"Depois de nos presentear em setembro do ano passado com um texto verdadeiramente iluminador e atual como 'La luce in fondo. Attraversare i passaggi difficili della vita' [A luz no fundo. Atravessar as passagens difíceis da vida], publicado pela editora Rizzoli, em que se detivera e meditara sobre as repercussões existenciais e profundas da crise ligada à pandemia da Covid-19 e sobre os modos para enfrentá-la, no início deste 2021 o Pe. Luigi Maria Epicoco voltou às livrarias com um ensaio igualmente rico e útil para a vida e o crescimento espiritual de todos nós".
O comentário é de Armando Matteo, teólogo italiano, padre e professor da Pontifícia Universidade Urbaniana, publicado em Settimana News, 23-05-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Diferentemente do texto do ano passado, que pode ser lido e degustado em um breve arco de tempo e que oferecia uma espécie de remédio imediato às muitas feridas deixadas no nosso coração por este tempo de crise, o novo texto publicado pelas Edizioni Dehoniane, que queremos apresentar aqui, já desde o título nos exige uma disposição diferente e uma abordagem muito mais pacata.
E o título soa assim: “La vita come la fine del mondo” [A vida como o fim do mundo], enquanto o subtítulo especifica que se trata de “Meditações sobre o Apocalipse”.
Novo livro do Pe. Luigi Maria Epicoco (Foto: Divulgação)
As páginas de Epicoco podem ser lidas, também neste caso, com particular prazer e imediaticidade. As frases raramente são longas e nunca contêm raciocínios abstratos ou complicados. A referência à concretude da existência também está sempre à espreita e impede que o leitor se distraia ou se perca em outros lugares.
Mas aqui – como se dizia antes – a atenção que é exigida deste último é maior, e é maior precisamente pelo objeto sobre o qual o autor promove as suas reflexões: o livro bíblico do Apocalipse, o livro por excelência mais difícil e complexo de se seguir e portanto, de se oferecer à meditação de outros. Embora, provavelmente por fascínio, o livro do Apocalipse supere qualquer outro texto já escrito entre os humanos, pois, pelo menos à primeira vista, parece prometer nos dizer algo precisamente “sobre o fim do mundo”.
E a chave de leitura que Epicoco felizmente escolhe para nos introduzir no último texto do cânone neotestamentário é exatamente a de brincar com a expressão que acabamos de citar – “fim do mundo” – que está presente desde o título do seu livro.
Geralmente, como se disse, recorre-se ao texto do Apocalipse justamente para saber mais sobre o fim do mundo, sobre o que estaria destinado a acontecer quando se desencadear a hora definitiva desta história. E, graças a esse tipo de interesse, foram infinitas as interpretações dadas ao último livro do Novo Testamento.
Pois bem, o texto que agora temos em mãos propõe uma interpretação diferente da expressão “fim do mundo” e, portanto, um acesso original ao Apocalipse.
Epicoco escreve: “A vida é sempre um mundo, e toda vida que termina é sempre, em certo sentido, o fim do mundo. Em italiano, essa expressão é ambígua: significa literalmente o fim de algo, mas é também um modo de dizer o seu caráter extraordinário. Se há amores que são o fim do mundo, Cristo nos amou a ponto de nos doar uma vida que é o fim do mundo”.
Na minha opinião, essa chave interpretativa do texto do Apocalipse é particularmente feliz. Ao utilizá-la, é como se o Pe. Luigi dissesse a cada um de nós que aquelas páginas – que ele analisa e comenta, recorrendo abundantemente a muitos outros textos do Novo Testamento, à infinita riqueza e doçura dos Salmos, à sua experiência de fé, às suas décadas de experiência como guia espiritual, aos seus conhecimentos filosóficos, teológicos e psicanalíticos – não estão ali para nos falar apenas sobre o que aconteceu à primeira comunidade cristã, por volta do fim do primeiro século da era cristã; que aquelas páginas não estão ali apenas para nos revelar aquilo que, à luz da revelação feita por Jesus, é possível balbuciar sobre o fim e sobre o fim da história humana.
Mas que aquelas páginas estão ali acima de tudo para nos convencer de que a vida de cada um de nós nos foi dada por Deus como uma vida do fim do mundo, como um dom imenso e extraordinário, que não podemos nos dar ao luxo de desperdiçar e não podemos deixar de viver segundo todas as suas potencialidades. Em suma, um dom que devemos acolher, viver e deixar “explodir” como o fim do mundo!
É aí que deve nos levar a meditação do Apocalipse, que, na verdade, enfatiza Epicoco, “não nos fala do futuro, mas daquele presente que é a eternidade subjacente a cada instante”.
Mas atenção neste ponto, leitores e leitoras! Afirmar – e com razão – que é a vida de cada um de nós esse dom do fim do mundo não deve levar ninguém a pensar que viver à altura dessa verdade é algo simples e imediato. São muitos os obstáculos ao longo desse caminho, e a convicção de Epicoco é de que talvez o maior obstáculo nesse empreendimento seja paradoxalmente o nosso próprio “eu”, sejam as nossas convicções, sejam os nossos preconceitos, sejam as nossas falsas expectativas, sejam os nossos jogos sujos com a existência, sejam o nosso contentamento e a nossa indulgência para com a inautenticidade, seja o nosso infinito “levar a vida”.
E é por isso que a palavra de Deus muitas vezes se apresenta como “reveladora”, como um sinal que interroga, que desestrutura, que convida à conversão, que age a partir de dentro de uma existência para despertá-la do sono de morte que muitas vezes a habita.
Não é por acaso, portanto, que, a meio caminho, o jovem teólogo de L’Aquila escreve que, “desde que deixamos o que Apocalipse mudasse o nosso olhar, que nos colocasse de forma ‘reveladora’ diante da nossa história, o que a Palavra fez foi nos desestruturar. É esse banho de humildade real, sobre nós mesmos, que nos faz perceber que, talvez, a nossa vida está dominada pelo dever e não pelo amor – pois somos necessitados de amor – e que não podemos fazer as contas com a realidade última da nossa vida, não conseguimos aceitar que a parte mais interessante da nossa existência não está em outro lugar, mas aqui, que se trata de ir ao fundo das coisas e parar de usar máscaras, parar de viver uma vida ‘teatralizada’, parar de ser hipócritas, mas se deixar alcançar verdadeiramente por uma experiência do amor de Deus que possa nos devolver a autenticidade”.
E é por isso, argumenta Epicoco, que em cada página do Apocalipse se fala, direta ou indiretamente, de Jesus: é ele, de fato, aquela luz em cuja luz podemos ver e agir em nome da verdade, da beleza e do amor que são próprios de cada existência. Esse é, no fundo, o caminho de cada homem e de cada mulher: reconhecer a natureza extraordinária do dom da própria existência ao mundo (cada vida como o fim do mundo!) e reconhecer que só tendo fé em Jesus pode-se estar à altura desse dom, e de que esse “ter fé em Jesus” nada mais é do que dizer a Jesus: “Tu és a luz dos meus olhos”; sim, aquela luz que é mencionada no fim do texto do Apocalipse.
“O amor – escreve Epicoco – faz isto: faz nascer uma luz que faz mais luz do que a luz, é a luz dos olhos, a luz dos meus olhos, uma luz que desprende quando olhamos. Normalmente, precisamos de luz para ver, mas essa é uma luz que se desprende de nós precisamente enquanto olhamos, porque é a luz do amor. Quando encontras com o amor, não precisas mais de raciocínios, nem de luz do sol, nem de luz da luz, não precisas de mais nada, porque encontraste a luz dos teus olhos”.
E é assim que este novo livro do Pe. Luigi retoma o tema central do outro do ano passado. Se buscarmos ansiosamente a luz no fundo – no fundo de muitas das nossas perguntas e esforços – essa luz é sempre a luz que se desprende em nós a partir do encontro de amor com Jesus.
Entretanto, essa é apenas uma das numerosas e fecundas sugestões oferecidas por este belíssimo ensaio de Epicoco; ensaio que, como é devidamente recordado na Premissa, é o fruto maduro de um curso de Exercícios Espirituais pregados pelo seu autor, que aqui são relatados em viva voz, em página impressa, para o bem espiritual de muitos. Estamos decididamente certos disso.