11 Março 2021
Não basta distribuir soros aos países mais pobres, é preciso chegar às pessoas. Costa: “Se esta lacuna não for superada, a Covid-19 continuará a circular e a fazer vítimas”. É o elo mais fraco e vulnerável da cadeia no final do qual existe o tão esperado fim da pandemia. Se não for atendido de forma adequada (e rápida), esse anel corre o risco de se transformar em uma "lacuna mortal". Anulando os esforços para constituir uma barreira ao avanço da Covid nos países mais pobres.
Este é o alarme lançado pela Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. Não é suficiente estabelecer um sistema para levar vacinas aos países mais frágeis se o elo mais fraco – chegar efetivamente até às pessoas - se rompe ou não funciona.
A reportagem é de Luca Miele, publicada por Avvenire, 10-03-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
É um problema dentro do problema. O segundo corre o risco de amplificar o primeiro. Hoje, a grande maioria das doses da vacina foi entregue a países de alta renda. Quase 70% das doses administradas foram registradas nos 50 países mais ricos do mundo. Em contraste, apenas 0,1% das doses da vacina foram fornecidas nos 50 países mais pobres. Uma desigualdade alarmante que “pode potencialmente ter um efeito devastador na taxa de mortalidade”. Mas isso não basta. O desafio é duplo. As vacinas não devem apenas ser levadas aos países pobres. Elas devem ser realmente administradas. “Os esforços para adquirir e distribuir vacinas entre os governos - explica o presidente da maior rede humanitária do mundo, Francesco Rocca - são claramente cruciais e devem ser plenamente apoiados pelos doadores.
No entanto, não é suficiente focar apenas neste lado da equação. Iniciativas como a Covax garantem que as vacinas cheguem às pistas dos aeroportos das capitais dos países participantes. Elas são inquestionavelmente importantes. Mas devem ser complementadas por iniciativas destinadas a tirar essas vacinas do asfalto e colocá-las a disposição de todos os que delas necessitam”. O trabalho para vacinar as comunidades mais vulneráveis e isoladas continua.
No Brasil, voluntários e funcionários da Cruz Vermelha estão vacinando comunidades isoladas na Amazônia. Nas Maldivas, o Crescente Vermelho apoiou a vacinação de migrantes não registrados. O mesmo acontece na Grécia e na República Checa.
“A nossa mensagem - continua Rocca - é simples: precisamos de financiamento urgente. Sem esse esforço, uma lacuna irremediável permanecerá aberta entre quem vai vencer a pandemia e quem permanecerá vulnerável. E o vírus continuará a circular e as pessoas continuarão a adoecer e morrer”.
Leia mais
- Suspender as patentes não basta. É necessário compartilhar o conhecimento
- O importante e urgente é ofertar vacinas o mais rápido possível. Entrevista especial com Júlio Croda
- Vida acima de tudo. Carta aberta à humanidade
- AstraZeneca, os países pobres pagam o dobro
- O G7 promete vacinas para todos: “Nós vamos doá-las aos países pobres”
- Países mais ricos já acumularam mais mil milhões de vacinas do que vão precisar
- Vacina universal ou nada
- 130 países sem uma dose da vacina. A vergonha nas mesas do G7 e do G20
- Covax, a solidariedade global minada pelo nacionalismo vacinal
- Distribuição desigual da vacina contra Covid-19 “põe todos em risco”, dizem autoridades
- O apartheid das vacinas: 52% das doses para os países ricos
- “Trágico fracasso ético”. A Europa esqueceu-se da vacina para os pobres
- “Não sabemos sequer se indígenas isolados estão vivos”
- Covid-19: É possível a vacina não ser um negócio?
- A pandemia não é democrática
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Sem uma distribuição justa das vacinas não se ganha o jogo” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU