08 Fevereiro 2021
"A vida religiosa também precisa de cuidados, diferente do que muita gente pensa, ela não dá superpoderes àqueles que são ordenados ou consagrados. E, às vezes, é o que se espera (ou exige) de um religioso: 'superpoderes'”, escreve o Wállison Rodrigues, padre, formador do Seminário Maior da Diocese de São Luís de Montes Belos, bacharel em Filosofia pelo Instituto Santa Cruz/Goiânia e graduado em Teologia pela PUC Goiás e especializando em Liturgia Cristã, pela Faculdade dos Jesuítas, em Belo Horizonte-MG.
A vida religiosa também precisa de cuidados, diferente do que muita gente pensa, ela não dá superpoderes àqueles que são ordenados ou consagrados. E, às vezes, é o que se espera (ou exige) de um religioso: “superpoderes”.
É difícil conviver com situações da vida em que a fé não seja forte suficiente para dar suas respostas, nem mesmo àqueles que são chamados de “guardiões da fé”.
É possível andar pelos corredores das igrejas e conventos e sentir o eco de várias realidades:
O uso contínuo de remédios para dormir (principalmente em pessoas jovens/seminaristas e noviços/as), a falta de paciência, a tristeza e as desmotivações, as antecipações de frustrações antes de iniciar algum trabalho, o sentimento de rejeição ou culpa diante da comunidade, a impotência diante das crises, as desconfianças, as síndromes de pânico, a dependência de pessoas (ou apadrinhamentos), as fugas ou rejeição de qualquer autoridade e, ao mesmo tempo, a criação de dependência em outros meios, a administração autoritária e cega, entre outros.
Casos de ansiedade, depressão ou estresse cresceram muito, principalmente neste ano de pandemia.
Há um grau de exigência muito grande em que se cobram exemplos e se instituem muitas condutas - consagrando o inconsagrável-, quando, muitas vezes, há somente há a vontade da pessoa de ser ela mesma - “ser eu mesmo”.
Os religiosos também sentem dores, angústias, tristezas, necessidade de afeto, necessidade de privacidade... há ministérios saturados de críticas e julgamentos.
Deles se exige serviço integral, dedicação por 24hs, muitas vezes, de domingo a domingo, não se importando se estão tristes, cansados, doentes ou angustiados.
Nos últimos anos, registrou-se muitos casos de suicídio dentro da vida religiosa...
O que fazer?
Até quando não refletir sobre isso?
Muitas pessoas, dentre eles, os "coach da fé", acreditam que a saída para essas situações é a super-citação de documentos apostólicos, versículos bíblicos, fórmulas de oração, palavras motivacionais... enquanto muitos religiosos somente querem ser escutados, acolhidos, entendidos... muitas vezes, diante do excesso de trabalho, da falta de lazer e da perda da motivação ou da esperança.
Diante da humanidade que carregamos há discursos de superação, de sublimação ou até de ressignificação do que não é ressignificável... HUMANIDADE NÃO SE SUPERA, HUMANIDADE É ASSUMIDA! É assumida, encarnada...
Como passar formulários de orações para quem já perdeu o ânimo de rezar?
Procurar ajudar ajuda é perceber que essa não é a única receita.
Atualmente, há grandes profissionais que diante dessas mentes e emoções cansadas/doentes são verdadeiros “agentes de humanização”, outros até mesmo agentes de “absolvição não sacramental”, que muito colaboram com a saúde mental. Há religiosos, religiosas e padres (contando também com os seminaristas/noviços/as), que são diagnosticados de estresse, ansiedade ou depressão - e, que são ótimas pessoas, excelentes religiosos/as, mas não aqueles super-heróis e precisam de cuidados.
Jamais conseguiremos cuidar e pastorear os outros se não estivemos bem conosco mesmos - “amar a si mesmo”. Acredito, que de modo lícito e correto, tendo como único filtro Jesus e o Evangelho, é possível cuidar do espírito, da alma e do corpo. Que tal deixar ser ajudado por quem entende do assunto?
Mentes saudáveis evangelizam melhor!
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Janeiro branco: a vida religiosa também precisa de cuidado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU