28 Janeiro 2021
"Em tempos tão amargos, assinalados por sucessões de dissabores, o legado de Thomas Merton, como bem pontua J. C. Ismael, 'merece ser relembrado pela geração que o amou e conhecido pela que o ignora'. Que o fenômeno que emana da vida-obra-exemplo do monge trapista, e que nos irmana em torno de Cristo, seja o convite ao baile da grande dança cósmica, que culminará quando a vastidão de todo Universo ouvir o eterno refrão: 'o Amor venceu, o Amor é vitorioso'", escreve Cristóvão de S. Meneses Júnior, presidente da Associação Thomas Merton.
O signo de Aquário e o “último dia de janeiro” nos lembram que já demos 106 voltas em torno do sol desde aquele 1915, ano de grande e inútil guerra. Foi neste tempo-espaço, “debaixo das sombras de certas montanhas francesas”, na pequenina Prades, em uma casa na esquina da Rue du 4 Septembre com a Rue du Palais-de-Justice, que ecoou o choro do primeiro filho do casal de artistas Ruth e Owen: Thomas James Merton.
Signo. Guerra. Montanha. Esquina: palavras- chaves que delineiam o perfil do aniversariante do dia. O que virá a ser este menino? Quem parará esse jovem? Como ele se tornou um Homem Novo?
Há décadas que lemos e relemos os livros de Merton, familiarizando-nos com o poder do seu intelecto e dom literário, num encantamento com sua vida interior intensa e ardorosa, e humanizados com suas contradições. É o absurdo e a Graça personificado: sua infância – juventude – vida adulta é um vórtice catalisador de todos os que olham para dentro de si e buscam verdadeiramente a Deus.
Este silencioso profeta do claustro chamou a atenção do mundo, escrevendo sob os mais diversos assuntos, se antecipando em questões imprescindíveis no âmbito social e eclesial. As suas Novas Sementes de Contemplação, por exemplo, plantaram na Igreja o chamado universal à santidade, intenção ratificada e atualizada pelo Papa Francisco com a Gaudete et Exsultate (2018). Seu movimento desbravador no diálogo com outras tradições religiosas e as críticas ao consumo da sociedade capitalista reverberam na Evangelii Gaudium (2013). O reconhecimento formal do Sumo Pontífice ao “americano extraordinário” se daria no histórico discurso que fez no Congresso dos Estados Unidos em setembro de 2015, quando assinala que Thomas Merton “continua a ser uma fonte de inspiração espiritual e um guia para muitas pessoas.”
A alegria de celebrar Thomas Merton é, para uma legião de admiradores, uma entusiasmada oportunidade de dar Graças ao Senhor pelas pistas encontradas em seus livros para um caminho espiritual diferente: a oração deixa de ser uma técnica rígida ou prática devocional estática; em vez disso torna-se uma maneira amorosa de permanecer na presença de Deus e de ser uma só substância com Sua Vontade.
Nota-se no Brasil uma nova geração de leitores encantados e, por conseguinte, interessados na mensagem do monge trapista. Eis o segredo: Merton possuía um dom em que se excedia: o de causar no leitor o sentimento de proximidade e identificação, nos fornecendo a chave de seu próprio progresso espiritual – que também é nosso: o Amor como nosso verdadeiro destino, que deve ser revelado por Aquele que amamos!
A experiência atualmente desenvolvida pela Associação Thomas Merton no país, e também em Portugal, de fomentar grupos de leitura através de videoconferência deu alento à vida espiritual de algumas dezenas de pessoas isoladas pela pandemia. Os testemunhos e partilhas em cada reunião denotam a profundidade e a gratidão ao mentor espiritual: “Thomas Merton ilumina meus passos em direção ao meu propósito na vida”; “Ele possui uma visão moderna do cristianismo”; “Merton representa um farol para um barco há muito perdido numa tempestade escura...”; “Fui totalmente tocada pela inquietude dele”; “Merton representa uma espiritualidade que traduz o Mistério para a linguagem da alma”; “Ele é o ícone do ser humano enraizado em Deus”; “É a abertura de coração e mente que me encanta em Thomas Merton”; “Merton representa para mim um mestre espiritual contemporâneo conhecedor das realidades profundas do ser humano e sensível ao mistério transcendente”; “Merton representa para mim uma clareira na densa agitação da vida contemporânea”; “Representa o Espírito de Deus soprando tempos de mais espiritualidade e menos igrejismo... mais silêncio trancado no meu quarto e menos aleluismo... mais escuta de Deus e menos mundanismo desviante da única coisa que importa.”
Em tempos tão amargos, assinalados por sucessões de dissabores, o legado de Thomas Merton, como bem pontua J. C. Ismael, “merece ser relembrado pela geração que o amou e conhecido pela que o ignora.”
Que o fenômeno que emana da vida-obra-exemplo do monge trapista, e que nos irmana em torno de Cristo, seja o convite ao baile da grande dança cósmica, que culminará quando a vastidão de todo Universo ouvir o eterno refrão: “o Amor venceu, o Amor é vitorioso.”
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A alegria de celebrar Thomas Merton - Instituto Humanitas Unisinos - IHU