09 Fevereiro 2021
Dos 5.570 municípios brasileiros, 3.280 (seis em cada dez) não contam sequer com um veículo jornalístico – jornal, site, blog, emissora de rádio ou de TV – deixando 33,7 milhões de brasileiros e brasileiras sem informações locais. É o que mostra a quarta edição do Atlas da Notícia, divulgado na quarta-feira, 3 de fevereiro.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
O Nordeste deixou de ser a região brasileira com a maior proporção de desertos de notícias, passando a primeira posição para a região Norte (69,8% dos municípios sem veículos de informação local). Ainda assim, o Nordeste tem 66,3%, ou seja, de seus 1.794 municípios 1.189 não contam com fontes jornalísticas locais. O Rio Grande do Norte é o Estado com maior proporção de desertos de notícias: dos seus 167 municípios, apenas 24 (14,4%) contam com esse serviço à comunidade.
Na outra ponta destaca-se o Centro-Oeste, com 1.898 empresas jornalísticas, como a Região que apresenta a menor concentração de desertos noticiosos, com destaque para o Mato Grosso, que apresenta a maior quantidade de veículos por habitantes dentre todos os Estado brasileiros: 24,73 empresas jornalísticas para cada grupo de 100 mil habitantes. Ainda assim, 31,9% dos municípios da região entram para a estatística dos desertos de notícia.
O Mato Grosso do Sul aparece em segundo lugar no ranking nacional dos estados com menor quantidade de desertos noticiosos, com 11,4%, ficando atrás apenas do Rio de Janeiro, que tem 9,8% de municípios nesta situação.
A importância da atuação de veículos locais ficou patente no Norte brasileiro. “A cobertura da imprensa foi fundamental para denunciar situações decorrentes do colapso (no Estado de Amazonas), como a crise na rede de saúde e os ‘fura-filas’ da vacina”, anota a jornalista Jéssica Botelho, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil e colaboradora do Atlas da Notícia.
Pará e Amazonas têm o maior número de veículos da Região Norte, com 440 fontes noticiosas locais. Mas a quantidade de desertos de notícia é alarmante: 314 dos 450 municípios da região não têm qualquer veículo jornalístico. Em 2020, o Pará completou 15 anos como o estado mais desmatado do Brasil. “A desertificação na Amazônia se dá também pela insuficiência e fragilidade da imprensa local cobrindo a agenda ambiental”, aponta Jéssica.
Sem surpresas, a região Sudeste tem duas de suas capitais entre as três cidades do país com o maior número de veículos jornalísticos. São Paulo tem 851 meios de comunicação ativos, em terceiro lugar vem o Rio de Janeiro, com 272 (Brasília é a segunda cidade). Um em cada cinco dos 4.517 veículos jornalísticos da região têm contas em redes sociais. Ainda assim, 967 (60,6%) dos municípios do Sudeste não têm sequer um veículo jornalístico ativo.
O Sul aparece com 3.315 veículos jornalísticos - 25% do total do Brasil, e soma 14% da população brasileira. Santa Catarina desponta em quarto lugar nacional, com 14,7 veículos para cada 100 mil habitantes, seguido do Rio Grande do Sul, em quinto lugar, com 13,6 meios por 100 mil. O Paraná dispõe de 12,1 veículos por 100 mil, ficando em sétimo lugar no país.
Em termos absolutos, o Rio Grande do Sul lidera em quantidade de veículos na região Sul, com 1.283, seguido pelo Paraná, com 1.160, e Santa Catarina, com 872. Apesar desses números, 699 municípios sulistas (54,5%) engordam a estatística dos desertos de notícias brasileiros. E é, proporcionalmente, a Região que mais concentra veículos impressos no país (33% do total), vindo em seguida o Sudeste (com 31%). Em contrapartida, o Sul é a região que tem menos iniciativas digitais, com apenas 28%, índice abaixo do Nordeste, que tem 43%.
Em relação à terceira edição do Atlas, de 2019, o Brasil diminuiu em 5,9% os desertos de notícias, o que se deve à implementação de mais veículos voltados ao jornalismo digital. Em grande parte “são sites com um, dois jornalistas, redações pequenas, em que seguir os protocolos de apuração, compromissos éticos, é muito desafiador”, comentou Angela Pimenta, diretora de operação do Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor), entidade que coordena o levantamento.
O Atlas não considera jornalísticos e exclui do estudo veículos editados oficialmente, como sites de Câmaras ou ligados a igrejas e a partidos políticos. Para a edição deste ano, o Atlas mapeou 13.092 veículos jornalísticos em atividade no Brasil. Apontou o fechamento de 272 veículos e incorporou à base 1.259 veículos, dos quais 1.170 são digitais.
A pandemia impactou a circulação de jornais impressos e o funcionamento de redações. Mas também há registros do oposto. O mais antigo jornal em circulação da América Latina, o Diário de Pernambuco, com sede em Recife, suspendeu as edições em papel em maio de 2020, mas retornou, no mês seguinte, em novo formato, conhecido como “berlinense”, que vem a ser um pouco maior que o tabloide.
Depois de três anos de paralisação, o Jornal Tendência do Estado, fundado em maio de 1994, voltará a circular no norte do Mato Grosso do Sul. Ele terá uma tiragem de cinco mil exemplares e será impresso na cidade paulista de Fernandópolis, a 410 Km da sede do jornal, a cidade de Costa Rica. No Rio, o jornal Voz das Comunidades será relançado, com uma tiragem de dez mil exemplares distribuída aos morados das comunidades do Complexo do Alemão e da Penha.
O Atlas da Notícia, define o presidente do Projor, Francisco Belda, “é uma espécie de censo da imprensa local brasileira”. A pesquisa é patrocinada desde 2018 pelo Facebook Journalism Project e conta com a colaboração da Agência Nacional de Jornais (ANJ) e escolas de Jornalismo das cinco Regiões brasileiras. A pesquisa da quarta edição foi realizada entre setembro de 2020 e janeiro de 2021.
Um resumo do Atlas da Notícia 2020 pode ser buscado aqui.
A versão detalhada e comentada, por regiões, está depositada aqui.
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Desertos de notícias diminuem no país, mas número ainda é elevado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU