.
A reportagem é publicada por Mondo e Missione, 22-05-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma nova espécie de coruja foi descoberta recentemente no interior da floresta amazônica por uma equipe multinacional de pesquisadores do Brasil, Finlândia e Estados Unidos. A criaturinha recebeu o nome científico de Megascops Stangiae em homenagem a Dorothy Stang, a religiosa mártir na Amazônia pela ordem das Irmãs de Nossa Senhora de Namur. Irmã Dorothy - nascida em 1931 em Dayton, Ohio - foi assassinada em 2005 em Anapu, no Pará, Brasil, enquanto lutava pela floresta amazônica e seu povo. O Padre Nello Ruffaldi - missionário do PIME desde 1971 entre os índios do Oiapoque, falecido em março de 2019 - relembrou sua vida ao lado dos trabalhadores e em defesa da floresta neste depoimento em que relatou seu encontro com os índios da Amazônia.
"É fantástico que depois de 15 anos, esses cientistas tenham tido a iluminação de chamar essa coruja pelo nome de Dorothy", disse a Irmã Judith Clemens, também da ordem das Irmãs de Nossa Senhora de Namur e amiga da irmã Dorothy, ao Global Sisters Report. “Ela gostava de tudo da natureza, à noite nos sentávamos do lado de fora de casa, olhávamos para o céu e ouvíamos a música da natureza”, contou a irmã Clemens. “Acho tão bonito que uma coruja, que é um animal noturno e símbolo de grande sabedoria, seja o animal escolhido para homenageá-la. Dorothy tinha, de fato, esse tipo de sabedoria”.
“O tributo é um símbolo de sua vida, de sua insistência no combate ao desmatamento e aos danos que o desmatamento causou a todos os animais. Ela chorava ao ouvir os macacos chorarem porque não havia mais floresta para eles”, acrescentou a irmã Clemens. Em 2008, as Nações Unidas também reconheceram as contribuições notáveis da irmã Dorothy para a proteção dos direitos humanos e das liberdades fundamentais e a homenagearam postumamente com o Prêmio de Direitos Humanos da ONU.
Os biólogos que descobriram o pequeno pássaro dizem que a luta da irmã Dorothy para preservar a floresta a tornou uma escolha natural para o tributo. “É uma forma de homenagear a irmã Dorothy e seu trabalho e de chamar atenção para sua luta pela preservação da Amazônia”, disse o biólogo Sidnei Dantas ao Global Sisters Report. A nova espécie está de fato ameaçada pelo atual desmatamento da região. “Esta coruja em particular precisa da floresta para sobreviver. Anapu está localizada no que é conhecido como 'Arco do Desmatamento', a fronteira agrícola da Amazônia, uma área que está sendo desmatada rapidamente”.
O professor que orientou o levantamento e sugeriu a homenagem, Alexandre Aleixo, disse: “Mesmo sendo religiosa, era amazônida (que nasceu ou vive na região amazônica); ela não era nativa, mas escolheu ser amazonense e se comprometeu com as questões ambientais”. De fato, a irmã Dorothy lutou ininterruptamente pelos direitos das famílias camponesas perseguidas por madeireiros e fazendeiros ilegais.
E embora manter a floresta em pé fosse uma prioridade para a irmã Dorothy, os religiosos que trabalharam ao lado dela lembram o cuidado especial que ela tinha com aqueles que viviam na região. “Dorothy sabia como caminhar com as pessoas, como fazer com que elas descobrissem suas histórias”, conta a irmã Clemens. "Ela acreditava que as pessoas tinham tudo de que precisavam para escrever sua própria história e a isso deu muita esperança."
A irmã Dorothy havia chegado à região de Anapu em 1982, quase 20 anos depois que estradas foram abertas naquela parte da floresta. Na época, muitos moradores queriam deixar a área, pois sentiam que o governo os havia abandonado. “Eles estavam morrendo de malária, de fome, sem escola e sem assistência médica, sem nada - disse Jane Dwyer, outra irmã da mesma congregação. Mas quando ela chegou, começou a reunir pessoas, priorizando a educação. Se não tivesse chegado em 1982 e não tivesse feito isso, essas pessoas estariam longe hoje”.
Em 12 de fevereiro de 2005, poderosos fazendeiros da região, irritados com as batalhas da irmã Dorothy, contrataram dois homens para matá-la enquanto ela caminhava por uma estrada de terra em Anapu. “Espero que os fazendeiros e madereiros que tanto lutaram contra ela fiquem realmente incomodados ao saber que hoje uma coruja com o nome dela vive em suas terras”, concluiu Dantas.
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Na Amazônia, uma espécie de pássaro lembrará a irmã Dorothy Stang - Instituto Humanitas Unisinos - IHU