26 Fevereiro 2021
O Sínodo para Amazônia ajudou a tomar consciência da necessidade do trabalho missionário na região amazônica. O Papa Francisco lançou um forte apelo nesse sentido, algo que aos poucos vai dando frutos. Na última quarta-feira, 24 de fevereiro, chegavam em São Gabriel da Cachoeira – AM, três padres que trabalharão como missionários na diocese mais indígena do Brasil, num lugar bem recôndito, onde as distâncias dificultam a vida do dia a dia e a missão da Igreja.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Eles têm sido recebidos pela diocese “de braços e corações abertos”, segundo seu bispo. Dom Edson Damian destaca que “é interessante ver como Deus foi agindo na vida de cada um deles”, de Alair Alexandre da Silva, padre do clero da Arquidiocese de Vitória – ES, de Lucio André Pereira, padre da Diocese de Registro – SP, e o padre Luís Carlos Araújo Moraes, Missionário do Sagrado Coração, congregação que está presente na Diocese de São Gabriel da Cachoeira desde há 23 anos.
Os três chegam com sus motivações e tem criado suas expectativas. Todos eles sentiram esse chamado missionário há tempo, alguns desde o seminário, como afirma o padre Alair. Ele conhecia a Amazônia em suas visitas na Prelazia de Labrea, Igreja irmã da Arquidiocese de Vitória. Sua chegada em São Gabriel da Cachoeira, “um lugar onde eu nunca estive, um lugar onde eu não conhecia, nunca tinha passado pela minha cabeça poder estar ao serviço desta Igreja”, foi fruto de uma sugestão do Arcebispo de Vitória, dom Dario Campos, quem já conhecia São Gabriel.
Foto: Luis Miguel Modino Martínez
O padre Alair, que recebeu o convite do arcebispo como uma notícia que “caiu no coração com uma grande alegria”, chega com vontade de “conhecer as comunidades ribeirinhas, conhecer os povos indígenas, e aprender com todo esse povo, aprender a viver a vida de uma outra forma, aprender a viver a fé de uma outra forma, junto a esse povo”. Ele diz chegar, “não para trazer conhecimento, porque não é essa pretensão, mas aprender com todo esse povo”, e assim “poder crescer no meu ministério servindo ao povo mais simples, ao povo mais pobre, uma Igreja voltada para a missão, uma Igreja onde se preocupa realmente com aqueles que mais necessitam”.
Ele, que vem de uma realidade e uma Igreja completamente diferente, insiste em seu propósito de “aprender cada vez mais e estar, como diz o Papa Francisco, entre os mais simples, entre os mais pobres, buscando viver a simplicidade, buscando viver com humildade, ao serviço de Deus e também desse povo nosso tão querido, mas também tão sofrido ao longo deste país, pelos desmandos dos governos que não se preocupam tanto com quem deveriam se preocupar”. Para sua nova missão, o padre Alair pede “que Deus possa nos ajudar, nos fortalecer, para poder continuar nesta caminhada, e assim prestarmos serviço a Deus e a esta Igreja aqui às margens do Rio Negro”.
Como parte do Projeto Igrejas Irmãs entre os Regionais Sul 1 e Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, que já completou 25 anos, chega o padre Lucio André Pereira, que diz ter sido motivado pelo Sínodo da Amazônia e o convite do Papa Francisco de padres que tenham um coração despojado para a missão, para ajudar à Igreja da Amazônia. É por isso, que ele se coloca “ao serviço da Igreja de São Gabriel em tudo aquilo que ela precisar, ir ao encontro do povo, sentir a alegria, mas também sentir junto a tristeza”.
Foto: Luis Miguel Modino Martínez
O padre da Diocese de Registro tem a expectativa de “poder se alimentar da fé deste povo e junto deles alimentar esta fé”. Ele lembra de suas palavras na missa de envio, onde ele disse que “eu trabalhei de garçom, trabalhei de servente de pedreiro, trabalhei ajudando meu pai a puxar o calão da rede, na pesca, na praia”. A partir desses trabalhos, surgem suas expectativas, “ser um padre garçom que sirva a mesa do Evangelho, que sirva a mesa das pessoas como Cristo Ressuscitado, Vivo, que fortalece a vida. Também ser o servente de pedreiro que vai enchendo e mantendo a caixa de massa cheia para que o tijolinho da esperança, da alegria, seja sempre assentado. E aquele que vem para ajudar a puxar o calão da rede, junto com Dom Edson, junto com os padres missionários e missionárias, que aqui já estão. Minha expectativa é realmente se colocar ao serviço desta Igreja”.
As motivações do padre Luís Carlos Araújo Moraes, MSC, tem a ver com o carisma da sua congregação, que lhe chama a “de alguma forma poder contribuir a partir daquilo que reza o meu carisma, que é o carisma da misericórdia, da compaixão, da acolhida, da escuta, do respeito, pelas pessoas, pelas realidades, pelas culturas”. O religioso, que diz ser a primeira vez que vai trabalhar numa realidade tão específica, São Gabriel da Cachoeira é tido como o município mais indígena do Brasil, vê isso como “uma riqueza muito grande”, afirmando “poder me orgulhar nesta realidade que, por outro lado me leva a mergulhar nas minhas origens indígenas, no meu ser brasileiro”.
Ele, que também se diz tocado pelo pedido do Papa Francisco para uma maior sensibilidade com os povos amazônicos, também quer, a partir daquilo que ele é, com suas riquezas e limites, “ser esse coração de Deus para as pessoas, na proximidade, na escuta, no serviço gratuito”. Movido pelo Evangelho, do qual quer ser expressão, o religioso quer “poder aprender, soltar a minha experiência anterior para abrir a minha mente, o meu coração para aprender algo novo, para beber dessa fonte que aqui está”, uma fonte desconhecida que espera o ajude a poder crescer, a poder olhar um horizonte novo, se sentido diante de “uma folha em branco para escrever uma nova história, um novo momento, com as pessoas deste lugar”.
Foto: Luis Miguel Modino Martínez
Ao falar sobre as expectativas, ele espera ser um “com todas as pessoas que de alguma maneira entregam as suas vidas a serviço desta diocese”. O missionário espera poder “ser mais um para somar, entrar nessa ciranda da vida, como nos mostra o tema da Campanha da Fraternidade, essa ciranda que está aberta e eu chego para somar”. Ao mesmo tempo, ele espera “aprender a caminhar com os que aqui estão, que eu possa contribuir de alguma maneira”, sendo assim “mais um ingrediente na missão, com meu jeito próprio de ser, que se junta a outras vidas de missão”.
Dom Edson Damian agradece aos bispos que enviaram os missionários, que ele considera amigos, “que conhecem a nossa realidade e tem sensibilidade missionária para atender ao apelo de seus padres que querem vir para cá”. Também agradece à congregação dos Missionários do Sagrado Coração, que atendem a paróquia maior de São Gabriel da Cachoeira, que abrange toda a periferia desta cidade que vai crescendo muito. Tudo isso é motivo, em palavras do bispo, para “agradecer a Deus, aos bispos que que enviam esses missionários, e mais ainda a disponibilidade desses irmãos que vêm aqui para assumir a missão que Deus lhes confia”.
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Três missionários chegam em São Gabriel da Cachoeira, mais um fruto do Sínodo da Amazônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU