10 Mai 2021
Elas enfrentam viagens longuíssimas e perigosas para abandonar um ambiente que se tornou inóspito e sem alimentos, e chegar a outro que lhes permita viver melhor, mas mantendo sempre a promessa de retornar aos lugares onde nasceram. São as aves migratórias que unem o mundo com as suas incríveis viagens sem fronteiras. Um símbolo, porque a sua busca por um lugar melhor para morar e criar os próprios filhos também une muitos seres humanos.
A reportagem é de Anna Lisa Antonucci, publicada em L’Osservatore Romano, 07-05-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Grandes ou pequenos, sozinhos ou em companhia, as aves migratórias representam 40% das mais de 10 mil espécies de aves conhecidas. A vida deles é a dos trabalhadores pendulares, movem-se ciclicamente entre duas áreas, as de reprodução, ao norte, e as de invernada, ao sul. Na primavera, elas se dirigem ao norte para fazer seus ninhos; no outono, por sua vez, deslocam-se para o sul, para passar o inverno em lugares com climas mais quentes e acolhedores.
E isso ocorre regularmente todos os anos para abandonar um ambiente que se tornou inóspito, rumo a outro que lhes permite sobreviver com maiores probabilidades, apesar dos perigos da viagem. Com os seus deslocamentos sazonais, as aves migratórias nos lembram os ciclos da natureza. As suas viagens intermináveis sofrem com a poluição e a intervenção humana no ambiente.
A necessidade delas de um habitat natural e saudável as torna embaixadoras globais da natureza e, portanto, não apenas conectam diferentes partes do planeta, mas também reconectam as pessoas à natureza e a si mesmas como nenhum outro animal no mundo.
Por isso, o Dia Mundial das Aves Migratórias, instituído pelas Nações Unidas e que ocorre no segundo sábado de maio, não é apenas uma celebração das aves, mas é também um momento importante para refletir sobre a nossa relação com a natureza.
Neste ano, o dia tem um significado ainda mais importante, porque a pandemia, que não impediu que os pássaros continuassem cantando e voando entre os locais de reprodução, permitiu-nos – no silêncio inatural das nossas cidades, onde os deslocamentos e as atividades de milhões de pessoas foram restringidos – ouvir e observar os pássaros como nunca antes.
De fato, para muitos, o canto dos pássaros foi um conforto durante os duros meses de isolamento, conectando as pessoas entre si e com a natureza, apesar dos lockdowns.
Por isso, o tema escolhido para o Dia Mundial de 2021 é “Cante, voe e eleve-se como um pássaro”, e as milhares de iniciativas organizadas em todo o mundo têm o objetivo de sensibilizar o planeta sobre a importância de desenvolver um esforço comum para proteger as aves migratórias e o seu habitat, sem o qual elas não conseguem sobreviver.
A sua morfologia e fisiologia lhes permitem voar rapidamente e em longas distâncias. Elas são capazes de se orientar graças ao sol durante o dia, às estrelas durante a noite e pelos campos geomagnéticos a qualquer momento. Mas as suas viagens extenuantes precisam de uma série de locais ao longo da sua viagem para que elas possam parar e descansar.
Algumas espécies podem chegar a percorrer até 16.000 quilômetros duas vezes por ano, passando da Sibéria à costa ocidental da África, descendo até a ponta da África do Sul. Isso permite compreender como são essenciais os locais de escala dos quais depende a vida delas. Mas a mão do ser humano muitas vezes causa a perda de tais lugares, e isso pode ter um impacto dramático nas possibilidades de sobrevivência das aves migratórias.
Portanto, o convite ao ser humano é a se reconciliar com a natureza, ouvindo e observando a vida desses animais, cuja presença ao nosso redor, nas cidades, no campo, nos parques e jardins públicos, nas florestas e nas montanhas, nos pântanos e ao longo das praias tiveram um efeito benéfico sobre a saúde humana durante a pandemia, de acordo com os estudos desenvolvidos por ilustres cientistas.
As muitas iniciativas organizadas por ocasião do Dia Mundial pelas numerosas agências internacionais pelo ambiente, portanto, querem dar a conhecer o milagre da migração das aves, para aumentar a consciência sobre a sua importância ecológica e a necessidade de que o ser humano respeite o ambiente.
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Multilateralismo: a lição das aves migratórias - Instituto Humanitas Unisinos - IHU